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Psicomanteum, o além do espelho
por Sofia Pires Lopes em Obvious
Nos filmes de terror, os espelhos mostram muitas vezes aquilo que não se quer ver. Se, como nós, se agarra à cadeira sempre que um surge no ecrã, continue a ler e conheça o psicomanteum, uma sala com ligação directa ao Além.
Objecto nascido da vaidade, o espelho é hoje indispensável nas nossas vidas, mas... já pensou que há vida sem ele? É-nos difícil imaginar já que, muito provavelmente, é possível que tenha um espelho em cada divisão da casa.
Não só para futilidades é (ou foi) utilizado o espelho. No Egipto antigo, na Grécia ou em Roma, começou a desenhar-se o que viria a ser uma utilização bem diferente da que tão bem conhecemos: a de comunicar com o Além.
Nesses tempos idos, o processo de comunicar com o Além baseava-se na utilização de uma tigela com água próxima a uma fogueira, para que o líquido reflectisse a face do observador. Esse reflexo iria produzir alterações no estado de consciência do observador e facilitaria o contacto com a outra vida.
Foram os egípcios que trouxeram o espelho para esta experimentação. O objecto seria ladeado por duas velas, fazendo com que a experiência pudesse ser vivida em locais fechados.
Esta mesma técnica, com algumas variações, era também utilizada na Grécia Antiga. Em vez de espelhos, o sujeito observava uma piscina e esperava pelas aparições ou visões. Em 1958, o arqueólogo grego Satiris Dakiris encontrou as ruínas do Oráculo da cidade de Epiro (Grécia). O complexo subterrâneo incluía passagens labirínticas pelas quais o sujeito vagueava 29 dias antes de entrar na câmara central, que albergava ao centro um recipiente de bronze repleto de água (hoje chamar-se-ia psicomanteum a esta câmara). Nalgumas galerias do labirinto foram encontrados restos de haxixe queimado, o que indica um método de isolamento sensorial e social, propiciando estados alterados de consciência.
Mais tarde, Dee (1527-1608), um mágico da corte inglesa de Elizabeth I, utilizava uma técnica a que chamava touted scrying (ou adivinhação induzida). Com a ajuda de um espelho feito de obsidiana negra (um tipo de vidro natural), diz-se que seria possível prever o futuro. Neste método era também utilizado um “speculum” – uma bola de cristal, uma tigela com água ou um espelho.
Já no século XX surgiu o termo psicomanteum, pela mão de Raymond Moody, professor de psicologia e psiquiatria americano. Escreve o livro “Life After Death” em 1981 e imeadiatamente populariza esta experiência paranormal com espelhos à mistura. Para Moody, esta é tão simplesmente uma forma terapêutica de curar o luto e trazer um conhecimendo profundo da situação do indivíduo observador.
Em termos psicológicos, há probabilidade de o espectador entrar em transe ao seguir esta técnica, e daí surgirem as visões. São poucos os objectos necessários à experiência: uma luz fraca e tremeluzente e um espelho. A escuridão é uma forma de privação sensorial, que ajuda à indução do transe. Quanto à luz tremeluzente, é uma forma reconhecida de induzir alucinações. Com a continuação destas condições, a visão relaxa e desfoca e o estado de alerta é reduzido.
Voltando a Moody, o psicólogo utiliza hoje um quarto da sua própria casa para levar a cabo estas comunicações. Mais: afirma que qualquer pessoa conseguirá fazê-lo, bastando seguir as práticas utilizadas pelos gregos em tempos anteriores a Cristo. Diz ainda que Edison, Darwin, Dickens, Poe ou Lincoln utilizaram este método com êxito.
Da próxima vez que observar o seu reflexo, veja além da simples imagem que o espelho prontamente lhe devolve...
por Sofia Pires Lopes em Obvious
Nos filmes de terror, os espelhos mostram muitas vezes aquilo que não se quer ver. Se, como nós, se agarra à cadeira sempre que um surge no ecrã, continue a ler e conheça o psicomanteum, uma sala com ligação directa ao Além.
Objecto nascido da vaidade, o espelho é hoje indispensável nas nossas vidas, mas... já pensou que há vida sem ele? É-nos difícil imaginar já que, muito provavelmente, é possível que tenha um espelho em cada divisão da casa.
Não só para futilidades é (ou foi) utilizado o espelho. No Egipto antigo, na Grécia ou em Roma, começou a desenhar-se o que viria a ser uma utilização bem diferente da que tão bem conhecemos: a de comunicar com o Além.
Nesses tempos idos, o processo de comunicar com o Além baseava-se na utilização de uma tigela com água próxima a uma fogueira, para que o líquido reflectisse a face do observador. Esse reflexo iria produzir alterações no estado de consciência do observador e facilitaria o contacto com a outra vida.
Foram os egípcios que trouxeram o espelho para esta experimentação. O objecto seria ladeado por duas velas, fazendo com que a experiência pudesse ser vivida em locais fechados.
Esta mesma técnica, com algumas variações, era também utilizada na Grécia Antiga. Em vez de espelhos, o sujeito observava uma piscina e esperava pelas aparições ou visões. Em 1958, o arqueólogo grego Satiris Dakiris encontrou as ruínas do Oráculo da cidade de Epiro (Grécia). O complexo subterrâneo incluía passagens labirínticas pelas quais o sujeito vagueava 29 dias antes de entrar na câmara central, que albergava ao centro um recipiente de bronze repleto de água (hoje chamar-se-ia psicomanteum a esta câmara). Nalgumas galerias do labirinto foram encontrados restos de haxixe queimado, o que indica um método de isolamento sensorial e social, propiciando estados alterados de consciência.
Mais tarde, Dee (1527-1608), um mágico da corte inglesa de Elizabeth I, utilizava uma técnica a que chamava touted scrying (ou adivinhação induzida). Com a ajuda de um espelho feito de obsidiana negra (um tipo de vidro natural), diz-se que seria possível prever o futuro. Neste método era também utilizado um “speculum” – uma bola de cristal, uma tigela com água ou um espelho.
Já no século XX surgiu o termo psicomanteum, pela mão de Raymond Moody, professor de psicologia e psiquiatria americano. Escreve o livro “Life After Death” em 1981 e imeadiatamente populariza esta experiência paranormal com espelhos à mistura. Para Moody, esta é tão simplesmente uma forma terapêutica de curar o luto e trazer um conhecimendo profundo da situação do indivíduo observador.
Em termos psicológicos, há probabilidade de o espectador entrar em transe ao seguir esta técnica, e daí surgirem as visões. São poucos os objectos necessários à experiência: uma luz fraca e tremeluzente e um espelho. A escuridão é uma forma de privação sensorial, que ajuda à indução do transe. Quanto à luz tremeluzente, é uma forma reconhecida de induzir alucinações. Com a continuação destas condições, a visão relaxa e desfoca e o estado de alerta é reduzido.
Voltando a Moody, o psicólogo utiliza hoje um quarto da sua própria casa para levar a cabo estas comunicações. Mais: afirma que qualquer pessoa conseguirá fazê-lo, bastando seguir as práticas utilizadas pelos gregos em tempos anteriores a Cristo. Diz ainda que Edison, Darwin, Dickens, Poe ou Lincoln utilizaram este método com êxito.
Da próxima vez que observar o seu reflexo, veja além da simples imagem que o espelho prontamente lhe devolve...