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Construídos pelos homens, abençoados pela natureza

Feraida

GF Ouro
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Nelson Garrido

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Na margem esquerda do Paiva, em Arouca, há 2000 metros cúbicos de madeira para chegar a cantos nunca antes observados com tanto detalhe.

São 8,7 quilómetros dos passadiços do Paiva por altos e baixos.

Uma obra de engenharia que oferece paisagens com borboletas, lontras, granito, xisto, amieiros.

E um rio que nunca pára de correr.


Ouvíramos falar tanto dos passadiços do Paiva nos últimos dias que as expectativas estavam ao rubro.

Tropeçámos em fotos de amigos e desconhecidos, lemos comentários carregados de elogios e a vontade aumentou.

Ouvimos dizer que ainda antes da abertura oficial, a 20 de Junho, já havia excursões de camionetas cheias de curiosos com pressa de caminharem por aquelas vigas de madeira e deitarem o olho a cenários nunca antes observados tão de perto. Garantiam-nos paisagens de suster a respiração, um santuário natural que devia ser guardado na memória e narrado em palavras.

Fizemos perguntas, percebemos que era melhor levar sapatilhas nos pés, chapéus na cabeça, protector solar, e fizemo-nos à estrada numa manhã de sol — na manhã em que a alegria estava no ar pelo regresso das andorinhas à vila.

Estacionámos junto à ponte de Alvarenga para ver de perto aquela escadaria de madeira que se ergue a pique pelas rochas e quase assusta quem anda por gosto. Isto promete, pensámos. E assim foi.

Carlos Tomás sobe a escadaria de madeira e pára no miradouro que lhe mostra o Paiva lá em baixo, a cascata das Aguieiras em frente e um cenário natural de luxo a perder de vista de um verde intenso que apetece respirar e reter nos dois pulmões.

Carlos começou o percurso em Espiunca — Areinho é a outra alternativa — e já andou seis quilómetros. Está de tronco nu, cara suada, cansado da subida das escadas ali perto da garganta do Paiva, onde o curso de água afunila temporariamente e o xisto substitui o granito.

Os elogios saem-lhe naturalmente. “É espectacular, é muito agradável, os passadiços estão muito bem construídos numa paisagem bonita, sempre à beira do rio”, refere.

Carlos Tomás é de Oliveira de Frades e o pessoal da empresa onde trabalha anda de olho nesse percurso que não se importaria de repetir. “Vale bem a pena. E não apenas pelo trajecto, mas também pela parte física”, acrescenta.

Não foi bem pela parte do movimento físico que Augusto Pontes saiu de Cinfães para confirmar que o “seu” rio Paiva mantém aquela capacidade de o surpreender.

Conhece-o bem e, por isso, a surpresa ganha maior impacto.

Nasceu ao pé do Paiva, em Vila Nova de Paiva, perdeu a conta às trutas que nele pescou.

Naquela manhã, sentiu-se abençoado.

Habituado a caminhadas, os passadiços do Paiva não demoram a conquistar o topo da sua lista. “É o passadiço mais bonito do país, não só porque tem o meu rio, mas por toda esta paisagem.

Já viu isto?

Não há igual no país.” O passeio não começou há muito.

Uns esperam pelos outros até que o pequeno grupo se junta para nova partida junto à ponte suspensa dos passadiços que ligam as duas margens do Paiva.

Aquela ponte à Indiana Jones é já uma atracção para quem por ali passa. Há tanta natureza pela frente e Augusto Pontes sente-se bem junto a esse Paiva que chegou a ser considerado o rio menos poluído da Europa. “Isto é um luxo, é um rio que não está estragado.”

Susana Bastos, técnica de Biologia, é uma das guias dos passadiços do Paiva que podem ser calcorreados livremente ou em visitas guiadas com explicações para grupos — basta contactar o Geoparque de Arouca ou a câmara local.

Há pormenores para contar nessa viagem pela biologia, geologia e arqueologia e que inclui vários geossítios que fazem parte do extenso território do concelho de Arouca.

A garganta do Paiva, a cascata das Aguieiras, a praia fluvial do Vau, a gola do salto no meio do rio, e ainda a falha de Espiunca, visível nas rochas que se formaram há mais de 550 milhões de anos nas profundezas do mar.

Susana conhece praticamente todos os nomes das plantas, das árvores, dos bichos que crescem e habitam os 8,7 quilómetros entre Espiunca e o Areinho, de ponta a ponta dos passadiços.

Mas também sabe que os silêncios são importantes para desfrutar aquelas paisagens, ouvir os barulhos que o rio faz e que vão aumentando ou diminuindo de intensidade, sentir os aromas.

“O rio é inteligente e aproveita o melhor caminho”, diz-nos logo que entramos nos passadiços e confirmamos que o Paiva acompanhará cada passo que damos.

O granito muda para o xisto e com isso uma paisagem mais clara fica mais escura.

Susana informa-nos que aquele granito que se espreguiça à nossa frente tem mais de 300 milhões de anos e que lá mais para a frente iremos encontrar a zona balnear do Vau, caso nos apeteça mergulhar no rio.

Conta-nos que há espécies importantes por ali que fazem parte da Rede Natura 2000. Temos lagartos de água, salamandras lusitanas, lontras.

E as lontras, que não se mostram facilmente, são um bom indicador da saúde daquela paisagem. Atestam “a integridade do ecossistema”, daquela biodiversidade a perder de vista. Há também várias espécies de borboletas, como as aurinas, que, na fase de lagartas, andam pelas madressilvas.

Há escaravelhos, trutas e bogas do Norte no rio, fetos-reais que crescem nas margens e árvores que formam galerias.

O carvalho português, os amieiros, os freixos que no Inverno ficam sem folhas e que dão outro visual ao percurso que em cada estação tem as suas tonalidades, o seu encanto.

Há rochas pesadas, enormes, que recortam os caminhos.

Há vários biospots com informações sobre as espécies que podem ser observadas.

E há mais caminho pela frente que se vai trilhando calmamente, sem pressas, sem relógios.



Aromas, gargalhadas, lontras

Passadiços do Paiva?

Agora já sabemos o que é e como é.

É melhor do que imaginávamos.

Muito melhor: pelo rio que corre, pela paisagem, pelas borboletas, pela tranquilidade, pelos aromas que respiramos, pelas rochas que recortam o percurso, pelas sombras, pelas gargalhadas dos miúdos que mergulham no Paiva num baloiço improvisado, pelas frases que vamos apanhando ao longo da caminhada, pelo som da bicharada com asas, pela possibilidade de ver lontras no rio, pelas raras espécies que se cruzam connosco — para que nos demos conta da sua invulgaridade, há guias e informações escritas.

João Aires e Daniela Estanqueiro estão pela primeira vez nos passadiços do Paiva.

Chegam de Gaia para fazerem o percurso sem guia. João está surpreendido com a obra.

Com a engenharia da coisa.

Como foi possível, em menos de um ano, erguer aquela estrutura que não tira os olhos do Paiva e que dá acesso a locais belíssimos? “Todo ele é uma obra de engenharia, todo ele”, comenta. “É impressionante como construíram tudo isto, em sítios elevados, em encostas.” Daniela concorda e acrescenta: “Se não houvesse passadiços, não passaríamos por locais que eram inacessíveis.”

Na verdade, foi preciso muito empenho para construir os passadiços ao longo do Paiva e persistência para bater à porta de várias entidades e conseguir aprovações para avançar com o percurso numa zona protegida.

Não foi fácil.

A câmara não desistiu e insistiu para ter os passadiços que hoje são um excelente cartão de visita.

Um ano de empreitada e 1,2 milhões de euros investidos, 85% comparticipados por fundos comunitários, e a obra ficou ao dispor de todos.

A configuração do terreno complicou o acesso a alguns locais, a identificação dos proprietários deu bastante trabalho.

As paisagens com xistos argilosos finos, quartzos esverdeados, calhaus de quartzo, foram estudadas à lupa.

Passo a passo, os passadiços foram desbravando terrenos para ligar Espiunca e Areinho, passando pela praia do Vau.

Há troços ao longo da margem do rio suspensos ou apoiados em escarpas.

Tecnicamente falando, a estrutura dos passadiços é composta por quatro vigas longitudinais que apoiam num sistema estrutural composto por uma viga transversal e uma barra diagonal fixadas à escarpa rochosa com uma conexão articulada.

Aos nossos pés estão 2000 metros cúbicos de madeira de pinho.

Observados ao longe, da outra margem do rio, os passadiços parecem a muralha da China, com as devidas distâncias. Havemos de lá voltar.

O que ver

Fora dos passadiços, há que espreitar as pedras parideiras da aldeia da Castanheira, o miradouro da Frecha da Mirazela, ou a colecção de fósseis do Centro de Interpretação Geológica de Canelas.

Informações

Areinho e Espiunca são os dois pontos de partida para percorrer os passadiços do Paiva, numa distância de 8,7 quilómetros num percurso linear.

A duração média do passeio é de duas horas e meia, mas tudo depende do ritmo e vontade. Há vários níveis de dificuldades ao longo da caminhada e desníveis acentuados numa rota considerada desportiva, cultural, ambiental e paisagística.

O acesso é gratuito 24 horas por dia e recomenda-se a visita todo o ano — cada estação tem o seu encanto.

É possível marcar visitas guiadas para grupos através do Geoparque de Arouca (256 940 254). Meio dia custa 45 euros, um dia 80.

www.passadicosdopaiva.pt

Como chegar

Para quem vem do Norte ou do Sul, a melhor forma de chegar a Arouca é sair na A1 em Santa Maria da Feira, seguir em direcção a São João da Madeira e daí as indicações até Arouca.

No centro da vila, tem duas opções: começar o percurso em Espiunca ou no Areinho.

Para Espiunca, poderá colocar no GPS as coordenadas 40º59’34.67’’N 8º12’41.19’’W.

Para o Areinho, as coordenadas são 40º57’9.68’’N 8º10’33.05’’W.

Onde comer

A tenra carne arouquesa, bife ou posta, continua a arrastar muita gente à região.

Em Alvarenga, há várias sugestões para alimentar o corpo depois da caminhada.

O site dos passadiços indica algumas possibilidades.


In:fugas.público
 
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HOJE às 16:33
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[h=1]Passadiço sobre as águas do Paiva atrai milhares a Arouca e faz crescer negócios locais[/h]


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[h=4]O novo passadiço sobre o rio Paiva, em Arouca, está a atrair às freguesias de Canelas e Espiunca milhares de visitantes todas as semanas e «a loucura» tem feito crescer o negócio de táxis, bares e vendedores ambulantes.[/h]Em causa estão oito quilómetros de passeio entre a praia fluvial do Areinho e a de Espiunca, pelo que quem deixa o carro numa ponta do trajeto caminha um total de 16 quilómetros para regressar à viatura ou faz o percurso num só sentido e depois precisa de um táxi para voltar ao local de partida.
Miguel Brandão tem andado nessa vida. É taxista há quatro anos, mas, antes da abertura do passadiço, nunca teve tanto trabalho: "Antes não havia aqui nada, nada, nada", recorda.
Agora é requisitado quase todos os dias e ao fim de semana o serviço "pode chegar às 15 viagens" diárias, cada uma delas ao preço médio de 15 euros.
"Isto ao sábado e ao domingo é mesmo uma loucura", avalia. "Claro que no inverno não vai haver cá esta gente toda, mas, por enquanto, o negócio dá para eu fazer pelo menos o dobro do que fazia antes", contabiliza.
Carlos Almeida é de Gaia, mas, tendo casa também em Cinfães do Douro, fez o reconhecimento dos acessos ao passadiço antes de o percorrer na totalidade com a filha, os sogros e o cão. Foi assim que descobriu um anúncio a divulgar serviços de táxi, pelo que guardou o contacto indicado e na véspera do passeio acertou detalhes com o motorista.
"Andámos umas três horas e meia a caminhar, mas só porque estávamos sempre a tirar fotografias ou na brincadeira", revela. "A parte pior foi aquela zona de terra perto do Areinho, que é mesmo desagradável, mas, tirando isso, o resto compensou e adorei a viagem", assegura.
Mal se sentou no táxi para regressar ao local onde deixara o seu próprio carro, Carlos já não tinha dúvidas: "Vamos pagar à volta de 15 euros, mas, pelo esforço que poupamos ao não ter que caminhar oito quilómetros para trás outra vez, é quase de graça".
Adelina Santos é proprietária da Quinta da Estreitinha e sempre vendeu os seus produtos em mercados locais, mas agora é em Espiunca, junto ao passadiço, que passa a maior parte dos fins de semana. "Venho para cá às sete da manhã para ter lugar para a minha mesa, antes de os carros tomarem conta disto tudo", declara.
Pêssegos, peras e ameixas são a colheita desta semana, disposta na banca de forma muito organizada, ao lado de uma taça com água para quem quiser lavar a fruta. Mel e compotas também têm procura, mas o que desaparece mesmo é a broa de milho caseira.
"A maioria das pessoas vem preparada com lanche na mochila, mas quando acabam o passadiço gostam sempre de comer uma peça de fruta fresca e é isso que eu vendo mais - uma ou duas peças de cada vez, para se comer na hora", revela Adelina.
Feitas as contas, o negócio dura até às 19:00 ou 20:00, enquanto houver afluência de caminhantes, e, embora a vendedora não queira revelar quanto fatura num dos seus melhores dias, garante: "Isto tem sido muito bom para nós! Escoamos muito mais produto do que antes!".
Foi a pensar nessa procura que Óscar Valério abriu a 1 de agosto o seu novo bar na praia do Vau, a meio do percurso sobre o Paiva. "Sobretudo ao fim de semana, o passadiço tem um fluxo quase contínuo de pessoas e decidi abrir aqui a minha casinha na floresta, à sombra, para elas terem onde comprar qualquer coisa para uma pausa", revela.
Funcionando apenas há uma semana, o bar tem atraído visitantes "de todo o lado, desde o Minho ao Algarve", e o negócio "está a correr muito bem, pelo menos enquanto durar o bom tempo".
Produtos com mais saída: "Água, sempre, e, em segundo lugar, café, para as pessoas ficarem com energia".
 
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