Pode ser má lingua minha mas juro que não compreendo.

"A entrega total a Cristo é a que inspira a decisão de viver o celibato pelo reino dos céus, o desprendimento dos bens da terra, a austeridade da vida e a obediência sincera e sem dissimulações " - Bento XVI

Juro que não compreendo. Entendo mas não compreendo. Como em tantas famílias convencionais cristãs, a minha sempre pautou pelo acérrimo seguimento das ditas regras. Repartir com o próximo, ajudar quem precisa e toda a cartilha que ouvimos na catequese... vi e assisti a todos estes momentos em casa dos meus pais, enquanto era catraia. Mais tarde, as dúvidas surgiram rápidas e a senhora minha mãe, desistiu de as combater com aqueles exemplos como se de uma dissertação dominical se tratasse e começou por optar pelo olhar reprovador e a frase célebre : "Não digas isso que é pecado".
Mas afinal o que é pecado? É pecado ficar curiosa entre os opostos do que se vê e do que se prega? É pecado tentar compreender porque os padres como homens que também são, sejam castrados como tal mas seja aceite e abençoado que a família dos mesmos cresça em afilhados e sobrinhas?
Não está escrito na biblia que os padres não podem constituir familia. Respeito a decisão de quem segue a via do celibato por fé mas abomino quem a tem de seguir por obrigação de caminho percorrido, só porque foi estudar num seminário e lá ficou para dar créditos grátis à familia e entrarem todos sem estar na fila, no reino de Deus. Antigamente, a culpa era das madrinhas abastadas que gostavam-se de purgar com os actos de boa vontade para com os pobrezinhos e agora a culpa é de quem?
A igreja católica tal como qualquer outra religião e como qualquer linha de pensamento, deve ou deveria ser capaz de evoluir para acompanhar as suas ovelhas nos pastos que povoam este mundo transgénico.
Séculos e séculos a moldarem-se aos interesses dos Reis, príncipes e princesas, enquanto a maioria afogava-se no nada. Que Deus os livrasse de fazerem muitas ondas porque aí, meus amigos... " Se penso, logo frito ". Agora pergunto onde está a coerência nisto? Dizem que os tempos evoluíram ( ainda fritamos de outras formas mas preocupados com saúde e o ambiente) estagnámos nós aceitando como naturais todas as imbecilidades morais apregoadas e conseguimos ser fieis às mesmas (mas sem madrinhas ricas na actualidade).
A austeridade de vida é pública, está comprovada e consome horas do pensamento. Estamos tão desprendidos dos bens terrenos já adquiridos que passamos o tempo todo a sonhar (mas é só sonhar... não conta para as estatísticas divinas) com a vivenda no condomínio fechado quando nem a prestação da casa no bairro conseguimos pagar. Entramos numa obediência cega na fé do consumismo com isto tudo ou não entramos? Então o que não se está a cumprir para ganhar o reino dos Céus?
Estamos entregues a Cristo, ao banco, à Santinha dos amuletos da sorte, ao fisco, à Igreja e até ao Diabo a sete (perdoem-me os mais católicos) mas até aqui nada de estranho... excepto, o celibato... Meu Deus, o celibato ajuda a ficar mais perto de Cristo? Então, Eminências pardas, Senhores Cardeais e afins... perdoem-me mas a maioria do vosso séquito irá morar para toda a eternidade num qualquer outro resort de luxo em paragens mais quentes.
Rezo para que as beatas os ajudem pois se a entrega total a Cristo passa pela inexistência de dissimulações então que tal varrerem a vossa casa abençoada tão pouco desprendida de bens terrenos antes de amaldiçoar as construções vizinhas?
Ainda bem que a senhora minha mãe não vai ler isto... Reconheçam que independentemente da fé e entrega de alma ao que acredita, o homem precisa de ser Homem tal como as crianças nascidas de um milagre como o de Maria agradecem o não serem sentenciadas a preencher currículos ao São Pedro para uma desistência na entrada dos portões celestiais.

Que Deus me perdoe mas desça à Terra e shame on you, Santissimo Padre