• Olá Visitante, se gosta do forum e pretende contribuir com um donativo para auxiliar nos encargos financeiros inerentes ao alojamento desta plataforma, pode encontrar mais informações sobre os várias formas disponíveis para o fazer no seguinte tópico: leia mais... O seu contributo é importante! Obrigado.

Descoberto fóssil de nova espécie de homem?

ecks1978

GF Ouro
Membro Inactivo
Entrou
Out 29, 2007
Mensagens
953
Gostos Recebidos
0
Quando olhou para os resultados, Johannes Krause, do Instituto Max Planck de Leipzig, na Alemanha, pensou que tinha havido um erro. Fez mais umas análises para ter a certeza de que o material genético era autêntico e muito antigo – e não o produto de uma qualquer contaminação. Quando acabou os testes, as dúvidas tinham desaparecido: estava mesmo perante “um novo tipo de ADN de homem primitivo”, como contou ontem numa conferência de imprensa telefónica.

Espantado e excitado, Krause quis dar logo a incrível notícia ao seu colega Svante Pääbo – um dos mais reputados especialistas mundiais de paleoantropologia genética –, com quem tinha realizado a análise genética de uma lasca de osso fossilizado de um dedo com 30 a 50 mil anos de idade, encontrado numa gruta do Sul da Sibéria. Pääbo estava nesse momento em viagem nos Estados Unidos e, quando atendeu o telemóvel do outro lado do Atlântico, Krause lembra-se de lhe ter dito para se sentar.

“O resultado era tão absolutamente espantoso que pensei que Johannes estava a pregar-me uma partida”, disse por seu lado Pääbo durante a mesma áudio-teleconferência, organizada pela revista Nature, que amanhã publica os resultados em questão.

O que tinham descoberto que era tão fora do vulgar? Um bocado de ADN humano inédito, pertencente a uma linhagem diferente das duas principais que até aqui se sabia que tinham habitado na Europa e na Ásia naquela altura: os Neandertais e os Homo sapiens (os Neandertais extinguiram-se há uns 28 mil anos). Mas hoje, essa visão mudou. “Há 40 mil anos, o planeta tinha mais gente do que pensávamos”, escreve na Nature Terence Brown, da Universidade de Manchester, num comentário ao trabalho dos investigadores alemães.

Contudo, a descoberta de uma potencial nova espécie humana não é em si inédita: a última, a do pequeno Homem das Flores, ou Hobbit, descoberto na Indonésia, aconteceu em 2003. Mas o que torna a nova descoberta notável, acrescenta Brown, é que, “pela primeira vez, uma nova espécie de humanos é descrita não a partir da morfologia dos seus ossos fossilizados, mas a partir da sua sequência de ADN”.



Comparação genética

Por enquanto, Krause, Pääbo e os seus colegas não sequenciaram ainda o ADN do núcleo das células, mas apenas o ADN mitocondrial do fóssil desenterrado em 2008 na Gruta Denisova, nos Montes Altai da Ásia Central – a ponta do osso de um dedo mínimo (não sabem se da mão esquerda ou direita) que terá pertencido a uma criança de cinco a sete anos de idade, frisam ainda os investigadores.

O ADN mitocondrial é um pequeno anel de material genético que se encontra dentro das mitocôndrias – as baterias das células – e que existe em muito maiores quantidades do que o resto do ADN. Utilizando técnicas de ponta desenvolvidas por estes mesmos cientistas para estudar o ADN dos Neandertais e de outras espécies extintas, foi possível ler cada “letra” desse ADN mitocondrial 156 vezes – tornando a probabilidade de erros de leitura extremamente remota.

A seguir, os cientistas compararam esse ADN mitocondrial com o de 54 seres humanos actuais, um homem moderno que viveu há 30 mil anos, seis Neandertais, um bonobo e um chimpanzé. E, como escrevem na Nature, constataram que enquanto a sequência dos Neandertais difere da do homem moderno em 202 posições (ou “letras” do ADN mitocondrial), a sequência vinda do dedo de Denisova difere em 385 posições. “É duas vezes mais distante de nós do que a dos Neandertais”, salienta Pääbo.

Isto sugere que o antepassado comum mais recente das três espécies terá vivido (em África) há cerca de um milhão de anos e que, na árvore da família humana, “o ramo que deu origem ao homem da Sibéria bifurcou -se muito tempo antes da separação dos ramos dos homens modernos e dos Neandertais”, lê-se num outro artigo também hoje publicado na mesma revista. “Se assim for, a suposta nova espécie terá saído de África aquando de uma migração até agora desconhecida, entre a do Homo erectus, há 1,9 milhões de anos, e a do antepassado dos Neandertais (...), há 300 mil a 500 mil anos.” (Diga-se, a título comparativo, que os nossos antepassados terão saído de África há uns 60 mil anos.)

Krause e Pääbo permanecem muito prudentes quanto a dizer que se trata mesmo de uma nova espécie. Afinal de contas, o ADN mitocondrial representa apenas uma muito pequena parte da história genética, uma vez que é transmitido exclusivamente por via matrilinear directa. O ADN mitocondrial é indubitavelmente inédito, insistem ambos, mas só a sequência do ADN nuclear é que poderá dizer se se trata de uma nova espécie ou não. Os cientistas também já conseguiram extrair ADN nuclear do fóssil de Denisova e estão actualmente a fazer a sua sequenciação, que deverá estar pronta “dentro de uns meses”.

Pääbo, entretanto recuperado da surpresa inicial, acredita que poderá haver muitas outras descobertas do mesmo género, sobretudo nas regiões mais frias do planeta, onde o clima permite a conservação do ADN dos fósseis – não só na Sibéria, mas também na Rússia e no Norte da China. “Até agora, a nova criatura que transportou este ADN para fora de África não tinha sido apanhada pelos nossos radares”, explica o cientista. Mas no fundo “não seria surpreendente [encontrarem] outras”.

Enquanto não obtiverem a sequência dos cromossomas sexuais contidos no ADN nuclear, os investigadores não vão saber se o dono do dedo de Denisova era homem ou mulher. Mas já lhe deram uma alcunha: X-woman. Só para lembrar que o ADN mitocondrial é matrilinear – e porque, dizem, gostam de imaginar que era uma mulher.
publico
 

aiam

GF Ouro
Membro Inactivo
Entrou
Mai 11, 2007
Mensagens
4,596
Gostos Recebidos
0
Pelo menos até há 30 a 50 mil anos, um grupo de humanos desconhecidos até agora, os denisovanos, coexistiram com os Neandertais e a nossa espécie (os humanos modernos). Mais: houve mistura genética entre os denisovanos e nós, uma conclusão de novas análises genéticas aos achados da gruta Denisova, na Sibéria. Um dos cientistas da equipa, Bence Viola, do Instituto Max Planck para a Antropologia Evolutiva, Alemanha, diz que há 100 mil anos a diversidade humana era muito maior do que pensávamos.


Os denisovanos são uma nova espécie de humanos?

Não falamos da questão de os denisovanos serem ou não uma nova espécie, porque é difícil responder a isso com os dados genéticos. Utilizando a definição biológica aceite, segundo a qual os membros de diferentes espécies são reprodutivamente isolados, pelo que não têm descendência, é difícil declarar os denisovanos - e também os Neandertais - como uma espécie separada, uma vez que se reproduziram claramente com os humanos modernos. Em geral, estes resultados levam-nos a repensar, pelo menos a mim, o conceito de espécie na evolução humana.

Qual a importância da descoberta desta forma de humanos antigos?

Esta descoberta mostra que vários grupos humanos - alguns diriam espécies - habitaram a Terra ao mesmo tempo há cerca de 100 a 80 mil anos. Há 100 mil anos pode ter havido cinco grupos de humanos: teríamos os humanos modernos (os nossos antepassados directos) em África; os Neandertais na Europa e em parte do Próximo Oriente; os denisovanos na Sibéria e possivelmente em parte do Sudeste asiático; talvez o Homo erectus tardio em Java, na Indonésia; e a forma anã do Homo floresiensis na ilhas das Flores, Indonésia. Isto é bastante diferente do que pensávamos há dez anos, pois nessa altura supunha-se só existirem os humanos modernos e os Neandertais.

Quando se extinguiram os denisovanos? E porquê?

Não sabemos. Embora pensemos que provavelmente se espalharam pela Ásia, não temos qualquer prova clara disso noutro sítio [além dos achados na gruta Denisova, na Sibéria]. A sua extinção deve ter acontecido depois de há 50 mil anos, que é a idade mais provável dos achados de Denisova. Provavelmente, isto aconteceu ao mesmo tempo que a extinção dos Neandertais [há 30 mil anos]. Não temos modelos para as razões por que se extinguiram, mas talvez a competição com os humanos modernos seja uma boa razão.

Temos um osso e um dente destes humanos na Sibéria. Mas, bastante longe, a sua equipa também descobriu que as actuais populações da Melanésia apresentam traços genéticos desses humanos. As migrações deles são um quebra-cabeças?

São. Sabemos que os seus antepassados saíram de África a certa altura, mas não sabemos quando. Eles acabaram na Ásia, mas só temos provas claras deles na Sibéria. Pensamos que estiveram noutras partes da Ásia, como no Sul da China, uma vez que sabemos [através de análises genéticas] que encontraram os melanésios, habitantes da Papuásia-Nova Guiné e Ilhas Salomão. É pouco provável que estes tipos tenham ido primeiro para norte, para a Sibéria, para depois virem para sul em direcção ao Pacífico. Estamos só a começar a compreender o que se passou na Ásia.

Por que é que essa rota logo para norte é pouco provável?

A maioria das pessoas supõe que os antepassados dos melanésios [já humanos modernos], após saírem de África, seguiram uma rota através da costa Sul e Sudeste da Ásia. Por isso, a ideia de que os denisovanos foram primeiro para a Sibéria e depois é que viraram para sul parece menos provável.

Qual é a maior surpresa que este achado trouxe?

Sem dúvida, a ligação à Melanésia é uma grande surpresa. Quando os meus colegas geneticistas me falaram dela, primeiro pensei que era uma brincadeira. Teria ficado muito menos surpreendido se os chineses ou as populações da Ásia Central tivessem traços genéticos dos denisovanos. Os chineses e os mongóis estão muito mais perto da Sibéria, por isso seria mais fácil a hipótese de uma troca genética. Além disso, há muito tempo que os antropólogos chineses reivindicam a existência de uma continuidade genética na China entre os hominídeos mais antigos - principalmente o Homo erectus encontrado em Zhoukoudian [em 1921] - e os actuais chineses. Terem-se reproduzido com pessoas que vivem hoje no outro lado do mundo, a dez mil quilómetros de distância, é bastante surpreendente. Estamos a recolher amostras de populações por toda a Ásia, para tentar encontrar outras ligações. Mas até agora ainda não tivemos sucesso. Qual é o próximo passo na investigação destes humanos?

Encontrar mais, tanto na gruta Denisova como nas grutas dos Montes Altai, e sobretudo no resto da Ásia (China, Mongólia e Indonésia). Também estamos a fazer comparações genéticas mais detalhadas, através do aumento da amostra de homens modernos. Vai ser interessante ver onde estão conservadas no genoma as partes oriundas dos denisovanos.


Público
_______
 
Topo