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A primeira consulta do recém-nascido

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GF Ouro
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Set 24, 2006
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Os pais vão, geralmente, nervosos para a primeira consulta do recém-nascido. Afinal, esta ida ao médico é vista como um teste para saber que está tudo mesmo bem. Além disso, já sabem que o bebé será sujeito a algumas "maldades" e que o mais certo é passar o tempo todo a chorar. Ver um filho acabado de nascer sem roupa, nas mãos de outra pessoa, a ser mexido, virado, puxado, pode impressionar os mais sensíveis. Mas é também uma oportunidade para conhecer melhor o bebé e as suas surpreendentes capacidades.



O exame do recém-nascido deverá ser completo, para não deixar escapar nada de anómalo, embora as possíveis anomalias e problemas graves sejam identificadas logo na maternidade.



Os objectivos da observação de um bebé acabado de nascer são vários: ver o estado geral do bebé, a sua vitalidade e força muscular, avaliar os estádios de desenvolvimento e realizar o exame neuro-comportamental, detectar alguma anomalia congénita, avaliar as funções dos diversos aparelhos (respiratório, gastrointestinal, etc), além do crescimento físico. Para além do exame físico do bebé, há muitos outros aspectos que o médico deve pesquisar em conversa com os pais. Esta consulta exige, por isso, muita disponibilidade e tempo. Habitualmente, é realizada durante a primeira semana de vida do bebé.



O peso

Na primeira consulta um dos primeiros passos é pesar o bebé. Geralmente, não há necessidade de medir o comprimento ou o perímetro cefálico, dado que foram avaliados à nascença e há que esperar algum tempo para se poder perceber o seu aumento, ao contrário do que acontece com o peso. Os bebés perdem peso nos primeiros dias de vida, recuperando depois o peso de nascença, em geral, no final da primeira semana.



Tónus muscular

A observação global do bebé permite ver o seu tónus muscular (ou seja, a força dos músculos em repouso). Uma das formas de avaliar é segurar o bebé pelo ventre, de barriga para baixo, e ver se pende, tipo «boneco de trapos», ou se faz esforços para se empertigar e manter-se horizontal, sem se encurvar em demasia.



Como se acalma em posição fetal

Avalia-se também a força quando em movimento, a vitalidade, o tipo de choro, a maneira como se acalma, nomeadamente quando se coloca na posição fetal e se fala com ele.



A cabeça


Avaliam-se os ossos da cabeça e a fontanela, uma zona que causa sempre alguma impressão aos pais, mas que «não se parte». A fontanela anterior é o espaço que fica entre os ossos frontal e parietais (podendo existir uma fontanela posterior entre os parietais e o occipital). O facto de os ossos terem esse espaço entre eles permite à cabeça crescer, em virtude do crescimento do cérebro. Muitas vezes, a fontanela pulsa e isso é normal. A fontanela é um bom local de observação de doenças, como por exemplo a desidratação (fica deprimida) ou a meningite (fica saliente e tensa). Na cabeça, e resultantes do parto, especialmente quando é demorado e traumático (por exemplo no uso de ventosa), podem ver-se cefalo-hematomas, que são zonas salientes, moles e que correspondem a bolsas de sangue, ou o chamado caput succedaneo, que é uma zona de inchaço mais ampla, de edema (líquidos, pelo efeito de sucção e de vácuo durante o parto). Podem também existir, sem significado patológico, «cavalgamentos» dos vários ossos da cabeça. Por vezes, o formato da cabeça é assimétrico, pois é muito influenciado pela posição em que esteve in utero, ou se esteve encostado, por exemplo, a um osso da mãe.



Os olhos

Na face, observam-se os olhos: a cor das conjuntivas (pele de «dentro» das pálpebras, para ver se estão pouco rosadas, amareladas, etc), a coloração da esclerótica (parte branca do olho, onde pode haver icterícia ou, em alguns bebés, também, uma hemorragia da esclerótica, causada pelo esforço do parto), a permeabilidade dos vários componentes à luz (se reflectem a luz, se existem opacidades, a reacção da pupila à luz, etc). Geralmente o bebé tem poucas lágrimas nas duas ou três primeiras semanas e é essa a razão porque são frequentes as conjuntivites, traduzidas pelo aparecimento de «ramelas». É uma situação muito comum e que deve ser tratada com uma pomada ou colírio com antibiótico. É normal, também, os bebés entortarem os olhos nas primeiras semanas após o nascimento, não sendo obrigatoriamente sinal de estrabismo. A «cor dos olhos», ou seja, da íris, nem sempre corresponde à cor definitiva. O afastamento grande dos olhos ou entre estes e o nariz e a testa são sinais que também se registam.



O nariz


O nariz é um órgão «precioso» e se estiver obstruído, os bebés ficam muito aflitos, com dificuldade em respirar – nos casos extremos de dificuldade respiratória, as asas do nariz abrem-se em cada movimento respiratório. É essencial manter o nariz bem limpo, usando o soro fisiológico antes das mamadas, mas evitando o uso dos «aspiradores», porque sugam células da parede nasal e isso vai levar a uma reacção do nariz que é produzir mais secreções.



A boca

Às vezes, na boca, notam-se pequenas manchas cor de pérola, pequenas, no céu da boca, o que é normal, bem como pequenos quistos brancos, que são também normais e desaparecem com o tempo. Algumas crianças podem já ter dentes ou peças pseudo-dentárias ao nascer, embora seja muito raro (um em cada 2.000 nascimentos, o que dá anualmente 55 crianças em Portugal com dentes ao nascer). A língua pode estar despapilada ou coberta de fungos (que dão um aspecto de «creme branco» – não confundir com o leite de um bebé que acabou de mamar -, e atingem geralmente a parte de dentro das bochechas, com aspecto de «açúcar pilé». É muito comum, também, a existência de um «freio da língua» que, se for grande, deverá ser avaliado por um cirurgião pediatra.



O rosto

À volta do nariz e boca pode haver pequenos pontos brancos, muito pequeninos (chamados «mília»), que não necessitam de nenhum cuidado e que persistem por semanas. Ao fim de alguns dias, também é normal a pele da face ficar muito encarnada, com borbulhinhas – são reacções normais de um órgão que esteve sempre protegido da poluição, do ar, das mudanças de temperatura, etc. Observa-se o queixo, para ver se está, como em algumas síndromas genéticas, muito retraído, ou demasiadamente avançado.



O pescoço

No pescoço palpam-se os músculos e as clavículas para detectar fracturas - razoavelmente comuns por traumatismo durante o parto, mas que curam geralmente sem problemas - e perceber se existe um torcicolo ou um hematoma do músculo esternocleidomastoideu, que faz com que a criança volte a cabeça sempre para o mesmo lado e se palpe, do lado oposto, uma tumefacção.



O tórax

A observação do tórax inclui uma inspecção geral, para detectar eventuais deformidades, lesões, sinais de dificuldade respiratória, etc. A auscultação do coração e do aparelho respiratório é essencial para analisar os ritmos, a circulação do ar e do sangue e a eventual presença de sopros cardíacos. Pode haver uma tumefacção de um ou de ambas as glândulas mamárias, nos rapazes e nas raparigas, por influência das hormonas maternas em circulação, mas não se deve espremer nem tocar, para evitar infecções (mastites).



O abdómen

A inspecção do abdómen pode mostrar aspectos diferentes do normal, na forma, ou lesões visíveis - por exemplo, se o umbigo (ou cicatriz umbilical, se o cordão já caiu) está infectado, se existem hérnias umbilicais ou centrais, chamadas «hérnias de linha branca». A palpação abdominal pode revelar, logo à partida, uma barriga dura, provavelmente cheia de ar, a que o toque e a percussão completam, mostrando um «som de tambor», tão comum. Avalia-se também eventuais aumentos de tamanho dos órgãos intra-abdominais – fígado, rins, baço -, ou a existência de massas. Podem existir hérnias inguinais, bem diferentes das umbilicais pela sua situação (junto aos testículos ou na zona equivalente, na rapariga) e pelos cuidados a ter (as umbilicais não estrangulam, pelo que não necessitam de uma abordagem urgente, ao contrário das inguinais, que têm de ser avaliadas por um cirurgião).



As virilhas



Os médicos palpam também as virilhas para avaliarem os pulsos femurais, ou seja, para ver se o sangue circula bem para as extremidades inferiores.



A anca

A anca deve ser sempre objecto de avaliação, para detectar uma situação comum – a instabilidade ou displasia da anca que, em alguns casos, pode ser mesmo uma luxação congénita. Daí os médicos fazerem uma manobra, a que se dá o nome de Ortolani-Barlow e que permite ver se a relação entre os ossos da bacia e o fémur é normal. A displasia da anca tem que ser diagnosticada e eventualmente tratada precocemente.



Os genitais

A observação dos genitais da criança é um passo obrigatório. Nos rapazes, há que ver se os testículos já se encontram nas bolsas, o que pode vir a acontecer apenas até ao final do primeiro ano de vida, sem que isso represente doença. A «pilinha» está geralmente apertada, nos recém-nascidos, e esta «fimose» fisiológica deve ser vigiada mas não se deve manipular com força, nem puxar para lá do que se sente como resistência, porque pode criar fissuras e ainda apertar mais. Algumas crianças têm uma má colocação da saída da uretras, diagnosticada no primeiro exame, e que se chama hipospádia ou epispádia, conforme a localização do «buraquinho». Nas raparigas, há que ver se os órgãos genitais são normais – os pequenos lábios podem estar, frequentemente, colados. Em alguns bebés do sexo feminino pode haver uma pequena saída de muco ou de sangue vaginal, que não representa doença, mas sim um efeito das hormonas maternas que estão em circulação. O exame do ânus pode mostrar fístulas (que por vezes sangram).



As costas, os braços e as pernas

As costas têm que ser sempre bem examinadas, para ver a coluna e eventuais defeitos, a existência possível de fossetas ou fístulas na região sagrada (um pouco acima do ânus), pesquisar alguns reflexos, etc. Igualmente se devem observar os braços e as pernas, para ver a existência de deformidades, incluindo nas mãos e pés (número de dedos, posicionamento e alinhamento, unhas, pregas palmares, etc).



A pele

O exame geral da pele é muito importante. Revela-nos a coloração e a hidratação (o bebé está muitas vezes ainda coberto de um verniz gorduroso, amarelado, e pode ter uma penugem que subsiste por algumas semanas, sobretudo na parte de cima das costas). É extraordinariamente comum, em Portugal, a existência de umas manchas na parte inferior das costas e nas nádegas, azuladas (como se se tratasse de uma «nódoa negra»), e a que se chama «mancha mongólica». Não tem nada a ver com a síndroma de Down ou trissomia 21, mas o nome «mongólico» deriva de ter sido primeiro descrita na raça mongol. Pode permanecer até aos dois anos de idade e é, por vezes, muito extensa. Do mesmo modo, podem existir angiomas, que são formações com diversos tamanhos e em vários locais, desde a nuca (muito comum) até qualquer dos membros ou abdómen ou mesmo na face. São encarniçados ou arroxeados e, às vezes, salientes. Geralmente aumentam um pouco de tamanho até aos 9-12 meses e depois começam a regredir. Só se aumentarem muito, mudarem de aspecto, se se tornarem mais salientes ou sangrarem é que necessitam de cuidados médicos. Podem também existir diversas manchinhas «café com leite» (que são normais se não ultrapassarem as seis e forem pequenas) e «marcas de nascimento», de vários tons, em muito semelhantes a marcas que existem noutros elementos da família. Os recém-nascidos estão habitualmente muito encarnados, pois têm muita hemoglobina por terem vivido nove meses num ambiente com relativamente pouco oxigénio. Ao nascerem, essa hemoglobina «a mais», que está dentro dos glóbulos vermelhos, vai diminuir, através de um processo de destruição que ocorre no baço. Esse processo pode causar icterícia, o que dá uma coloração amarelada à pele. É a chamada «icterícia fisiológica», que aparece sempre ao segundo ou terceiro dia (nunca desde o nascimento) e que desaparece em cerca de sete dias, podendo prolongar-se (sem qualquer problema) se o bebé está a ser amamentado.



Os reflexos

Assim que nasce, o bebé está equipado com um certo número de reflexos, habitualmente pesquisados nos exames de saúde. Um dos reflexos mais evidentes, iniciado muito precocemente na vida intrauterina, é o reflexo da sucção, indispensável para a sobrevivência da criança. Por outro lado, ao acariciar-se a face de um bebé, ele volta a cabeça para a mão que o tocou, procurando sugar - é o chamado «reflexo dos pontos cardeais». É por isso que, às vezes, quando as mães acariciam a face dos bebés durante a mamada, eles parecem «afastar-se» do peito; não se trata de nenhuma «rejeição» do peito mas apenas a resposta normal à estimulação da face. A sucção consiste em três movimentos diferentes da boca e da língua, os quais provocam uma aspiração potente. Outro reflexo é a procura do seio materno: o bebé mexe a cabeça de um lado para o outro, abrindo a boca, numa tentativa de encontrar o mamilo. Um reflexo que entusiasma as mães e pais (e os irmãos…) na primeira consulta médica é o reflexo «da marcha automática». Posta de pé a criança esboça passadas, do mesmo modo que, mantida à superfície da água, agita os braços e as pernas, simulando nadar. Na posição de sentado, o recém-nascido é também capaz de ensaiar tentativas de segurar a cabeça em posição vertical. É indiscutível que os bebés estão, ao nascer, «programados» para saberem sentar-se, andar, ver e até nadar. Outro reflexo muito conhecido é o da preensão. Basta tocar na planta do pé ou na palma da mão de um bebé para ele fechar automaticamente os dedos com força. Acariciando o lado contrário - o dorso do pé ou da mão - a criança abre os dedos. O reflexo do abraço, ou de «Moro», é um reflexo de defesa que, por vezes, assusta os pais. Deixando cair a cabeça para trás, o recém-nascido estende o pescoço, abre e fecha os braços e as pernas e agita-se..
 
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