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Próstata: Hospital de São João ensaia tratamento inovador a nível mundial

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Próstata: Hospital de São João ensaia tratamento inovador a nível mundial

Porto, 12 Mar (Lusa) - O Serviço de Urologia do Hospital de S. João, no Porto, está a desenvolver, há cerca de um ano, um tratamento inovador a nível nacional da doença da próstata que consiste na aplicação de uma injecção de botox naquele órgão glandular.

O tratamento, que ainda se encontra em fase de estudo clínico, consiste na aplicação de uma injecção de toxina botulínica através de um processo "extremamente simples" e "indolor" para o doente, garantiu hoje em declarações à agência Lusa o director do Serviço de Urologia do S. João, Francisco Cruz.

O tratamento à hiperplasia (hipertrofia) da próstata ocorre durante a realização de uma vulgar ecografia e não implica internamento.

"O que fazemos é injectar a toxina botulínica, uma substância que reduz em média cerca de 30/40 por cento do volume da próstata, que se mantém estável durante cerca de um ano", disse o especialista, referindo que o efeito é visível cerca de um mês depois.

Francisco Cruz explicou que ao aparelho da ecografia é acoplada uma agulha muito fina que permite injectar a substância na próstata, sem qualquer tipo de anestesia.

"O doente não sente rigorosamente nada. O incómodo é apenas o de fazer uma ecografia transrectal", acrescentou.

A hiperplasia da próstata, uma doença benigna caracterizada por um aumento do volume daquele órgão glandular, afecta globalmente todos os homens desde que atinjam uma idade avançada.

Ou seja, explicou o clínico, "quem envelhecer e tiver testículos vai ter doença prostática. Isto é válido para os homens de todo o mundo".

Exceptuou, apenas, os daqueles países onde a esperança de vida é muito reduzida.

"Na Libéria não há hiperplasia da próstata, porque a esperança de vida é de 35 anos. É precisamente esta a idade em que a doença começa a desenvolver-se", frisou Francisco Cruz, considerando a doença como "um grande problema de saúde pública".

Na entrevista à Lusa, Francisco Cruz e Paulo Dinis, director e chefe do Serviço de Urologia do Hospital de S. João, respectivamente, disponibilizaram números que apontam para que "aos 50 anos, cerca de 30 por cento dos homens tenham queixas urinárias decorrentes desta doença".

A percentagem sobe à medida que a idade avança.

De acordo com os mesmos dados, "aos 80 anos, 75 por cento das pessoas têm queixas e um décimo dos idosos, entre os 70 e os 75 anos, vão entrar em retenção urinária".

"Estes, inevitavelmente, vão ter de ser operados", frisaram os médicos.

O Hospital de S. João do Porto é um dos "três ou quatro" centros a nível mundial que já aplicam a toxina botulínica no tratamento da hiperplasia benigna da próstata.

Num primeira fase do estudo clínico foram seleccionados, após autorização da Comissão de Ética do hospital, doentes que se encontravam na fase final da doença, já algaliados, e com outros problemas de saúde associados que, devido à sua gravidade, inviabilizavam ou tornavam muito arriscada a cirurgia.

"Injectamos a toxina e 80 por cento deles ao fim de um mês estava a urinar autonomamente. Estamos entusiasmadíssimos, porque os resultados são espantosos", disse Francisco Cruz.

O especialista realçou que a toxina foi utilizada "em doentes que não tinham outra alternativa".

Os responsáveis pelo Serviço de Urologia citaram o caso de sucesso de Alfredo Paraíso, 60 anos, que sobrevivia desde há alguns anos com um dreno ligado à bexiga, uma vez que a "doença pulmonar gravíssima" de que padece impossibilita a realização da intervenção cirúrgica à próstata.

Em declarações à Lusa, Alfredo Paraíso, contou que o seu maior "desgosto" era ter de andar sempre com o "saco".

"Ganhava muitas infecções, era uma atrás da outra. Foi por isso que desistiram da algália e me colocaram o dreno, mas quando me tiraram os tubos foi uma sensação muito boa", confessou.

Apesar de muito limitado na sua vida devido à doença pulmonar, Alfredo Paraíso, considera que o tratamento lhe provocou uma "grande alívio".

"Era o que eu mais queria", frisou.

Francisco Cruz explicou que obter uma micção espontânea representa "uma diferença incomparável em termos de qualidade de vida, além de que uma pessoa algaliada a longo prazo tem um risco de morte várias vezes superior à população em geral".

O estudo, que na primeira fase abrangeu 21 doentes, foi publicado na revista da Associação Europeia de Urologia, considerada a mais prestigiada em todo o mundo nesta área.

Foi classificado como "o melhor e mais significativo artigo do mês de Janeiro".

A segunda fase do estudo vai incidir em doentes que estão refractários ao tratamento médico, ou seja, doentes que estão a tomar comprimidos, mas já não estão a responder à terapêutica.

"Estamos a fazer a selecção dos doentes e, provavelmente para aumentar o número, iremos realizar o estudo em combinação com o Hospital de Valência (Espanha)", disse Francisco Cruz, salientando que a vantagem desta colaboração é, com os mesmos critérios, alcançar resultados mais rápidos.

Trata-se, segundo os especialistas, de uma terapêutica muito inovadora, que se vier a ser introduzida tem uma vantagem económica clara em relação, por exemplo, ao preço gasto em comprimidos diários.

Contudo, salientam Francisco Cruz e Paulo Dinis, a autorização de um medicamento é um processo lento que obriga a determinados passos.

Neste caso, os especialistas estimam que esta fase de estudo clínico e experimental se prolongue por "cerca de cinco anos".

A toxina botulínica foi descoberta no século XIX porque provocava a morte de pessoas que comiam enchidos que estavam infectados pela bactéria clostridium botulinum.

A toxina botulínica é um veneno mortal e uma arma biológica, cuja utilização chegou a ser ponderada pelos estrategas da segunda Guerra Mundial.

"Um miligrama dá para matar milhões de pessoas", frisou Paulo Dinis.

Tal como todos os medicamentos, tem uma margem terapêutica.

Inicialmente desenvolvido como um veneno, a habilidade humana transformou-o num medicamento com "potencialidades inacreditáveis".

O seu interesse advém, não apenas por se ter revelado eficaz no tratamento de doenças neurológicas - para as quais não existia qualquer alternativa - pelo número de potenciais novas indicações clínicas, mas também pelo facto do seu desenvolvimento ter sido realizado essencialmente por iniciativa académica.

Apesar de mais conhecida pela sua utilização para obter efeitos estéticos o botox foi inicialmente estudado em doentes com estrabismo.

A sua utilização estende-se actualmente ao tratamento de uma extensa lista de doenças.

PM.


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