• Olá Visitante, se gosta do forum e pretende contribuir com um donativo para auxiliar nos encargos financeiros inerentes ao alojamento desta plataforma, pode encontrar mais informações sobre os várias formas disponíveis para o fazer no seguinte tópico: leia mais... O seu contributo é importante! Obrigado.

“Só ouvia gritos e via sangue”

R

RoterTeufel

Visitante
Tragédia: Morreu a filha do presidente do Orfeão
“Só ouvia gritos e via sangue”


Isabel, de 15 anos, sofreu apenas ferimentos ligeiros no acidente de autocarro – que anteontem provocou um morto e sete feridos graves em Santa Maria da Feira – mas o choque emocional não a deixa parar de chorar.

O elemento mais novo do coro sempre teve medo de andar de autocarro e até já sonhou com um desastre. Anteontem, o maior pesadelo de Isabel tornou-se a pior das realidades. "Senti o autocarro virar e depois só ouvia gritos e via sangue à minha volta", contou Isabel ao CM, em lágrimas. A jovem procurou os tios que também estavam no autocarro. Estavam feridos, mas Isabel percebeu logo que o estado de Clara Fernandes era muito grave. "A minha tia tinha o braço desfeito, estava cheia de sangue e gritava muito", contou. "Fiquei a segurar-lhe a cabeça até chegar a ambulância. Depois, procurei o meu telemóvel e liguei à minha mãe", recorda Isabel.

Quase 24 horas após o acidente, a jovem chora compulsivamente. "Nunca mais ando de autocarro. Eu sempre tive medo de que isto acontecesse, viajava sempre assustada", disse Isabel. A jovem lembra-se ainda de que durante a viagem de anteontem, rumo a S. Paio de Oleiros, algumas pessoas reclamaram que o motorista ia muito depressa. "A Ana Paula estava sentada a meio do autocarro e levantou-se para ir falar com o motorista. O acidente aconteceu", referiu.

Ana Paula morreu e Isabel diz que não tem voz, nem vontade para regressar ao coro. A mãe, Estela Figueiredo, limpa-lhe as lágrimas e faz-lhe um carinho. "Ela adora o coro. Vai ultrapassar", diz Estela.

Também o pai da vítima mortal disse à família que vai manter presidência da direcção do coro. O sobrinho de Ana Paula e neto de José Silva disse ao CM que, apesar do sofrimento, é aquela a sua vontade. "O meu avô está completamente desfeito e a restante família está em choque", disse Hélder Pires. Na moradia de José Silva, amigos e familiares juntaram-se para chorar a a morte de Ana Paula, que deixa três filhos, com 24, 20 e 15 anos.

"VÍNHAMOS COM ALGUMA VELOCIDADE. A CURVA FOI FATAL"

Eduardo Fernandes estava em choque. Membro do coro do Orfeão, o homem, de 69 anos, aguardava novidades sobre o estado da mulher, Maria Madalena, também com 69 anos. "Disseram-me que estava com três vértebras partidas, mas ainda está para observações", explica, enquanto vai segurando no casaco ensanguentado. Do acidente, pouco diz: "Nós já vínhamos com alguma velocidade durante a viagem. Na curva foi fatal." Motivos para a velocidade excessiva, não encontra: "Não estávamos atrasados, muito pelo contrário estávamos dentro do tempo", conclui.

CÂMARA DISPONIBILIZA PSICÓLOGOS

Na sequência do violento acidente, a Câmara de Águeda disponibilizou uma equipa de psicólogos para apoiar os feridos e os seus familiares. Ontem de manhã a equipa falou com os ocupantes do autocarro que já tinham tido alta, para tentar minimizar o choque psicológico.

Os bens pessoais que estavam no autocarro também foram ontem entregues aos passageiros.

A comunidade também se reuniu em torno dos sinistrados, tentando, de alguma forma, prestar todo o apoio. Em Águeda todos estavam consternados com a tragédia.

ORFEÃO COM AS PORTAS FECHADAS

As portas do Orfeão de Águeda , com mais de 90 anos de história, estavam ontem fechadas. Mesmo assim, vizinhos e amigos dos ocupantes do autocarro passavam no local à procura de notícias. Todos queriam saber do estado de saúde do grupo, gente da terra que há muitos anos cantava no coro. Na altura do acidente, o grupo viajava para S. Paio de Oleiros, em Santa Maria da Feira, onde ia actuar. O espectáculo foi cancelado.

O futuro imediato do grupo pode agora estar em causa. As próximas actuações foram canceladas e o choque ainda domina os sentimentos dos elementos do Orfeão.

A morte da filha do presidente da direcção também deixou todos transtornados. Trata-se de uma das instituições mais prestigiadas da cidade e José Silva é um empresário da região muito conceituado.

O coro era composto por elementos de várias idades, desde os 15 anos aos 70 anos.

TENSÃO INVADIU URGÊNCIAS

À porta do Hospital da Feira, anteontem à noite, o ambiente estava tenso. A unidade hospitalar recebeu a maior parte das vítimas do acidente envolvendo o autocarro que transportava o coro do Orfeão de Águeda e os familiares ansiavam por notícias. Só por volta das 02h30 é que começaram a deixar o hospital.

"Eu só soube do acidente mais de duas horas depois, porque estava numa cerimónia de outra colectividade de Águeda. Fiquei em pânico", contou Manuel Farias, marido de Natércia Farias, soprano do grupo coral do Orfeão de Águeda, uma das vítimas hospitalizadas no Hospital da Feira. À espera de notícias da mulher, Manuel Farias não escondia o choque: "Temos muitos amigos lá no coro e estamos preocupados. Estão a ser momentos stressantes."

Gil Nadais, presidente da Câmara de Águeda, fez questão de estar presente no hospital, a dar apoio aos familiares. "O presidente tem sido incansável", desabafou a mãe de uma das vítimas do acidente de ontem, em Arrifana. "Ele já tinha estado no local do acidente e não se fez rogado em cá vir ajudar no que fosse preciso", acrescentou Rosário Lima, irmã de uma das acidentadas.

Luís Celso, elemento do Orfeão, corrobora a mesma ideia: "Mal saí do hospital, o presidente veio ter comigo, perguntou-me se estava tudo bem e se precisava de ajuda. Como tinha a minha mulher no Hospital de Gaia, ele ofereceu-se para me levar", conta.

Quem também não parou um segundo foi Paulo Neto, o maestro do coro. "Aquele homem fez tudo o que podia. Foi impecável", diz Luís Celso.

PORMENORES

GRAVIDEZ SEM RISCO

A mulher grávida ferida no capotamento do autocarro tem fractura na bacia e continua internada no Hospital de Gaia. Os médicos não detectaram qualquer problema com o feto.

ESTADO GRAVE

O condutor do autocarro encontra-se internado nos Cuidados Intensivos do Hospital de São João, no Porto, com traumatismo crânio-encefálico e em estado estável. O seu prognóstico era ontem reservado.

DOIS FERIDOS

No Santo António, outro hospital central do Porto, permanecia ontem apenas um dos dois feridos considerados graves. Um deles tinha um traumatismo craniano, mas estava estabilizado.

FICOU LOTADO

Anteontem, o Hospital da Feira rapidamente ficou com lotação esgotada. Os feridos foram divididos por outros hospitais.

NOTAS

EMOÇÃO: GRITOS E LÁGRIMAS

Os momentos vividos logo a seguir ao acidente, na Arrifana, foram de pânico. Os pedidos de auxílio e as lágrimas dos muitos feridos foram incessantes

MEIOS: GRANDE APARATO

Para o local, e devido à dimensão do desastre, foi mobilizada uma grande quantidade de meios: 79 bombeiros, 25 veículos e dois helicópteros para o transporte rápido dos feridos

AVEIRENSE: CAMIONETA CAPOTOU

A camioneta da Aveirense despistou-se, capotando de seguida. Testemunhas no local avançaram anteontem ao CM que o motorista deveria conhecer mal o local do acidente.


Fonte correio da manhã
 
Topo