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Autor: MIGUEL PEREIRA
Vai para mais de uma década vi à venda uma reedição de um modelo original, de há 50 anos atrás, da Hernanos Zabala que me deixou embevecido. Tratava-se da clássica justaposta em calibre 12, com cães, platina inteira gravada, charme e bom gosto a um preço aliciante. No entanto, mesmo com tantos predicados o momento financeiro da altura não era o melhor para mim e as coisas ficariam por ali... não fosse ter comentado tal visão e preço com meu irmão.
Dois ou três dias depois dessa rápida conversa liga-me meu irmão com uma novidade totalmente inesperada:
- Olha estive a pensar no que me disses-te acerca da espingarda e decidi comprá-la para mim. Podes lá ir buscá-la? Mando-te os meus documentos por fax e faço transferência.
- Tens a certeza? Tu nem viste a espingarda ...!
- Epá, se gostas-te da espingarda é porque vale a pena e realmente avaliando pelo preço parece-me uma oportunidade a não desperdiçar.”
Fiquei sem palavras, mas obviamente que lhe disse que trataria do assunto. No fim-de-semana seguinte lá lha levei.
- Realmente é bonita. Valeu a pena!
Curiosamente a estreia da Zabala nesse ano só aconteceu pela minha mão em duas manhãs de espera aos tordos. Serviu bem para lhe espetar com cerca de duas centenas de tiros e iniciá-la nas lides. Outros pormenores interessantes é de que realmente me ficava bem no encare e balísticamente parecia também ter tudo no lugar, quer para tiros de média ou longa distância. Nesses dias os tordos não levaram a melhor, houve só que reaprender a rotina de armar e desarmar os cães entre tiros e recarregamento.
No entanto estava reservado à Zabala um longo descanso. Meu irmão só pegou nela episódicamente para uma caçada aos coelhos e foi tudo. Assim foi ficando abandonada e esquecida no armeiro porque meu irmão também é tradicionalmente um bocadinho avesso a mudar de rotinas e de armas. Um dia ainda lhe perguntei se a desgraçada estava condenada a apodrecer arrumada no armeiro.
O tempo foi passando e a Zabala volta a ter uma oportunidade de regressar ao campo novamente por meu intermédio. Tinha de ser eu a ir-me lembrando dela. Desta vez numa manhã às lebres. Mas, coitada, deu dois tiros e acabou-se. No entanto era para mim um prazer renovado tocá-la e olhar para ela durante um dia de caça. É realmente um tipo de arma com uma mística inigualável, e o facto de nos darmos bem entre nós quando chegavam os momentos da verdade também ajudava o seu bocadito.
Ouvi algumas vezes dizer a certos Confrades mais idosos que algumas espingardas são como as mulheres. Porque sem muita racionalidade, ou se gostam ou se detestam, por razões que nunca sabemos verdadeiramente explicar. Talvez nessa lógica, fui criando alguma cumplicidade manhosa com esta Zabala, e como, ainda por cima, o dono não lhe ligava a mínima ... a ocasião fez a traição!
Só que chegou o dia em que os nossos “namoros idílicos” se estragaram. No início desta época de caça condicionada em parte pela minha ausência por terras africanas, decidi, com alguma nostalgia, caçar sempre com a Zabala nos poucos dias que pude, como que a dar-lhe finalmente a oportunidade que ela nunca tinha tido a sério.
Vai para mais de uma década vi à venda uma reedição de um modelo original, de há 50 anos atrás, da Hernanos Zabala que me deixou embevecido. Tratava-se da clássica justaposta em calibre 12, com cães, platina inteira gravada, charme e bom gosto a um preço aliciante. No entanto, mesmo com tantos predicados o momento financeiro da altura não era o melhor para mim e as coisas ficariam por ali... não fosse ter comentado tal visão e preço com meu irmão.
Dois ou três dias depois dessa rápida conversa liga-me meu irmão com uma novidade totalmente inesperada:
- Olha estive a pensar no que me disses-te acerca da espingarda e decidi comprá-la para mim. Podes lá ir buscá-la? Mando-te os meus documentos por fax e faço transferência.
- Tens a certeza? Tu nem viste a espingarda ...!
- Epá, se gostas-te da espingarda é porque vale a pena e realmente avaliando pelo preço parece-me uma oportunidade a não desperdiçar.”
Fiquei sem palavras, mas obviamente que lhe disse que trataria do assunto. No fim-de-semana seguinte lá lha levei.
- Realmente é bonita. Valeu a pena!
Curiosamente a estreia da Zabala nesse ano só aconteceu pela minha mão em duas manhãs de espera aos tordos. Serviu bem para lhe espetar com cerca de duas centenas de tiros e iniciá-la nas lides. Outros pormenores interessantes é de que realmente me ficava bem no encare e balísticamente parecia também ter tudo no lugar, quer para tiros de média ou longa distância. Nesses dias os tordos não levaram a melhor, houve só que reaprender a rotina de armar e desarmar os cães entre tiros e recarregamento.
No entanto estava reservado à Zabala um longo descanso. Meu irmão só pegou nela episódicamente para uma caçada aos coelhos e foi tudo. Assim foi ficando abandonada e esquecida no armeiro porque meu irmão também é tradicionalmente um bocadinho avesso a mudar de rotinas e de armas. Um dia ainda lhe perguntei se a desgraçada estava condenada a apodrecer arrumada no armeiro.
O tempo foi passando e a Zabala volta a ter uma oportunidade de regressar ao campo novamente por meu intermédio. Tinha de ser eu a ir-me lembrando dela. Desta vez numa manhã às lebres. Mas, coitada, deu dois tiros e acabou-se. No entanto era para mim um prazer renovado tocá-la e olhar para ela durante um dia de caça. É realmente um tipo de arma com uma mística inigualável, e o facto de nos darmos bem entre nós quando chegavam os momentos da verdade também ajudava o seu bocadito.
Ouvi algumas vezes dizer a certos Confrades mais idosos que algumas espingardas são como as mulheres. Porque sem muita racionalidade, ou se gostam ou se detestam, por razões que nunca sabemos verdadeiramente explicar. Talvez nessa lógica, fui criando alguma cumplicidade manhosa com esta Zabala, e como, ainda por cima, o dono não lhe ligava a mínima ... a ocasião fez a traição!
Só que chegou o dia em que os nossos “namoros idílicos” se estragaram. No início desta época de caça condicionada em parte pela minha ausência por terras africanas, decidi, com alguma nostalgia, caçar sempre com a Zabala nos poucos dias que pude, como que a dar-lhe finalmente a oportunidade que ela nunca tinha tido a sério.