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Tunísia já alojou mais de 110 mil refugiados e ainda está à espera de mais

florindo

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É com os olhos muito fixos e um ar ríspido que a principal organizadora da Cruz Vermelha, na Tunísia, Soraya Chelly, corrige a minha pergunta: "Cruz Vermelha, não! Crescente Vermelho, por favor". Por momentos, o sorriso desaparece do rosto que, em tempos, foi uma das mais queridos da companhia aérea tunisina.

A religião também marca o ritmo na ajuda humanitária. Momentos antes, um grupo de escuteiros, com mais de 15 rapazes munidos vassouras e baldes, tinha sido impedido de ajudar na grande operação de recepção dos refugiados. Os militares, instigados pelas organizações humanitárias ligadas às comunidades islâmicas, travaram os rapazes, nem permitindo sequer que entrassem no perímetro definido para acolher os milhares de refugiados que diariamente vão chegando à Tunísia. Mesmo ao lado da fronteira, uma mesquita vai marcando o ritmo horário. Cada reza é devidamente assinalada e quase todas as operações são interrompidas para as habituais orações. Os líderes das organizações humanitárias e muitos voluntários não prescindem destes momentos.

Uma das excepções é Soraya Chelly que não tem mãos a medir, no apoio à gestão da organização Crescente Vermelho. Mal soube que a fronteira estava a acolher refugiados, ofereceu-se, como voluntária, para dar uma ajuda. Antiga comissária de bordo, agora reformada, Soraya empresta a experiência dos seus 59 anos, com a certeza que cumpre apenas a cultura do povo tunisino: "O povo é generoso, ninguém quer arredar daqui, todos regressam todos os dias e isso é maravilhoso. Nós somos fortes no coração". Longe do 'glamour ' dos aviões e das viagens, Soraya enverga hoje umas calças gastas e sujas, lenço amarrado à volta do pescoço, e não dá descanso a dois telemóveis, um em cada mão. Ora conversa em árabe, ora dá instruções em francês, ora desmultiplica-se em explicações em inglês. Em redor, as roupas e comidas, há muito, que lhe roubam qualquer espaço para se sentar.

A força desse coração tem sido testada, até ao limite, nestes últimos dias e, pelas previsões, vão ter de o manter forte. Ainda são esperadas milhares de pessoas que querem abandonar a Líbia.

Os que já chegaram relatam "uma acalmia" que se vive na Líbia, "sem tiros", mas "com uma grande tensão". Para já, a maior preocupação é cuidar dos mais de 15 mil que ainda sobrevivem num imenso bairro de tendas brancas e verdes, geridas pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR). E, entre eles, a maior dor de cabeça são os emigrantes do Bangladesh. A organização da ONU lamenta a distância que impede de os evacuar ao ritmo "aceitável". O porta-voz no terreno, Firas Kayal, lembra que ao contrário do que aconteceu com as outras nacionalidades, tem sido "difícil" organizar os voos de regresso. Nas cuidadosas palavras, presume-se também ligeira crítica ao governo do Bangladesh, que ainda não mostrou vontade de os receber. Mas os próprios refugiados preferiam ficar na Tunísia. Já na Líbia, a vida não em fácil. Muitos estavam sem receber há seis meses. No entanto, à chegada à fronteira, confessavam "preferir" estar sem salários na Líbia, do que voltar ao regime do Bangladesh. São estas susceptibilidades que devem ser geridas pelo ACNUR (ver caixa).

Guterres na Tunísia

Pela fronteira da Tunísia, já passaram mais de 110 mil pessoas de acordo com os números contabilizados pelo ACNUR. A esmagadora maioria já regressou aos países de origem, restando agora mais de 15 mil, entre eles, refugiados do Bangladesh, Sudão e Somália, que têm sido os mais "complicados" de gerir. E esta foi a maior operação deste género registada na Tunísia. O sucesso merece uma atenção especial por parte de- António Guterres. O Alto Comissário para os Refugiados desloca-se à fronteira da Tunísia amanhã e quarta-feira para assistir, 'in loco', como a "sua" organização e as autoridades tunisinas geriram a crise, sem provocar ump caos humanitário como poderia ser previsível. Afinal, a Tunísia enfrentou, há pouco tempo, uma convulsão social que levou ao derrube do regime e tem um governo provisório que passou, com nota máxima, por uma grande provação.

Jornal de Notícias
 
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