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Açores: Fábrica da Gorreana produz chá «à moda antiga»

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Açores: Fábrica da Gorreana produz chá «à moda antiga»

Na fábrica de chá Gorreana, das mais antigas da Europa, à primeira vista parece que o tempo não passou desde que começou a produção de uma das marcas nacionais mais prestigiadas, há 125 anos.

No entanto, as máquinas antigas ou o pequeno grupo de mulheres que escolhe e empacota o chá à mão são, afinal, o segredo da produção do chá Gorreana.

Nos anos 70, a fábrica dirigida por Hermano Mota ainda tentou aderir aos processos mais mecanizados de fabrico do chá, mas a reacção dos clientes habituais não foi a melhor.

«Quando chegámos lá com os nossos novos tipos de chá, houve um que me disse: Chá desse vende a Argentina a 2 escudos e meio o quilo. Se quiseres continuar a vender chá, e eu continuo-te a comprar chá, vais ter de fazer o chá ortodoxo, que sempre fizeste», recorda Hermano Mota.

Esse chá tradicional da Gorreana era o produzido pelo método ortodoxo, que obriga ao enrolar das folhas - que pelos métodos mais modernos são pisadas ou esmagadas - e ao qual a fábrica regressou, com sucesso, até hoje.

Da pequena fábrica da Gorreana, na costa norte de São Miguel (Açores), com apenas 12 funcionários, saem anualmente 38 toneladas de chá, entre o preto, com três variedades diferentes, e o verde, o que tem actualmente mais saída pelos seus benefícios para a saúde.

Quanto ao segredo do sucesso do produto - 7 por cento das vendas vão para fora do país - , Hermano Mota avança uma hipótese.

«Por obra e graça do Santo Cristo dos milagres, houve aqui umas cruzas entre dois tipos de plantas, uma da Índia e outra da China», refere, considerando que foi essa mistura que tornou a plantação da Gorreana «eterna».

«Em África, por exemplo, plantam milhares de pés para substituir os que morrem, aqui é ao contrário, todos os anos arrancamos milhares de pés porque senão perdemos a possibilidade de andar entre o chá», conta.

Talvez por outro milagre ou, mais provavelmente, pelo clima sempre húmido dos Açores, as plantações da Gorreana não são atingidas por pragas e, por isso, dispensam insecticidas e herbicidas.

«O nosso chá é quase ecológico», sustenta Hermano Mota.

A apanha do chá decorre a partir de Março e pode ir até Agosto ou Setembro, e, para isso, a Gorreana conta com 20 trabalhadores extra que cobrem os 32 hectares de plantações verde vivo.

Hoje o processo é mais mecanizado do que há 30 anos, quando chegavam a ter «ranchos de mais de cem pessoas» para apanhar o chá.

A partir daí, e até o chá chegar ao tradicional pacote de 250 gramas ou ao mais moderno saquinho individual, o processo demora entre dois a três dias.

Primeiro, as folhas têm de murchar para se poderem enrolar sem partir, passar pela sala de esterilização, e ser sujeitas à oxidação, no caso do chá preto. Já o chá verde não pode ter contacto com o ar, nem ser submetido a temperaturas superiores a 80 graus.

«Daí que se deve ter cuidado quando se faz chá verde em casa, não se deve deixar ferver, quando o chá começa a chiar deve-se tirar», explica.

A Gorreana produz três variedades de chá preto - Orange Pekoe, Pekoe e Broken Leaf - consoante a produção é feita a partir da primeira folha - mais tenra e por isso de maior qualidade - da segunda, ou da terceira folha, mais pobre em teína.

Depois de passarem por uma outra máquina que separa os diferentes tipos de chá, o processo passa para a fase totalmente manual.

Um grupo de mulheres escolhe o chá para retirar os pequenos troncos que escaparam ao crivo das máquinas e que lhe dá um aspecto inestético.

«Os pauzinhos não dão mau sabor ao chá, mas dão mau aspecto. Com os pauzinhos também se pode fazer chá, o patrão oferece-nos e nós levamos para casa e fazemos o nosso chá», explica Adelaide Pereira, 50 anos, que trabalha na fábrica há onze.

No final, são estas funcionárias que têm a tarefa de empacotar o chá, um passo que poderá em breve passar a ser feito por uma máquina e que tornará mais dispensável a mão-de-obra humana.

«Hoje em dia está a ser mais difícil manter a fábrica tal como está«, confessa Hermano Mota, que tem de lidar com a «pressão» das inspecções e dos regulamentos comunitários mais favoráveis à mecanização.

A fábrica é visitada por centenas de turistas anualmente, que, gratuitamente, passeiam pelas salas de produção, provam as várias variedades do Gorreana, e terminam no pequeno quiosque onde se pode comprar o famoso chá.

Com site na Internet, Site Oficial das Plantações de Chá Gorreana, em breve, a fábrica com 125 anos de história irá estrear-se na venda de chá on-line.


Diário Digital / Lusa
 
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