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Os sistemas de acasalamento dos animais

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Alexandre Vaz

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Em termos energéticos, a reprodução é uma das fases mais exigentes do ciclo de vida dos animais. Ao longo da evolução, diferentes espécies foram desenvolvendo diferentes estratégias de acasalamento, de modo a optimizarem esta fase crucial.

A cultura ocidental reconhece como padrão de acasalamento regular um sistema assente nas relações de cariz monogâmico. No entanto, como é sobejamente conhecido, não só a complexidade das relações de carácter sexual e potencialmente reprodutivo por detrás desse modelo é muito grande, como ainda, noutras culturas, a poligamia é uma prática institucionalizada e corrente.

A reprodução sexuada, comum a todos os animais, pressupõe o acasalamento. No mundo natural, existem vários sistemas de acasalamento distintos e não obstante existirem algumas excepções, de uma forma geral, aquilo que cada indivíduo procura é a maximização do seu sucesso reprodutor, fazendo tudo o que está ao seu alcance para garantir uma maior probabilidade de se reproduzir, transmitindo os seus genes às gerações vindouras. Nalguns casos particulares, se o acesso à reprodução está por qualquer razão condicionado a alguns indivíduos, estes por vezes optam por ajudar uma progenitora da família, contribuindo assim para que, pelo menos, alguns dos seus genes sejam transmitidos a gerações futuras.

Os sistemas de acasalamento classificam-se de acordo com o número de parceiros envolvidos e com a duração da associação entre eles. Os principais sistemas são os monogâmicos, poligâmicos e promíscuos.
As relações monogâmicas prolongam-se por toda a estação reprodutora, ou mesmo por toda a vida, e estabelecem-se entre dois indivíduos de sexos opostos, não envolvendo terceiros. Este tipo de associação é particularmente cara a espécies cujas crias necessitam de cuidados parentais continuados, como a esmagadora maioria das espécies de aves e alguns mamíferos, como as raposas e os mustelídeos. Se a fêmea sozinha não consegue assegurar a sobrevivência das crias, então ao macho interessa-lhe ajudá-la, para que os seus descendentes possam sobreviver.

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helldanger1

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Apesar das aves serem os “campeões da monogamia” e de mais de 90% das espécies estabelecerem relações desta natureza, muitas delas a durarem toda a vida, não só os “divórcios” ocorrem com uma certa frequência, como a infidelidade é também, para muitas espécies deste grupo, uma prática corrente. O acasalamento para a vida poupa o esforço sazonal de encontrar um parceiro, mas mesmo em espécies que tipicamente recorrem a esta estratégia, como os Pinguins de Adélia, as separações anuais podem, em casais já antigos, chegar aos 16%, e dos nos novos casais 44% só ficará junto por uma época. De uma forma geral, a probabilidade de separação aumenta na sequência de uma tentativa de reprodução falhada.

De entre as espécies de aves tradicionalmente monogâmicas, conhecem-se cerca de uma centena que, com maior ou menor frequência, copulam com indivíduos externos ao casal. Algumas vezes estas cópulas são forçadas pelos machos, mas muitas vezes são consentidas e até procuradas pelas fêmeas. Nestes casos, por vezes apenas metade da ninhada é que descende efectivamente do macho do casal. Para os machos esta é uma forma económica de transmitirem os seus genes, sem terem que investir nos cuidados parentais e de reduzir o risco de perda acidental da totalidade dos seus descendentes. Para as fêmeas não só é uma maneira de assegurar uma maior diversidade da sua ninhada, aumentando a probabilidade de que, pelo menos, algumas crias tenham sucesso, como podem ainda estar a optar por emparelhar com um macho que lhes seja fiel e eficaz nos cuidados a prestar às crias, mas preferir gerar crias com um outro eventualmente mais forte e saudável. Uma outra forma curiosa das fêmeas aumentarem a sua produtividade, consiste em sub-repticiamente porem ovos nos ninhos de outras fêmeas.
 

helldanger1

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As relações poligâmicas, muito frequentes em ungulados, como os veados, caracterizam-se pela existência de dois ou mais indivíduos que estabelecem uma relação com um outro, do sexo oposto. Se for um macho que controla várias fêmeas é um caso de poligenia, se for uma fêmea com acesso a vários machos trata-se de poliandria.




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Em muitos mamíferos, cujas fêmeas naturalmente amamentam, os machos não necessitam de investir grandemente na sobrevivência das crias, e ficam por isso libertos para defender o seu território, competir com outros machos e procurar constituir um harém, acasalando com quantas fêmeas conseguirem.

Existem vários factores que favorecem a poligamia e um deles é, obviamente, o desajuste entre o número de indivíduos de ambos os sexos. Também quando a distribuição dos recursos vitais de uma espécie é heterogénea, irá necessariamente haver territórios mais ricos do que outros e, frequentemente, as fêmeas preferem partilhar um macho “rico” do que ter um ”pobre” só para elas.​
 

helldanger1

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A poliandria é talvez o sistema de acasalamento menos frequente entre os animais; note-se que em apenas 1% das espécies de aves é que ocorre. Nestes casos, as fêmeas defendem os territórios favoráveis à nidificação, acasalam, e depois os diferentes machos incubam os ovos e cuidam da respectiva prole. Este é o caso de algumas limícolas do Árctico, como os falaropos, em que ao contrário do que é mais frequente, são as fêmeas que ostentam a plumagem mais colorida e espectacular.

Os sistemas de acasalamento promíscuos, considerados por alguns autores como um caso particular de poligamia, caracterizam-se pelo facto dos parceiros copularem indiscriminadamente, sem se estabelecerem para além disso qualquer tipo de relações.

Nalgumas aves, como os combatentes, ou em ungulados, como os gamos, as fêmeas dirigem-se a “arenas” onde os machos se exibem, para copular. Pensa-se que esta estratégia facilite que em ambientes por vezes adversos várias fêmeas e machos se encontrem, oferecendo maiores hipóteses de escolha. Curiosamente, sabe-se que para algumas espécies de aves, nestas arenas de exibição cerca de 10% dos machos conseguem copular com 80% das fêmeas, não sendo, por isso, uma estratégia igualmente compensadora para todos.

Apesar de toda a investigação feita nessa área, os motivos que fazem com que diferentes espécies ou, por vezes, até diferentes indivíduos dentro de uma mesma espécie, adoptem sistemas de acasalamento tão distintos permanece ainda em grande parte por explicar. Seguramente, a complexidade do ser humano extravasa em muito a componente biológica e a sexualidade vai muito mais além da reprodução. Mas numa área tão fértil em preconceitos como esta, é interessante olhar para o que se passa com os outros animais e procurar encontrar paralelos com alguns comportamentos humanos, que por vezes nos parecem bizarros e que temos dificuldade em compreender.
 
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