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Cinema: Manuel de Oliveira não teme a morte e confessa que em criança chegou a pensar

sabata

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Ago 20, 2007
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O cineasta Manoel de Oliveira afirmou hoje, na apresentação da exposição sobre a sua vida e obra que abre sábado no Museu de Arte Contemporânea de Serralves (MACS), no Porto, que a morte não o assusta e confessou que em criança chegou a pensar no suicídio.

"A morte não me assusta, assusta-me muito mais a vida. Ninguém nasce por vontade própria. Em miúdo cheguei até a pensar no suicídio", afirmou o cineasta

"É na vida que se encontram todas as maldades do mundo. A morte é o descanso", acrescentou.

O cineasta, que em Dezembro completa 100 anos, afirmou que a maior prenda que lhe podem oferecer neste ano em que se comemora o seu centenário é, mais que todas as homenagens e distinções, que o deixem continuar a fazer filmes.

"Eu entendo que a gente morre quando deixa de trabalhar, deixar de trabalhar é morrer e se me tirarem o cinema morro", afirmou.

O cineasta afirmou-se "perplexo" com a exposição que o MACS montou em sua homenagem, constituída no essencial por excertos dos seus filmes, embora contenha também uma componente documental.

"Fico perplexo! Todos estes filmes não me parecem meus e os actores parecem-me todos fantásticos, desde os meninos do "Aniki-Bobó", aos camponeses que actuam em "A Caça", até ao Marcello Mastroianni, o Luís Miguel Cintra, a Catherine Deneuve ou a Bulle Ogier dos filmes mais recentes", afirmou.

Para o realizador, os actores do "Aniki-Bobó" e de "A Caça", amadores, têm "a grande qualidade dos grandes actores: eles não têm técnica, não sabem representar e não representam, vivem os papéis".

Quanto às suas inquietações sobre o futuro, Manoel de Oliveira preocupa-se com "a evolução técnica, que por vezes atropela o trabalho do realizador e do conjunto de artistas que fazem o cinema".

O cineasta expressou-se em termos muito elogios quanto à acção de João Bénard da Costa, que estava presente, à frente da Cinemateca Portuguesa, instituição cuja função considera muito importante para o cinema porque guardam a sua memória e introduzem a história da Sétima Arte às gerações jovens.

"A memória é fundamental e as cinematecas guardam a memória dos irmãos Lumière, que trouxeram o realismo para o cinema, de Georges Méliès, que contribuiu com a linguagem poética e com a imaginação, e de Max Linder, que introduziu a comicidade", afirmou.

Para Manoel de Oliveira a identidade é a principal riqueza de qualquer artista.

"Veja-se, por exemplo, os pintores do Renascimento: eles pintavam todos as mesmas coisas, a realidade do momento, cenas da vida quotidiana, as lutas e batalhas, a Virgem Maria, Cristo. No entanto, os seus quadros são todos diferentes, porque a qualidade principal de cada artista está na sua personalidade, a sua identidade transmitida para cada obra", afirmou.

O Museu de Arte Contemporânea de Serralves inaugura sábado a primeira grande exposição realizada em Portugal sobre a obra de Manoel de Oliveira, iniciativa integrada nas comemorações do centésimo aniversário do cineasta.

A exposição, comissariada por João Fernandes, director do Museu de Serralves, e por João Bénard da Costa, director da Cinemateca Portuguesa, apresenta excertos dos filmes de Oliveira, constituindo a primeira grande ocasião para todos os públicos conhecerem a sua obra.

A mostra será acompanhada, a partir de Setembro, por um ciclo de cinema, no Auditório do Museu de Serralves, com todos os filmes que Manoel de Oliveira realizou até ao momento.

A mostra está organizada num percurso que passa pelos temas fundamentais na obra de Oliveira, nomeadamente os relacionamentos entre o Teatro e o Cinema, e o Cinema e a Literatura, a acção dos serviços de Censura de Salazar, ou a relação do cineasta com Portugal, terminando com um olhar sobre o Porto da infância do realizador.

Um sector da mostra inclui diversificada documentação, como cartazes, fotografias, "stills" (fotografias tiradas a partir de fotogramas dos filmes), desenhos preparatórios e outros materiais, tais como utensílios, câmaras, adereços e cenários que o realizador utilizou nas suas películas.

João Fernandes referiu que, em vez do clássico catálogo de exposição, será editada uma revista em três números, com uma caixas para os acondicionar.

"É uma forma de homenagear as revistas de cinema que permitiam prolongar a fruição dos filmes através da sua discussão posterior", disse João Fernandes.

Esta publicação funcionará também como ferramenta teórica de reflexão sobre a obra de Manoel de Oliveira, já que contará com as contribuições de reputados especialistas das várias áreas focadas pelo seu cinema, da literatura ao teatro e às artes visuais.

A exposição contará com um programa de actividades paralelas, nomeadamente um ciclo de cinema dedicado a Manoel de Oliveira, previsto para Setembro, em datas a anunciar.

O programa prevê ainda o seminário "Manoel de Oliveira: O moderno paradoxal", entre 07 e 10 de Outubro, e a realização de um Simpósio Internacional dedicado à obra do cineasta, em data a anunciar.

Estão ainda previstas visitas guiadas à exposição a cargo de especialistas, nomeadamente João Bénard da Costa e João Fernandes (24 de Julho), João Fernandes (09 de Setembro), Eduardo Paz Barroso (25 de Setembro), Luís Miguel Cintra (05 de Outubro) e António Preto (14 de Outubro).

Haverá visitas guiadas aos sábados às 17:00 e aos domingos às 12:00, a cargo da equipa do Serviço Educativo.

PF.

Lusa/Fim
 
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