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Desastres Silenciosos

Satpa

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Campanha "Desastres Silenciosos": história do Uganda

Uganda: o poder da prevenção durante surtos epidémicos

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Victor Lacken, Uganda

Quando se trata de Febre Hemorrágica Ébola, nunca se é cuidadoso demais. Continua a ser um dos vírus mais mortíferos até agora identificados e desconhece-se a cura. O facto de ser altamente infeccioso e contagioso significa que um surto da febre deve ser imediatamente identificado e isolado.

Foi o que aconteceu em fins de 2012, no distrito de Luweero, na região centro do Uganda, quando surgiram relatos de um surto de Ébola. Assim que o primeiro caso foi confirmado - um motorista de táxi que adoeceu com os sintomas e que acabou por morrer - a Sociedade da Cruz Vermelha do Uganda interveio com uma campanha que visava informar as pessoas sobre como limitar ou prevenir melhor a propagação da doença.

Tratou-se do segundo surto de Ébola no Uganda num período de três meses, sem que tenha sido estabelecida qualquer relação entre ambos.

“Assim que se anunciou o surto no nosso distrito, os voluntários foram imediatamente destacados e iniciaram a sensibilização porta-a-porta das comunidades”, afirmou Annet Nampima, directora da representação da Cruz Vermelha do Uganda no distrito de Luweero. “Esta acção contribuiu de facto para a divulgação das mensagens sobre o Ébola e inclusivamente para mudar a atitude e os hábitos nas comunidades.”

Os voluntários da Cruz Vermelha visitaram famílias na zona, afixando cartazes, distribuindo brochuras e dando conselhos práticos sobre o que fazer no caso de suspeita de infecção de um familiar. A reacção por parte das famílias visitadas foi na grande maioria positiva, mas alguns voluntários depararam-se em alguns bairros com uma certa resistência à prática de evitar o contacto físico com pessoas suspeitas de serem portadoras da doença.

“Na sua cultura, por exemplo, existe o hábito de lavar os mortos, mas com este surto e na sequência da sensibilização, este hábito mudou. As pessoas começaram de facto a acreditar que precisam de vestuário e equipamento de protecção para estarem em contacto com cadáveres", afirmou Annet.

As superstições e a crença na feitiçaria também representaram um desafio para os voluntários que procuravam ensinar às pessoas como prevenir a propagação do vírus. Porém, a sua mensagem manteve-se inalterada: há medidas práticas que podem reduzir os riscos.

Em geral, os habitantes da província de Luweero não são abastados e a suspeita de que alguém possa estar infectado pelo Ébola pode ter efeitos devastadores, mesmo se posteriormente a suspeita não se confirmar. Isto porque a suposta vítima é isolada e muitos dos seus pertences – roupa, colchões, loiça e tachos – são destruídos como precaução contra a propagação do vírus.

A Sociedade da Cruz Vermelha do Uganda interveio para ajudar estas pessoas depois de receberem alta do hospital, oferecendo-lhes colchões, artigos de cozinha, desinfectantes, recipientes para água e mosquiteiros para substituir o que tinha sido destruído.

Infelizmente, os surtos epidémicos no Uganda são cada vez mais frequentes. Nos últimos 12 anos, o Uganda foi atingido por quatro surtos de Ébola. Ainda em 2012, enfrentou dois surtos de cólera e um surto de Marburgo. À semelhança do procedimento aquando dos surtos de Ébola, a Cruz Vermelha do Uganda divulgou informação essencial em matéria de higiene e saúde a quase 7 milhões de pessoas em todas as zonas afectadas do país para ajudar a travar a propagação das doenças.

Estes surtos epidémicos no Uganda são prova da actual tendência crescente de emergências de saúde e desastres "silenciosos" recorrentes, de menor dimensões, em todo o mundo. Não são definitivamente silenciosos para as pessoas, famílias e comunidades afectadas.

Nos recentes surtos epidémicos de 2012, a Cruz Vermelha ajudou 70 000 pessoas e respectivas famílias afectadas por estas doenças – e preveniu a propagação da epidemia a milhões de outras – com o apoio do serviço de Ajuda Humanitária e Protecção Civil da Comissão Europeia.


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Campanha "Desastres Silenciosos": história do Bangladesh

Campanha "Desastres Silenciosos": história do Bangladesh

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Bangladesh: Enfrentar as tempestades

Maherin Ahmed, Daca

O Bangladesh é um dos países mais vulneráveis a riscos climáticos, ciclones tropicais e tempestades, que afectam milhares de pessoas todos os anos. É ainda um dos países mais pobres e com maior densidade populacional no continente Asiático.

"A tempestade começou às três da manhã e durou até às sete. Senti que o telhado podia desabar a qualquer momento. Fugi com a minha família e, momentos depois, a minha casa desabou”, relatou Mohammad Shahidullah, que trabalha ao dia numa zona costeira remota, fustigada por uma tempestade tropical em Outubro de 2012. “O vento estava tão feroz que não era seguro ficar lá fora. Corremos para casa de um vizinho à procura de abrigo. Foi particularmente difícil para a minha mãe. Assim que conseguimos sair, a casa desabou”, afirmou Shahid, como é conhecido na zona.

O Bangladesh foi mais uma vez atingido por uma violenta tempestade nos distritos costeiros de Noakhali, Bhola e Chittagong. A tempestade formou-se tão depressa que as comunidades da área afectada não foram devidamente informadas da sua chegada. O ciclone provocou 36 mortes, deixando um rasto de destruição no seu rescaldo, com casas arrasadas, barcos e redes de pescas destruídos, hectares de terras agrícolas danificados e meios de subsistência perdidos.

Shahid acordou com o uivar do vento. A sua frágil casa abanava com a tempestade que soprava violentamente lá fora. Shahid sentiu que algo estava errado e apressou-se a acordar a mulher, as duas filhas e a mãe de 90 anos. Por pouco não ficaram soterrados nos escombros da casa que desabou.

Shahid e a sua família regressaram a casa assim que os ventos acalmaram, deparando-se com a sua destruição total. Construíram um abrigo provisório de cartão. A família não tinha quaisquer poupanças ou recursos financeiros para reconstruir um novo abrigo.

“O Crescente Vermelho disponibilizou-nos lona, 2 000 taka (23 francos suíços ou 24 dólares americanos), arroz e água potável”, explicou Shahid. “Utilizei a lona que recebi para cobrir o telhado da minha casa, o que nos proporcionou um refúgio imediato. Mais tarde, com os 2 000 taka, reparei a minha casa. Juntei latas velhas, a lona, bambu, feno e preguei tudo para ter onde dormir.”

Shahid também explicou como o arroz ajudou a sua família a sobreviver na primeira semana após a tempestade, “O Crescente Vermelho tem sido um amigo em momentos de dificuldade. Como poderia ter alimentado as minhas filhas e a minha mãe idosa se não me tivessem dado arroz?”

A história de Shahid repete-se nas comunidades atingidas por tempestades. Apesar de muitos conseguirem regressar às suas casas danificadas para começarem a reconstruir as suas vidas, continuam vulneráveis.

“As tempestades no Bangladesh ocorrem com tanta frequência que já nem chamam a atenção do público. Porém, aqueles que são afectados já se encontram muitas vezes numa situação vulnerável. Não obstante terem criado mecanismos de reacção ao longo dos anos, ainda precisam da nossa assistência”, afirmou Tsehayou Seyoum, representante no Bangladesh da Federação Internacional da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho (FICV). “A maioria das comunidades nas áreas afectadas já vive na pobreza. Não têm seguro ou poupanças nos quais se apoiar e afundam-se cada vez mais na pobreza.”

Voluntários e pessoal da Sociedade do Crescente Vermelho do Bangladesh disponibilizaram assistência de emergência a quase 25 000 pessoas das ilhas afectadas, incluindo alimentos, água potável e abrigos de emergência. As famílias também receberam pequenas subvenções em dinheiro para darem resposta a outras necessidades imediatas.

Além de oferecermos assistência de emergência, é também importante que comecemos a ajudar as pessoas a assumirem o controlo da sua própria recuperação para que comecem a reconstruir a sua vida e meios de subsistência”, afirma o Secretário-Geral do Crescente Vermelho do Bangladesh, Abu Bakar.

O serviço de Ajuda Humanitária e Protecção Civil da Comissão Europeia (ECHO) prestou apoio financeiro à recente resposta da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho a esta tempestade tropical, bem como à resposta a outra tempestade e consequentes inundações em Junho, Julho e Agosto, nas regiões Norte e Sudeste do Bangladesh.


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Campanha "Desastres Silenciosos": história do Burkina Faso

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Burkina Faso: escassez alimentar deixa famílias à beira da crise

Sanna Negus, Cruz Vermelha Finlandesa

No Norte do Burkina Faso, várias mulheres reunidas numa planície arenosa, com os seus filhos, fazem fila para receber comida. Começa a chover e ouve-se uma criança chorar, mas a ordem mantém-se. Ao chegarem ao início da fila, as crianças recebem uma porção de papa nutritiva de amendoim. Esta pasta, barata, é o que muitas vezes separa estas famílias da má-nutrição crónica.

No início de 2012, a crise alimentar no Sahel - um conjunto de países ao longo do Norte de África, desde o Atlântico ao Mar Vermelho - apresentava os já elevados níveis de má nutrição da região. O fracasso da colheita do ano anterior ficou a dever-se à irregularidade das chuvas, pela terceira vez em dez anos. Aliado à pobreza crónica, aos elevados preços dos alimentos e à instabilidade política, impediu muitas comunidades de ultrapassarem a situação.

Segundo as Nações Unidas, em Abril de 2012, mais de 18 milhões de pessoas enfrentavam a insegurança alimentar, em particular no Senegal, Burkina Faso, Mali, Mauritânia, Gâmbia, Níger e Chade.

Marie-Christine Cormier, colaboradora da Cruz Vermelha Belga no Burkina Faso, sublinhou a ligação estreita entre a segurança alimentar e a má nutrição. “As famílias vulneráveis que não conseguem comprar comida, ou que têm colheitas escassas, não conseguirão alimentar-se”, afirmou. “Por conseguinte, as crianças com menos de cinco anos apresentam um risco mais elevado de má nutrição.”

Minadawo Darawos estava desesperada: suspeitava que o seu bebé chorava sem parar devido à fome. O minúsculo bebé de 11 meses estava doente e a sofrer.

“Levei a minha filha ao centro de rastreio, onde lhe diagnosticaram má nutrição", disse Minadawo. “Estava desesperada quando a minha filha adoeceu, mas assim que recebeu assistência eu soube que ela iria sobreviver.”

A Cruz Vermelha do Burkina Faso criou comissões de nutrição comunitária para aliviar a pressão sobre os centros de saúde, efectuando o rastreio de casos de má nutrição e educando a população no sentido de assegurar que as mães sabem utilizar da melhor forma os recursos disponíveis. Fazem ainda o acompanhamento de casos diagnosticados.

Não obstante a escassez alimentar, as mães participantes no programa aprenderam a tirar o máximo partido daquilo de que dispunham.

Wodrawo Sanata, com nove filhos, afirmou que o aconselhamento e o apoio que recebeu fizeram verdadeiramente a diferença para as vidas da sua família. "Antes conseguíamos pôr comida na mesa, mas durante a actual crise alimentar tem sido difícil alimentar uma família grande", afirmou. “Graças à educação alimentar, consigo fazê-lo. Agora sei como alimentar o meu filho mais novo. Os outros não estão numa situação crítica.”

O Burkina Faso é um dos dez países mais pobres do mundo, de acordo com o Índice de Desenvolvimento Humano das Nações Unidas. A esperança de vida é de apenas 52 anos e quase um terço das crianças com menos de cinco anos sofre de má nutrição crónica. Dez por cento sofrem de má nutrição grave.

A Cruz Vermelha Belga trabalha com a Cruz Vermelha do Burkina Faso desde 2007, com o apoio do serviço de Ajuda Humanitária e Protecção Civil da Comissão Europeia (ECHO), para ajudar cerca de 62.000 pessoas afectadas por esta crise recorrente. O programa prestou assistência a pessoas em 210 aldeias isoladas, em 9 províncias mais afectadas pela má nutrição. Nestas aldeias, 25% das crianças e 30% das grávidas estavam gravemente malnutridas.

Nos últimos anos, os níveis de má nutrição entre crianças, grávidas e puérperas participantes no projecto, diminuíram consideravelmente. Com vista a assegurar a sustentabilidade do programa da Cruz Vermelha, mais de 1.200 voluntários também receberam formação em comunidades de todo o país, num esforço no sentido de continuar a combater este desastre silencioso.

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Campanha "Desastres Silenciosos": história do Burundi

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Burundi: Uma luta longa e silenciosa

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Há catástrofes que acontecem num instante. As suas consequências poderão durar muitos anos, mas geralmente são óbvias de imediato. Há também catástrofes que acontecem devagar, os seus efeitos vão-se acumulando ao longo do tempo mas nunca alcançam uma massa crítica que capte a atenção do mundo. Existem ainda as catástrofes que, por uma variedade de motivos, nunca chegam às manchetes, mas que têm um impacto imediato e óbvio numa comunidade e que se mantêm, não perdendo a sua força para os afectados.

Em 1993, dezenas de milhares de pessoas fugiram da guerra civil no Burundi para países vizinhos, incluindo a Tanzânia, onde foram organizados campos para os alojar até que pudessem regressar a casa. Vinte anos depois, todos os campos, com a excepção de um, foram encerrados, reencaminhando 35.000 refugiados para “casa” num país que tanto mudou desde que de lá fugiram. Para quem nasceu nos campos, é uma casa que provavelmente nunca viram.

Apesar de a tensão do regresso ser enorme, o caos da transferência entre campos e a repatriação implicaram consequências involuntárias sérias.

Donatien Nsaguye, 58 anos, é um dos 35.000 antigos refugiados que deixaram a Tanzânia no final de 2012. Enquanto refugiado, Donatien percorreu uma série de campos com a sua família e, finalmente, regressou ao Burundi.

Na mudança final da Tanzânia para o local de passagem de Mabanda no Burundi, foi separado da sua mulher e cinco filhos. “Quando chegámos a este lado da fronteira, as pessoas fugiram em todas as direcções, por isso foi caótico”, afirmou. “Quero encontrar a minha família antes de me instalar em qualquer lado. E estou preocupado com a nossa segurança, preciso de avaliar a situação com cuidado antes de assentar.”

A história de famílias separadas é comum e, nesse sentido, equipas de voluntários da Sociedade da Cruz Vermelha do Burundi estão em campos de trânsito todos os dias a conduzir serviços de localização e restabelecimento dos laços familiares, bem como a fazerem o que podem para dar algum conforto às pessoas antes de partirem.

Anselme Katiyunguruza, secretário-geral da Sociedade da Cruz Vermelha do Burundi, afirmou que são necessárias soluções a longo prazo. “A luta dos repatriados não irá terminar assim que regressarem ao Burundi. Precisamos de facto de pensar em formas de apoiar estas famílias no seu novo ambiente”, afirmou.

A Federação Internacional das Sociedades da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho está a prestar apoio à Sociedade da Cruz Vermelha do Burundi para oferecer assistência de emergência e ajudar as famílias de repatriados a orientarem-se e integrarem-se nas comunidades anfitriãs. Receosos, perdidos, confusos e excluídos, a luta silenciosa destas famílias continua.

A Cruz Vermelha Espanhola, com o apoio do serviço de Ajuda Humanitária e da Protecção Civil da Comissão Europeia (ECHO), continua a levar a cabo programas essenciais no único campo de refugiados que resta na Tanzânia, disponibilizando cuidados básicos de saúde, apoio à saúde materno-infantil e aconselhamento nutricional, com vista a garantir que as necessidades dos mais vulneráveis são ouvidas e colmatadas. O programa global alcançou populações inteiras de campos – entre 100.000 e 250.000 pessoas – todos os anos entre 2005 e 2012.


 

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Campanha "Desastres Silenciosos": história de El Salvador

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El Salvador: Vigilância e educação para combater a dengue em comunidades

Enrique Guevara, Panamá

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A gravidade da febre de dengue é muitas vezes subestimada mas, todos os anos, mata milhares de pessoas e coloca outros milhões em risco. Uma resposta eficaz exige vigilância na prevenção e investimento para colocar materiais educacionais nas mãos daqueles que estão em melhores condições de actuar e de os partilhar. Tal como muitos países tropicais, El Salvador vive sob a ameaça constante de chuvas sazonais, que muitas vezes conduzem a cheias e deslizamento de terras. Porém, estas catástrofes podem aumentar o risco de outra: a febre de dengue. A dengue é provocada pela picada de uma espécie de mosquito que se reproduz em poças de água pura ou de água da chuva. Pode ser muito perigosa, mas também pode ser prevenida. Este tipo de catástrofe de eclosão lenta pode afectar comunidades já vulneráveis - com um impacto particularmente significativo nas crianças e jovens, que podem ter uma imunidade mais baixa do que os adultos. Poderá não inspirar as manchetes internacionais, mas um surto generalizado de dengue pode resultar em mais mortes e destruição do que uma catástrofe repentina, como um sismo.

No quadro da sua resposta a um recente surto de dengue em El Salvador, e com o financiamento do serviço de Ajuda Humanitária e Protecção Civil da Comissão Europeia (ECHO) e da Federação Internacional de Sociedades da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho, a Cruz Vermelha de El Salvador levou a cabo uma série de actividades de prevenção da dengue, incluindo campanhas de sensibilização e educação pública em escolas e comunidades. A Cruz Vermelha ajudou ainda a controlar ou erradicar a presença de mosquitos em locais de reprodução dos mesmos - como poças de água da chuva - que poderiam provocar infecções.

Oscar Armando Mendoza, estudante no Centro Escolar Milingo, vive no Habitat Confien com a sua mãe e três irmãos. Participou num ateliê de prevenção na sua escola, na sequência de um recente pico de casos. A sua escola foi uma das 250 visitadas pela Cruz Vermelha, num esforço que chegou a mais de 230.000 alunos. Para Oscar e a sua família, a dengue não é um desastre silencioso. Ao seu irmão mais velho foi diagnosticada dengue com complicações, que pode ser fatal. "Começou por sangrar do nariz e no início pensávamos que se tinha magoado ", conta Oscar. "Mas não parava de sangrar e a minha mãe levou-o ao hospital, onde foi diagnosticado." O irmão de Oscar ficou um mês no hospital. O ateliê no qual participou Oscar ensinou os estudantes a fazerem armadilhas caseiras com materiais acessíveis. Começaram por fazê-lo em aulas individuais e depois estendeu-se a toda a escola, tendo sido pedido aos estudantes que transmitissem às comunidades o que tinham aprendido.

“Ensinaram-nos a partilhar o conhecimento com as nossas famílias e depois incentivaram-nos a fazer apresentações sobre as consequências da dengue”, disse Oscar. “Aprendemos a prevenir a doença e estamos preparados porque evitamos recipientes que possam acumular água, limpamos a nossa casa, tapamos barris e baldes.” As mensagens partiram das escolas rumo às famílias, centros comerciais, acabando por chegar a mais 170.000 pessoas. Além das acções educativas, em parceria com o governo, a Cruz Vermelha lançou um programa de fumigação de mais de 47.000 casas vulneráveis à infestação de mosquitos.

“A dengue é um grave problema mundial de saúde pública e o governo, autoridades da saúde, instituições locais e comunidades afectadas devem participar no seu combate”, afirmou Fernando Fernández, Coordenador Regional de Saúde da ECHO para a América Latina e Caraíbas. “A ECHO contribui com intervenções centradas nas comunidades mais vulneráveis e de mais difícil acesso.”

As medidas a curto-prazo, como a fumigação, são essenciais e proporcionam um alívio imediato às comunidades e famílias afectadas, mas a Cruz Vermelha de El Salvador - em parceria com autoridades regionais e nacionais, escolas e líderes das comunidades - está ainda a trabalhar em projectos sustentáveis que ajudam as comunidades a prevenirem e enfrentarem surtos futuros. A luta contra a dengue é longa e difícil, mas Oscar e a sua família - como muitas outras - agiram com firmeza para responder à crise imediata e melhorar a preparação e resiliência da sua comunidade.


 

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Campanha "Desastres Silenciosos": situação no Tajiquistão

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Tajiquistão: ultrapassar o trauma após um sismo

Abdulfattoh Shafiev, Tajiquistão

Mohira, com cinco anos, ainda tem receio de sair de manhã e tem mesmo demasiado medo para abrir a porta de casa. A memória de uma experiência assustadora acompanha-a até hoje.

A 13 de Maio de 2012, um poderoso sismo de 5,7 atingiu o Tajiquistão oriental. A vila de Mohira encontrava-se perto do epicentro e foi a mais afectada. Mais de 200 casas foram destruídas ou danificadas durante o sismo, deixando mais de 2.000 pessoas a precisar de abrigo e ajuda imediata.

A mãe de Mohira, que acordou momentos antes do sismo, sentiu os primeiros abalos. Abanou de imediato os seus filhos para os acordar e abriu rapidamente a porta para que pudessem correr para o exterior. Conseguiu tirá-los de lá – todos menos um. Não se apercebeu de que a sua menina tinha ficado para trás. Não sabia que Mohira estava presa debaixo do estuque caído e incapaz de se libertar e sair de casa sozinha.

Com a preocupação reflectida no seu olhar, a mãe de Mohira pergunta-se: “o que fazer para que as más memórias desapareçam do pensamento da minha menina? Como me perdoo a mim própria? O medo persiste no coração da pequena Mohira.”

Muitas das crianças que sobreviveram ao sismo devastador ainda estão a viver com o choque e o medo da experiência. Para ajudar as pessoas a ultrapassarem o trauma frequente após um grande sismo, a Sociedade do Crescente Vermelho do Tajiquistão implementou o seu maior projecto de apoio psicossocial de sempre, com a ajuda da Federação Internacional das Sociedades da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho (FICV) e do serviço de Ajuda Humanitária e da Protecção Civil da Comissão Europeia (ECHO).

Os psicólogos formados do Crescente Vermelho visitaram vilas e escolas, falaram com adultos e crianças e ajudaram-nos a regressar à rotina e à normalidade.

Sharifa, uma estudante de 22 anos que estava em casa com os seus pais e três irmãos, diz que se lembra de um som terrível da terra a abanar e do medo por ninguém saber o que se estava a passar ou o que fazer. Para muitas famílias, tudo o que tinham ficou esmagado sob as suas casas destruídas.

As primeiras pessoas que vierem ajudar foram residentes de vilas vizinhas que sofreram muito menos estragos do que Gharibon. Trouxeram comida e receberam famílias nas suas casas. Nos dias seguintes, chegaram tendas, reservas de emergência, incluindo alimentos, cobertores e conjuntos de cozinha, das autoridades e da Sociedade do Crescente Vermelho do Tajiquistão. As famílias cujas casas foram danificadas ou destruídas, receberam materiais de construção das autoridades e ferramentas de construção do Crescente Vermelho. Receberam ainda formação para construir casas novas e mais robustas capazes de resistir a catástrofes.

Haqrizo, pai de 12 filhos, é construtor. Não estava na vila na manhã do sismo. Regressou dois dias mais tarde a uma casa destruída. Afirmou que nunca pensou que uma catástrofe semelhante pudesse acontecer. Não sabia que era importante construir uma casa de acordo com determinadas especificações para proteger a sua família do impacto devastador de um sismo. Agora que adquiriu conhecimento e capacidades através do Crescente Vermelho, planeia construir uma casa melhor para a sua família e vizinhos.

A Cruz Vermelha e o Crescente Vermelho e a ECHO prestaram assistência de emergência crítica a mais de 3 000 pessoas afectadas por este sismo devastador e ajudaram as famílias a prepararem-se melhor para a eventualidade de uma nova catástrofe.


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Campanha "Desastres Silenciosos": história da Mongólia

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Mongólia: Frio extremo empurra famílias de uma vida tradicional para favelas urbanas

Pekka Reinikainen, Cruz Vermelha Finlandesa

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Em mongol, dzud significa desastre silencioso. Poucos conhecerão a palavra, apesar de milhares sofrerem as suas consequências. Não é uma palavra fácil de traduzir.

O dzud é anunciado por um Verão seco que resulta numa colheita de feno fraca para as rações do Inverno. Um dzud negro caracteriza-se por um frio extremo – até -50°C – e um dzud branco alia este frio a enormes quantidades de neve. Trata-se de um fenómeno que pode ter um sério impacto na vida e meios de subsistência de quem vive na Mongólia.

Os mongóis cresceram habituados a enfrentar os efeitos do frio, mas o dzud mata o gado quando este é exposto a temperaturas extremamente baixas e ventos cortantes. Os animais poderão ainda passar fome quando a erva fica soterrada na neve ou presa em blocos de gelo.

Durante milhares de anos, os pastores mongóis nómadas sentiram-se protegidos e seguros sob o céu aberto das estepes e desertos deste vasto país. Porém, como consequência directa do dzud, milhares de pastores e as suas famílias são forçados a reinstalarem-se longe do seu lar, acabando atulhados nas favelas de tendas da capital Ulaanbaatar e de outras cidades.

Na viagem entre uma extensão sem fronteiras e as favelas das cidades, estas pessoas, outrora livres, não perdem apenas os seus meios de subsistência, mas também a cultura e as tradições que evoluíram ao longo de milhares de anos.

No início dos anos noventa, o desenvolvimento da economia de mercado lançou muitos mongóis para o desemprego e estima-se que mais de 150.000 pessoas tenham enveredado pelo pastoreio. O efectivo pecuário do país – vacas, iaques, camelos, cavalos, cabras e ovelhas - aumentou de 26 milhões de cabeças em 1992 para 33 milhões em 1998. O sobrepastoreio das terras exacerbou os efeitos do período de dzud.

A Mongólia passou pelo pior dzud em 2009-2010, quando 8,5 milhões de cabeças de gado – 18% do gado nacional – pereceram durante o Inverno. No aimag (província) de Uvs, as temperaturas nocturnas caíram para mínimas que chegaram aos -48°C, e este frio manteve-se por 55 dias. O aimag de Uvurkhangai foi a região mais afectada, tendo perdido 1,6 milhões de animais, quase metade do seu gado. No início da década, esta região sofreu quatro dzud, três dos quais em anos consecutivos.

Entre 1999 e 2002, o dzud matou 11 milhões de cabeças de gado. Mais de 9.000 famílias perderam todo o seu gado e 33.000 famílias perderam metade.

Para famílias mongóis de pastores, perder o gado é uma calamidade e é este o destino de dezenas de milhares de famílias que se deslocaram para as cidades, a maioria para as favelas de Ulaanbaatar.

Em resposta ao dzud, entre o Verão de 2010 e a Primavera de 2011, a Cruz Vermelha Finlandesa recebeu fundos do serviço de Ajuda Humanitária e Protecção Civil (ECHO) para levar a cabo um programa juntamente com a Sociedade da Cruz Vermelha Mongol. Cerca de 9.000 pessoas afectadas pelo dzud receberam assistência para recuperarem mais depressa e reforçarem a sua resiliência a catástrofes futuras.

O programa concentrou-se nas famílias mais vulneráveis, como famílias mono-parentais ou chefiadas por mulheres, famílias particularmente numerosas, famílias extremamente pobres, bem como famílias com membros portadores de deficiência, em cinco províncias rurais e nove distritos da capital Ulaanbaatar. Mais de 2.700 famílias, que ainda praticam o estilo de vida nómada tradicional do pastoreio, receberam apoio nas províncias rurais e 5.040 pessoas, deslocadas internamente por terem perdido o seu gado e meios de subsistência, foram também visadas para receber visitas de assistência social e apoio material.

As actividades do programa ajudaram ainda a preparar comunidades, representações da Cruz Vermelha e autoridades locais para o dzud seguinte. Através de formação e outros apoios – como o reforço de casas e aumento de reservas de feno –, as pessoas aprenderam a recuperar mais depressa depois da próxima catástrofe.

Desde 2009, a Cruz Vermelha Finlandesa, a Cruz Vermelha Britânica e a Federação Internacional das Sociedades da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho também apoiam directamente os programas de assistência social da Sociedade da Cruz Vermelha Mongol que visam mitigar os efeitos da desintegração social resultantes de dzud e fenómenos relacionados.


 

Satpa

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Campanha "Desastres Silenciosos": historia do Equador

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Cheias trazem mais desafios a comunidades vulneráveis no Equador

Enrique Guevara, Panamá

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A chuva intensa não constitui um fenómeno novo na região Andina da América do Sul. Porém, não obstante as grandes perturbações que muitas vezes as chuvas provocam na vida e meios de subsistência de milhares de pessoas, a sua “regularidade” implica que frequentemente não são devidamente relatadas ou não conseguem captar a atenção do grande público.

No início de 2012, o Equador foi atingido por uma série de tempestades violentas que provocaram cheias, inundações de margens de rios e deslizamento de terras. Voluntários da Cruz Vermelha do Equador agiram de imediato nas províncias mais atingidas para salvar e evacuar as pessoas afectadas, oferecer cuidados pré-hospitalares e apoio psicológico, bem como para avaliar a dimensão dos estragos e necessidades.

Teresa Basurto tem três filhos, o mais novo tem 14 anos e estuda a mais de 300 km de casa, em La Armenia. Os dois filhos mais velhos casaram e saíram de casa. Quando uma tempestade violenta atingiu o distrito, a sua casa inundou e Teresa perdeu as suas colheitas de arroz, galinhas e porcos – as principais fontes de rendimento para a sua família.

Felizmente, a sua casa, feita de cana e com um telhado de zinco, resistiu ao ataque, mas Teresa foi avisada para se afastar durante o período pior da intempérie, devido ao risco de mais cheias. Um período curto de evacuação, durante o qual Teresa ficou com familiares, transformou-se num mês e meio longe de casa.

Teresa recorda-se que a situação piorou por não ter trabalho, mas com a ajuda de amigos que lhe deram sementes de arroz pôde voltar a trabalhar. Recuperar esta fonte de rendimento revelou-se fundamental e permitiu-lhe comprar arroz tratado para utilizar como semente.

A experiência de Teresa está longe de ser única. O Secretariado Nacional de Gestão de Risco no Equador afirma que a tempestade afectou mais de 121.000 pessoas. Mais de 7.340 pessoas tiveram de abandonar as suas casas e ficar em abrigos ou junto de familiares. As cheias danificaram ou destruíram casas, escolas, estradas, pontes e outras infra-estruturas cruciais.

Com o apoio da Federação Internacional das Sociedades da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho (FICV) e o financiamento do serviço de Ajuda Humanitária e da Protecção Civil da Comissão Europeia (ECHO), a Cruz Vermelha do Equador disponibilizou assistência alimentar e kits de higiene, divulgou informação sobre prevenção de doenças e promoção da saúde às famílias nas províncias costeiras de Manabi, Los Rios e Guayas.

Os efeitos das tempestades sobre a agricultura têm um impacto significativo sobre a capacidade de recuperação de uma comunidade. Rodolfo Carriel é um agricultor que vive em Bebo, no distrito de Salitre. Já passou por muitas cheias, mas a gravidade da catástrofe de 2012 apanhou-o de surpresa.

Quando a tempestade rebentou, Rodolfo estava no Comité Comunitário de Salitre e reagiu à emergência com amigos do Comité. Uma parede de 20 metros desabou e provocou uma enorme cheia que deixou a sua família sem colheitas de arroz nem animais e com um pedaço de terra insuficiente para trabalhar. A família estava arrasada. ”Ficámos quase sem casa”, afirma.

Além da assistência de emergência, a Cruz Vermelha do Equador também começou a preparar as comunidades para o risco de doenças transmitidas pela água, como a dengue, que podem surgir na sequência de cheias significativas. “Sinto-me muito grato porque a ajuda chegou mesmo quando precisámos dela”, afirma Rodolfo.

Teresa receia que se as cheias desde ano forem tão graves, as comunidades não estejam completamente preparadas. Todavia, através de programas apoiados pela Sociedade Nacional, a FICV e a ECHO, pelo menos estarão conscientes dos riscos e conhecerão algumas formas de minimizar o impacto.


 

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Campanha "Desastres Silenciosos": história do Lesoto

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Lesoto: Cuidados para quem cuida na África Austral afectada pela crise

John Sparrow, Lesoto

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Se perguntarmos a Malikhang Matsoakeletse, voluntária da Cruz Vermelha, o que afecta as aldeias dos vales do Lesoto ela leva-nos aos seus clientes: idosos sozinhos e com fome, mães em dificuldades, crianças órfãs, pessoas infectadas com o VIH e avós pobres que cuidam dos filhos dos seus filhos. Na manhã em que nos conhecemos, as rondas de Malikhang levaram-nos a casa de Mafilipi Nthaha, 56 anos, que cuida do seu neto de nove anos, um rapaz esperto que quer ser futebolista. Talvez um dia aconteça, mas hoje provavelmente vai dormir com fome.

Mafilipi debate-se com dificuldades. Uma crise alimentar está a consumir grandes extensões do Lesoto, Malawi, Angola e Zimbabué e o terreno onde geralmente planta milho e sorgo foi alagado pelas cheias e sugado pela seca. Já não tem sementes e o seu terreno está estéril. Tem uma horta, mas sobrevive sobretudo graças à farinha de milho que lhe cedem os vizinhos. Malikhang ajuda sempre que pode.

O pai de Tlhokomelo – filho de Mafilipi – morreu em 2011 e a mãe deixou-o quando ainda gatinhava. Agora, a avó terá de o educar sozinha. Esta é uma dos vários milhares de famílias que recebe ajuda da Sociedade da Cruz Vermelha do Lesoto.

Malikhang é uma mulher determinada. Está habituada aos problemas dos seus vizinhos. A sua resposta é calma e prática. Embora não ceda facilmente ao pessimismo, reconhece que a situação é terrível: “Nunca passei por nada tão mau. É de longe o pior que já enfrentámos.” A agricultura está pelas ruas da amargura, afirma. Fracassaram colheitas atrás de colheitas e muitos animais morreram no ciclo de seca e cheias. “Receio que a seguir sejam as pessoas”, confessa.

Um programa recente da Sociedade da Cruz Vermelha do Lesoto, em parceria com a Cruz Vermelha Alemã e com o apoio financeiro da União Europeia, ajuda famílias a criarem hortas que permitem produzir vegetais para um ano. As feiras de sementes que tiveram lugar durante o ano permitiram o acesso a sementes aptas ao local e à estação do ano e foi dada formação para assegurar que as sementes não garantiam apenas uma colheita, mas que continuariam a fazer a diferença nos anos vindouros.

Malikhang mostra às pessoas como preservar e embalar a sua produção e ajuda indivíduos e grupos a criarem meios de subsistência. Na sua cozinha há centenas de pintos que vão tornar-se fonte de rendimento para orfanatos, associações de apoio a pessoas infectadas com o VIH e outros grupos. Malikhang está atenta aos aldeões mais vulneráveis, nomeadamente os que precisam de assistência médica. Mas também ajuda a promover a importância da higiene e do bem-estar psicológico, ambos cruciais em tempos de crise. Malikhang fala com entusiasmo dos projectos em que participa, mas com relutância sobre si própria, as suas necessidades, a sua fome, a criança que tem a seu cargo.

Na verdade, tem as mesmas necessidades que toda a gente tem. O seu marido é agricultor mas não têm terra própria e, geralmente, vivem de colheitas partilhadas. Plantam e fazem a colheita dos campos de outros e partilham com eles o rendimento. A crise pôs fim a isso: metade de quase nada não conta e no ano passado não conseguiram plantar.

A sua neta, agora com 16 anos, nasceu de uma mãe infectada com o VIH que a abandonou à nascença. Hoje, Malikhang preocupa-se com o seu futuro: não têm condições para suportar os custos da educação numa escola secundária.

Uma coisa é não ter nada, mas não ter nada para dar é o que custa mais. Fala-nos sobre as crianças que vão a sua casa à procura de comida, mas já não tem reservas. “Também já não tenho nada. Sinto-me tão mal por já não os poder ajudar”, conta. Por vezes pensa que deveria abandonar a aldeia, procurar trabalho na cidade. É esperta, criativa e recebeu formação da Cruz Vermelha. “Mas como é que posso fazer isso? Não posso virar costas a estas pessoas. Não posso virar costas às crianças.”

A Federação Internacional das Sociedades da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho e a Sociedade da Cruz Vermelha do Lesoto também estão a oferecer assistência alimentar de emergência às famílias seriamente afectadas por esta crise. Além disso, as sociedades da Cruz Vermelha locais no Malawi, Zimbabué e Angola estão a ajudar as pessoas a braços com a insegurança alimentar nos seus países, em parceria com a Federação Internacional da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho.


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