Caro MJTC,
A culpa é das pessoas, sim. Não estamos a falar de crianças, estamos a falar de homens e mulheres, adultos, que recorriam ao crédito para adquirir bens e produtos que não podiam pagar.
Os bancos não enganaram ninguém. A culpa é de quem se foi endividar. Não tem conta o número de cartões de crédito que me enviaram para casa e que foram directamente para o lixo. Até cheques assinados me enviam e eu deito-os fora.
Todas as sociedades procuram o lucro (lucro, em sentido restrito). Todas. Para quem estudou Direito, sabe perfeitamente que essa é, aliás, uma das grandes diferenças entre a pessoa colectiva "sociedade" e a pessoa colectiva "fundação". E os bancos são iguais às outras sociedades. Querer culpar os bancos por fazerem aquilo para que foram criados (ter lucro) é a mesma coisa que culpar a Santa Casa da Misericórdia por ajudar os pobres. Cada um foi criado com um fim. E cada um prossegue essa finalidade.
Criticar uma sociedade porque quer ter o máximo de lucro possível? É um verdadeiro paradoxo.
Eu vou dizer uma coisa que, se calhar, vai chocar muita gente, mas eu gosto deste sistema de crédito fácil por parte das entidades bancárias. Gosto dele porque eu a ele só recorro se quiser. E se um dia, por causa de uma doença, tiver de a ele recorrer, pois poderei fazê-lo calmamente e sem entraves. Todos se lembram de quando era dificil aceder ao crédito e quem o fazia pagava juros monstruosos.
No mais, caro membro MJTC, tudo o que V. Ex.a diz são balelas, sem interesse nenhum. Eu sou muito mais terra-a-terra: não vou estar à espera da mudança da "ordem económica mundial" porque essa não vai mudar. Eu vou é fazer a minha parte e tentar eu beneficiar desta ordem económica. Se as empresas dão lucro, vou é poupar (como sempre o fiz) comprar acções para me tornar num dos que beneficiam.
E, se puder, vou poupar e nenhum banco vai ganhar nada comigo. Se algum banco conseguir ter lucros fabulosos à custa dos parvos que, desnecessariamente, lá vão pedir o dinheiro emprestado, eu vou é tornar-me accionista desse banco para que eu possa ganhar igualmente com os parvinhos.
Gostaria de deixar, por fim, esclarecida uma ideia: eu não sou contra que cada pessoa tenha os luxos que entender. Eu sou é contra que o façam com o dinheiro que não juntaram previamente.
Cada pessoa terá a sua forma de o fazer.
Sem que seja nenhum segredo, deixo-vos aqui a minha fórmula:
- no início do mês, retiro logo uma parte do meu ordenado e ponho de lado (pelo menos 1/3, às vezes 1/2 do ordenado); Os subsídios de férias e Natal ponho-os totalmente de parte;
- do que me resta, eu "finjo" que sou fumador e ponho três euros em moedas (o dinheiro de um maço de tabaco), todos os dias, numa garrafa de plastico.
Este último dinheiro (o da garrafa) é o dinheiro das minhas férias, que eu poupo do que me resta. Para conseguir poupar este dinheiro, cortei a tv cabo (só tenho os 4 canais), deixei de jogar no Euromilhões, tenho internet pré-paga em carregamentos, quando vou às compras, levo uma lista feita de casa e só compro o que está na lista, nem que me apareça a maior promoção à frente e a pouca roupa ou calçado que compro, só o faço nos saldos.
Desta forma, com estes três euritos por dia (que coloco na garrafa, religiosamente, de Segunda a Domingo), num ano fui de férias à Tunísia. Dois anos depois fui a Creta. No próximo Verão irei a Israel.
Do outro dinheiro que ponho de parte, há quatro anos atrás comprei um carro novo, a pronto pagamento, sem pedir nada a banco nenhum. É fraquito - é um 1.4 - mas preferi assim a ter de pedir dinheiro ao banco.
O meu próximo objectivo é comprar um terreno a pronto pagamento. Para depois juntar e fazer lá uma casa. Há quatro anos que ando a trabalhar para isto. Daqui a 2 ou 3 anos, irei conseguir reunir a soma necessária. Talvez venha então a recorrer ao banco quando tiver de erguer a casa. Veremos se o farei e em que medida o farei.
Cada um saberá as linhas com que se cose. Pela minha parte, faço assim. E cada um que faça o melhor que souber e puder. Mas não estejam à espera que os outros façam o vosso trabalho de casa, nem esperem as ajudas dos outros. Cada um ajuda-se a si mesmo, sonhando, planeando para cumprir os sonhos e depois trabalhando para a prossecução dos seus sonhos (sejam eles quais forem).
Cumprimentos,