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Nau

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Nau


Nau é o sinónimo arcaico para navio, nave ou barco de grande porte destinado a longos percursos. Em vários documentos históricos a nau surge com a denominação de nave (do latim, "navis"), termo utilizado quase sempre entre 1211 e 1428. Opõe-se-lhe o termo embarcação, aplicado a barcos de menores proporções, utilizados em percursos pequenos.

Durante a época dos Descobrimentos, houve uma evolução dos tipos de navio utilizados. A barca, destinada à cabotagem e pesca, era ainda utilizada ao tempo de Gil Eanes, quando, em 1434, dobrou o Cabo Bojador, e seria sucedida pela caravela.

Concretamente, na Baixa Idade Média, mais precisamente entre o século XIII e a primeira metade do XV, as naus, ainda tecnicamente longe daquilo que seriam nos Descobrimentos, serviam essencialmente para transportar mercadorias que provinham dos portos da Flandres, no Norte da Europa, para a península Itálica, no Mar Mediterrâneo, e vice-versa.

À época de Fernando I de Portugal as naus desenvolveram-se em termos náuticos e multiplicaram-se de forma assinalável em Portugal. Devido à pirataria que assolava a costa portuguesa e ao esforço nacional de criação de uma armada para as combater, as naus passaram a ser utilizadas também na marinha de guerra. Nesta altura, foram introduzidas as bocas-de-fogo, que levaram à classificação das naus segundo o poder de artilharia: naus de três pontas (100 a 120 bocas) e naus de duas pontas e meia (80 bocas). A capacidade de transporte das naus também aumentou, alcançando as duzentas toneladas no século XV, e, as quinhentas, no século seguinte.

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Carracas portuguesas: navios de carga empregues no século XV, idênticos à nau Santa Maria

Com a passagem das navegações costeiras às oceânicas, houve necessidade de adaptar as embarcações aos novos conhecimentos náuticos e geográficos. À medida que se foi desenvolvendo o comércio marítimo e se tornou necessário aumentar a capacidade do transporte de mercadorias, armamento, marinheiros e soldados, foram sendo modificadas as características dos navios utilizados. Surgiam então as caravelas de armada e, posteriormente, as naus.

Em 1492 Cristóvão Colombo zarpou das Ilhas Canárias rumo ao descobrimento da América com a nau Santa Maria, a caravela redonda Pinta e a caravela latina Niña. Em 1497 partiu Vasco da Gama para a Índia já com três naus e uma caravela.

De grande porte, com castelos de proa e de popa, dois, três ou quatro mastros, com duas ou três ordens de velas sobrepostas, as naus eram imponentes e de armação arredondada. Tinham velas latinas no mastro da ré. Diferentes das caravelas, galeões e galé, as naus tinham, em geral, duas cobertas.

No século XVI tinham tonelagem não inferior a 500, embora, segundo o testemunho do Padre Fernando de Oliveira, no seu livro Livro da Fábrica das Naus, em meados desse século as naus eram armadas com crescente tonelagem.


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Réplica da nau Santa Maria, o maior dos navios comandados por Cristóvão Colombo em 1492, construído na Galiza
Fonte: wikipedia
 

Johny89

GF Ouro
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A Carreira da Índia e a vida a bordo das Naus


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Com a chegada de Vasco da Gama à Índia, em 1498, os portugueses passaram a ter o caminho aberto para a navegação entre a Europa e o continente asiático. A ligação entre Lisboa e a costa indiana, sobretudo Goa, era um aspecto fundamental para a expansão portuguesa no Oriente, obrigando à criação de uma rota permanente de comunicação. Assim se criou a chamada “carreira da Índia”, que mais não era do que a ligação permanente, através da melhor rota conhecida, entre aqueles dois portos. A viagem entre Lisboa e Goa era um empreendimento arriscado, longo e difícil, percorrendo uma longa distância através do Atlântico, a passagem do Cabo da Boa Esperança e o rumo á costa indiana; era, no entanto, uma prova por que passavam todos aqueles que se destinavam ao Oriente, ou que de lá regressavam, soldados, fidalgos, missionários ou mercadores.

A viagem de Lisboa à Índia era uma aventura perigosa. Os pilotos portugueses conheciam melhor do que ninguém as diversas etapas da viagem, o seu tempo de duração, os seus pontos difíceis e os seus riscos. A viagem era feita, na sua maior parte, sem haver vista de terra. Por um lado, tal era a prova evidente dos profundos conhecimentos náuticos dos pilotos portugueses, da sua prática de navegação, mas levava frequentemente a situações de perigo iminente. No navio, invariavelmente uma nau, viajavam várias centenas de pessoas, dispostas a partilhar naquele navio um espaço de tempo que rondava, na melhor das hipóteses, os seis meses. Em cada viagem havia um calendário que tinha que ser escrupulosamente cumprido, quer na ida, quer na volta, de forma a tomar os ventos favoráveis e as melhores condições naturais. Um atraso, quer á partida, quer no decorrer da viagem podia obrigar o navio a fazer escala e a atrasar-se vários meses, se se perdesse a monção, ou seja, o vento adequado que sopra nesse sentido apenas durante metade do ano.

No decorrer de uma viagem, vários eram os perigos que espreitavam. Os que mais preocupavam os pilotos eram as condições naturais. Eram frequentes as tempestades, sobretudo no Atlântico, que podiam tanto afundar o navio como afastá-lo da sua rota, não permitindo regressar ao rumo certo na brevidade necessária e comprometer assim toda a viagem. A passagem do cabo da Boa Esperança era o ponto mais crítico de toda a jornada, a manobra mais temida: a turbulência atmosférica nessa região era especialmente severa, a existência de recifes um risco real. Se os ventos fortes eram um perigo, a falta de vento era igualmente temida: é o que se chamava na época “calmaria”. Sem vento, com um calor sufocante, os navios paravam, os alimentos degradavam-se mais rapidamente, surgiam as epidemias, a moral a bordo decaía rapidamente, dando lugar ao desalento, á angústia e ao pânico. As calmarias existiam geralmente á latitude do equador, no Atlântico, podendo arrastar-se durante vários dias, como aconteceu á nau Santiago, que partiu de Lisboa rumo á Índia em 1585:

Continuando o caminho com bom vento entraram na costa da Guiné, e nas calmarias daquela paragem, tão celebrada dos marinheiros da Índia, gastaram 17 dias, passando a Linha a 27 de Maio, de calma tão enfadonha e tão ardente, que as do Alentejo ficam como frios da Noruega em comparação daquela paragem.”

Um dos problemas que afligiam todos os que viajavam a bordo era a alimentação: os alimentos frescos estragavam-se em pouco tempo, pelo que a sua renovação era desejável mas nem sempre possível. A água potável degradava-se igualmente com grande rapidez. O seu preço a bordo dos navios aumentava constantemente, obrigando a um racionamento rigoroso. As escalas, em Cabo Verde, em Santa Helena ou em Moçambique eram, portanto, indispensáveis. Não era raro declararem-se epidemias a bordo, afectando uma boa parte das pessoas a bordo, resultado de má nutrição e condições de higiene deploráveis. O escorbuto, resultante da carência de vitamina C, era uma das doenças inevitáveis. A medicina da época, desconhecedora da causa da maior parte destas doenças, limitava-se geralmente a fazer sangrias, o que agravava ainda mais a condição dos doentes. Eis uma descrição, de 1560:

Iam a bordo 500 e tantas pessoas; não ficaram senão só 15 que não passassem por esta fúria de enfermidades e doenças gravíssimas, assim os homens do mar (…) como os mais fidalgos, soldados, mulheres e meninos. E veio a coisa a tanto, que houve muitos dias juntos 350 doentes, e dia em que se davam 70 e 80 sangrias, e sangravam por meu mandado o barbeiro da nau, o piloto e o sota-piloto, e um grumete que o fazia muito bem. E deram-se por todas 1130 e tantas sangrias”.

Um dos aspectos mais interessantes destas viagens refere-se á religiosidade e superstição a bordo, que crescia á medida que a jornada avançava e que os perigos se sucediam. A bordo viajavam invariavelmente clérigos, geralmente missionários de várias ordens religiosas, a caminho ou de regresso da Índia. Abandonados no meio do oceano, confrontando-se com forças poderosas que não compreendiam nem conheciam, em risco permanente de naufrágio ou de epidemia, os homens agarravam-se ás suas convicções religiosas. As viagens são assim momentos de grande fervor religioso. Sucediam-se as preces, as orações e mesmo as procissões a bordo, pedindo protecção divina contra uma tempestade que se avizinhava ou agradecendo o bom rumo seguido ou o vento favorável encontrado. Aliás, considerava-se que as adversidades mais não eram do que castigos pelos pecados cometidos por cada um, pelo que o estado de pureza espiritual era avidamente procurado, multiplicando-se as confissões e os actos religiosos.

Alguns perigos que os navios portugueses enfrentavam eram, no entanto, bem terrenos. Referimo-nos aqui aos navios de piratas ou corsários que frequentemente infestavam as águas do Atlântico. Até ao final do século XVI, o risco era ainda menor, embora presente. Basta relembrar o episódio de Fernão Mendes Pinto, que á partida para a Índia foi atacado por uma navio de piratas franceses logo junto a Sesimbra, sendo despojado dos seus bens e lançado em terra. A partir da década de 1580 o problema agravou-se: Filipe II torna-se rei de Portugal, pelo que os ingleses e holandeses, inimigos dos espanhóis, passam a atacar também os navios portugueses, sujeitos então a depredações constantes. No fim do século, ingleses e holandeses passam o Cabo da Boa Esperança e chegam ao Oriente, procurando estabelecer também posições no Índico. Assim, a guerra de pirataria e corso do atlântico alargou-se igualmente ao Oriente, sujeitando a navegação portuguesa a uma pressão terrível. A guerra naval passou, então, a juntar-se aos perigos das viagens para a Índia, agravando com outros riscos as condições de vida a bordo.

Carreira da Índia
 

orban89

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Flor de la Mar | O navio mítico de Portugal


 
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