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Morreu combatente da causa da cidadania

Rotertinho

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Saldanha Sanches: Fiscalista com presença mediática morre aos 66 anos
Morreu combatente da causa da cidadania

Os artigos nos jornais e comentários na televisão tornaram Saldanha Sanches, que ontem faleceu, com 66 anos, vítima de cancro, um homem prestigiado pelo seu saber, os pontos de vista de cidadão impoluto e interveniente, polémico sem medo. E o homem correspondia à imagem.

É famoso desde os anos 60 como um ‘puro e duro’. Defendia códigos de comportamento estritos e nunca virava a cara à luta: em 25 de Abril de 1974 estava preso em Caxias, por ser detido numa manifestação de rua onde não deviam aparecer pessoas como Saldanha Sanches, com vários anos de prisão. Mas a ele só o agarraram após ficar ferido ao saltar por uma janela.

Após concluir o curso de Direito, na Universidade Clássica de Lisboa, em 1980, fez mestrado em Ciências Jurídico-Económicas, em 1986, com 16, e ainda doutoramento, em 1996, com ‘Bom com Distinção’. Foi admirado como professor e viu reconhecida a competência profissional como fiscalista.

O seu estilo frontal e polémico vem-lhe da vida de combatente pela liberdade desde antes do 25 de Abril. Distinguiu-se nas associações de estudantes e foi preso pela primeira vez, em 1964, por distribuir panfletos contra a ditadura. Mas a polícia só o apanhou após atingi-lo a tiro, junto ao café Smarta, em Lisboa.

Na altura, era militante do PCP e foi defendido em ‘tribunal plenário’ por Mário Soares. Acabou absolvido e passou à clandestinidade, mas voltou a ser preso nos finais de 1965 por actividades contra a ditadura. Condenado, esteve seis anos no Forte de Peniche. Provou ser ‘puro e duro’: não falou apesar das torturas a que foi submetido e ficou com a fama de se ter virado aos pides.

A valentia mostrou-a ainda quando já no MRPP, em Outubro de 1972, transportou ao hospital o seu colega Ribeiro dos Santos, também de Direito, que morreu em consequência de um tiro da PIDE/DGS. Foi director do ‘Luta Popular’ mas na luta ‘linha negra-linha vermelha’ deixou o MRPP. Era casado com a procuradora Maria José Morgado, também ex-militante do MRPP.

PERFIL

José Luís Saldanha Sanches nasceu a 11/3/1944, em Lisboa. Licenciou-se em Direito com 16, fez mestrado e doutoramento. Era fiscalista prestigiado sem perder o estilo polémico.

REACÇÕES

"AMIGO QUE SE PERDE", João Amaral Tomaz, Fiscalista

"Tive a honra de trabalhar com ele e lamento imenso. É um grande amigo que se perde."

"FISCALISTA ELOGIADO", Diogo Leite de Campos, Fiscalista

"É uma perda extremamente grave de um fiscalista muito elogiado e carinhoso com os alunos."

"CIDADÃO DIGNO", Rogério Ferreira, Fiscalista

"Mesmo quando dissonante, fui sempre um seu admirador. Morreu um cidadão digno e honesto."

"HOMEM EXTRAORDINÁRIO", Sérgio Vasques, Sec. Estado Assuntos Fiscais

"Era um homem extraordinário. A verdadeira referência para os fiscalistas da minha geração."



NOTA EDITORIAL

PORTUGAL MAIS POBRE

Portugal ficou ainda mais pobre: morreu um homem livre.

Fiscalista de topo, o brilho de Saldanha Sanches não se esgotava numa definição de área de especialidade jurídica.

A coragem que conservou intacta desde a militância política radical e a independência de pensamento que conquistou após abandonar os dogmas fizeram de Saldanha Sanches uma voz incómoda, por tão lúcida, para os poderes que, pelo vício e inacção, vão delapidando o património comum de um povo.

No comentário oral, sempre simples e focado, ou em textos substantivos plenos de bons recursos literários e mais finas ironias, Saldanha Sanches tornou-se uma referência para os cidadãos deste País, que sempre quis melhor. Mais justo e mais limpo. A José Luís Saldanha Sanches se devem as mais agudas denúncias sobre a promiscuidade entre autarquias, construção civil e futebol. Com o habitual desassombro, foi também ele quem avisou para os estrangulamentos da investigação criminal em zonas do País onde agentes do Ministério Público são mais dóceis para com os poderes fácticos locais. Na sua intervenção cívica dos últimos anos, José Luís Saldanha Sanches deixa uma obra que se impõe revisitar agora que fisicamente nos deixa. À sua mulher de sempre, Maria José Morgado, filha e restante família, um forte e sentido abraço.


Correio da Manha
 
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