• Olá Visitante, se gosta do forum e pretende contribuir com um donativo para auxiliar nos encargos financeiros inerentes ao alojamento desta plataforma, pode encontrar mais informações sobre os várias formas disponíveis para o fazer no seguinte tópico: leia mais... O seu contributo é importante! Obrigado.

Lenda Da Senhora Aparecida

xatux

GF Ouro
Membro Inactivo
Entrou
Set 30, 2007
Mensagens
1,918
Gostos Recebidos
0
LENDA DA SENHORA APARECIDA

Pelos meados de Agosto, é tempo de romaria e festa da Senhora da Aparecida. Aí pelo ano de 1823, no adro de Nossa Senhora da Conceição mão se sabe como, alguém descobriu a Imagem de Senhora Aparecida. Sabe-se que a descoberta foi precedida de estranhos sinais que não paravam de chegar do céu em direcção à entrada de uma antiga mina seca que ficava ali no mesmo sítio do adro.
Essa mina servia de abrigo a um simpático eremita, cuja origem ninguém conhecia, mas que era estimado por todos. Pelos animais e pelas crianças que, encantadas se sentavam ao seu redor a escutar histórias lindas e de sonhar...
Assim corriam os anos até que um dia alguém estranhou o seu desaparecimento. Talvez tivesse ido mais longe nas suas voltas, a algum povo distante mostrar um oratório pequeno que sempre levava consigo, com a Imagem da Virgem Maria. Mas não voltou mais... até que os tais sinais, relâmpagos certinhos e estrelas que caíam na boca da mina, levaram os fregueses e o pároco a pensarem que algo se passava na tal mina. Foi só escavar um pouco e logo apareceram os trapos do ermitão juntos com a bela Imagem, Aparecida pois claro!



Quando e como teria vindo parar, há séculos, aos povoados de S. Fins do Torno, um venerando velhote ermitão, muito bondoso, de gestos suaves e amigos, todo ele digno de figurar num painel alusivo à vida do Nazareno?...
Com vestes e rosto de pescador, galileu. Seus olhos meigos animavam o falar, brando, cadenciado. Reza a tradição que a todos amava, de modo especial os velhinhos e as crianças. Até para os animais domésticos tinha carinhos excessivos, fazendo crer que se tratava de alguém enviado para fazer o Bem.
Diziam que este velho misterioso era estrangeiro. Se ele o era não se soube. O que se sabe é que nestes sítios e redondezas distantes ninguém lhe conhecia a origem. Francês? Italiano? Espanhol?
Ficaram para sempre as nuvens da dúvida. Nos falares o homenzinho proferia palavras avessas à nossa linguagem. Entre latim e outros idiomas, nem sempre o compreendiam. Os mais tenros de idade e os mais tardos do miolo o teriam por louquinho...
Para mais vivia de esmolas, invocando para os benfeitores a protecção duma santinha que dava a beijar aos pequerruchos e ao mulherigo. Dormitava, por óbulo de Deus, numa lura abandonada e enxuta do monte da Conceição, onde hoje se ergue a Ermida da Senhora da Aparecida. E para conseguir umas migalhas de broa trigueira, uns farrapos de linho grosso, coitadinho do ermitão, era certo e sabido encontrá-lo cansado e exausto, ao fim da tarde, a murmurar o seu breviário de orações estranhas, misteriosas. A par do alforge a santinha pequenina e bela.
Vivia como lírio, do vale ou avezita do monte. Ninguém o importunava nem ele a alguém. Se se desviava da aldeia lá voltava a ela em busca do ninho tão pobre de conforto. Mas um dia, toda a gente se convenceu que o ermitão tomara outro rumo. E consigo levara a sua santinha, então já milagrosa, pois sarara um doente, que estava a morrer de todo.
O santo ermitão caíu dentro em pouco no esquecimento. Só volvidos muitos anos tornou a beliscar a memória dos contemporâneos aquele personagem singular que orava a todo o momento e por todas as carreiras do Torno.
O monte da Conceição é visto com fulgores estranhos. Do céu baixavam estrelas cadentes e riscos luminosos. Em maré de trovoada todo o monte é alvo e atracção de quantos curiosos se poderiam imaginar. Grande mistério afligia e acicatava a alma crente e simples de quem vivia o acontecimento.
Propósito de descoberta? Obra do acaso ?
Ao mexerem na lura, no antigo abrigo do ermitão, deu-se o imprevisto : na terra solta, de mistura com fragmentos de louças e carvão, surgia mais radiosa que nunca a imagem que o eremita dava a beijar.
Era a Nossa Senhora Aparecida, muito pequenina, com o seu manto azul e o seu menino risonho.
Bimbalharam os campanários a festejar tão rico achado. E de todo o Alto Minho e arribas do Douro vieram devotos ajoelhar, cumprir promessas, rogar favores.
A senhora d’ aparecida
Mora debaixo do adro.
Eu hei-de dar-lhe uma prenda
Se me livrar de soldado...
Já lá vão cento e vinte cinco anos após o festivo encontro. Depressa se congregaram esforços, sem delongas se levantou airosa ermida. Continuaram as solicitações à Virgem, mantiveram-se as homenagens à pequenina imagem – rico tesouro a encorajar o progresso e o bairrismo da povoação.
Em nada nos admira fé tão viva, amor tão firme, pago, afinal, pela presença da Senhora Aparecida que não quer outro tarrão para sua morada...
Deixemos falar as loas, os cantares, as toadas de serão, pedacinhos da alma agradecida. Os velhotes, ao lado rancho galhardo e barulhento mal reparam na intenção:
A Senhora d’ Aparecida
É madrinha do meu bem.
Eu também sou afilhado
Do menino que ela tem.
Romaria, Arcos. Bandeiras. Bandolins a voar. Tamboreiros e foguetes. Alegria às catadupas. E vão chegando romeiros. Os admiradores de cavalicoques e alimárias têm onde escolher. Não é doutra coisa a feira. Um frenesim, uma animação, coroada pelo sussurro ululante de quem se diverte, das fusas musicais... e das goladas do rascante que faz destemperar os mais sisudos.
O arraial estende-se por três dias pegadinhos. O adro é pequeno para tanta gente. Os fieis, um a um, o Manel e a Maria, entram na Ermida reverentes:
A Senhora d’ Aparecida
S’ tá em cima do andor,
Coberta com o seu manto,
Não tem frio nem calor.
E o andor grande, um colosso, aos ombros de mais de cinco dúzias de latagões, fazendo remoinhar a festança. Andor assim, onde se via?
No Domingo, ainda há festa. Ao fim da tarde partem romeiros para todas as bandas. Uns para o Basto, outros para as vertentes de Vizela, muitos para aquém de Lousada. Com a Virgem e o Santuário ficam só os briosos festeiros,
Adeus ó Vila Real,
Adeus estrada seguida;
Adeus, ó torre de mouros
Da Senhora Aparecida.


 
Última edição:
Topo