kokas
GF Ouro
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O fim de tarde em Londres é a pior parte do dia. Sem contemplações, as temperaturas baixam abruptamente até perto dos zero graus. E Jimmy treme, debaixo de três casacos de fato de treino e um kispo.
Do campeão da Serra Leoa nos 100 e 400 metros pouco resta. Thoronka passou de atleta profissional a sem abrigo em seis meses. A história é triste e procura desesperadamente por um final feliz.
Enquanto não volta às pistas, a corrida de Jimmy Thoronka é feita contra a fome e o frio. Sem um teto que o proteja.
«Normalmente durmo num banco de jardim. Às vezes em autocarros. Vou mudando de autocarro para autocarro, sempre que me mandam sair. Tento descansar o possível até o nascer do dia».
Como é que Jimmy Thoronka chegou a este ponto?
Jimmy Thoronka na Cerimónia de Abertura dos Jogos da Commonwealth (3m00s):
[video=youtube;Ze1WzJVZwqk]https://www.youtube.com/watch?v=Ze1WzJVZwqk[/video]
A história é facilmente contada: no apogeu do Ébola, com o seu país em estado de emergência máxima, Jimmy viajou para a Escócia integrado na comitiva da Serra Leoa para os Jogos da Commonwealth. Estávamos em julho de 2014.
Participou nos 4x100 metros e… desapareceu. Antes, porém, falou a vários jornais ingleses sobre o medo que o atormentava. O medo de voltar a casa e ser contagiado com o maldito vírus.
«O meu visto de permanência é válido até ao fim de setembro. Mas quero ficar cá. Sinto-me seguro. Se voltar à Serra Leoa não sei se vivo ou morro».
Jimmy sabia bem do que falava. Um tio morrera pouco antes e toda a sua família direta – pais e irmãos – tinham sido infetados.
Mais de dez mil pessoas pereceram na Serra Leoa por culpa do Ébola. Muitas centenas de milhares ficaram gravemente doentes.
«Recebi notícias alarmantes durante os Jogos», conta Jimmy Thoronka, após ter sido localizado pelo Guardian. «Estava a preparar-me para lutar por uma medalha nos 100 metros, mas fiquei horrorizado com o que a minha família estava a passar. E fugi».
Quando tentava viajar de Glasgow para Londres, Jimmy foi assaltado numa estação de comboios. Ficou sem o passaporte e o dinheiro que juntara para sobreviver algumas semanas.
«Tive medo de ir à Polícia. Imaginei-me logo num avião a caminho da Serra Leoa. Soube dias depois que a minha mãe também estava morta. Pensei várias vezes no suicídio».
Dois estranhos simpatizaram com Jimmy e acabaram por lhe pagar o bilhete de comboio para Londres. Mas na grande metrópole, numa realidade cosmopolita, Jimmy tornou-se só mais um ser humano privado das mínimas condições de segurança e salubridade.
«Quero ser uma estrela, um atleta de fama mundial. Mesmo com os constrangimentos atuais, digo para mim todos os dias: ‘tenho de treinar, tenho de treinar’», explica, visivelmente mais magro.
Muitas vezes esfomeado, outras enregelado, sempre deprimido. Jimmy Thoronka agarra-se só à paixão pelo atletismo para não desistir.
«Num dos parques que frequento há aparelhos de ginásio ao ar livre. Gratuitos. Vou para lá, aqueço e faço algum trabalho de musculação».
Jimmy Thoronka, insistimos, era (voltará a ser?) um atleta de enormes predicados. Campeão nacional no hectómetro e nos 400 metros, candidato a entrar no top-20 mundial nas duas distâncias.
Até agora, nada de bom tinha encontrado. A recente atenção mediática ao seu caso colocou-lhe no caminho a ajuda há muito ansiada. Jimmy está no caminho da reabilitação.
Assim que a sua história chegou ao grande público, várias pessoas avançaram para uma campanha de angariação de fundos. Pode ler mais sobre isso AQUI. E ajudar Jimmy, se assim desejar. Poderá ele acreditar nos sonhos?
O homem da Serra Leoa, 20 anos apenas, está nos blocos de partida, uma vez mais. Só espera o Ready, Set, Go! para voltar a ser feliz.
mf