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Quando uma história de amor não passa de promessas e beijos

kokas

GF Ouro
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"Hoje, as pessoas não namoram a sério", explico-lhe [ao pai]. "Já ninguém diz isso. E quase ninguém o faz. As mulheres atualmente têm mais poder. Não queremos ficar agarradas a um só homem. Queremos manter as nossas opções em aberto. Estamos no controlo."
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O meu Jeremy vem visitar-me este fim de semana", sussurrou-me Maddy numa noite em que tínhamos saído para ir aos anos de um amigo. "O teu quê?", perguntei. Achei que tinha ouvido mal."O meu Jeremy", repetiu. "Já te falei dele. Chama-se Will. Crescemos juntos em Washington. Vem da universidade. O meu Jeremy."E assim, um nome - que eu referia frequentemente - tornou-se um arquétipo, um tropo, um nome universal, usado pelas minhas colegas da faculdade para falar sobre "aquele rapaz", o que se mantém para nós num mundo alternativo entre o amigo e o namorado, muitas vezes durante anos.Eu conheci o meu, o Jeremy original, num campo de férias em Poconos quando tinha 14 anos. Jogávamos basquetebol durante o dia e conversávamos no refeitório até altas horas da noite. Vivíamos a trinta minutos um do outro, mas não voltei a vê-lo até ao 11.º ano, onde nos encontrámos numa festa de Halloween num armazém da Baixa de Manhattan.Eu estava vestida de coelho e ele de vampiro. Quando nos aproximámos ele estendeu a mão e agarrou na minha. "Já alguém te disse como abanas bem a cauda?", brincou, traçando as linhas da palma da minha mão com os dedos dele."Devias ir ver essas presas sangrentas", respondi, subitamente consciente das minhas unhas roídas. Com os Maroon 5 a atroarem o ambiente, ele murmurou-me embriagado ao ouvido: "Tenho tido saudades tuas." "Também eu", murmurei-lhe de volta, nas pontas dos pés. Sob os flashes suaves da luz estroboscópica demos o nosso primeiro beijo.Mantivemos o contacto durante o resto da escola secundária, sobretudo através de sms. Mas também nos encontrámos pessoalmente quando a equipa de basquetebol da escola dele veio jogar contra a nossa e quando me aventurava de Nova Jérsia até Manhattan para assistir a eventos escolares ou para ir a outras festas num qualquer armazém.Estava desejosa de sair da escola secundária e falar com o Jeremy era um escape, uma espreitadela para um universo alternativo em que rapazes tímidos e inteligentes com um espesso cabelo castanho pareciam ter mais preocupações além dos seus próximos engates. Quando publiquei um artigo sobre a minha batalha contra a doença de Crohn numa obscura revista online, ele escreveu a elogiar-me e a dizer-me que o artigo o tinha comovido, atenuando a minha vergonha. Sempre que o nome dele aparecia no meu telefone, o meu coração disparava.No entanto, nunca ficámos verdadeiramente juntos, éramos duas pessoas que se falavam e adoravam falar, que se beijavam e adoravam beijar-se e que estavam ligadas mas tinham medo de uma ligação. Dizia a mim própria que era porque íamos para escolas diferentes, porque os rapazes adolescentes não querem relacionamentos, porque estava tudo na minha cabeça.Disse a mim própria muitas coisas que nunca lhe disse a ele.Dois anos depois do nosso primeiro beijo estávamos outra vez a trocar mensagens a dizer "Tenho saudades tuas". Foi numa agreste tarde de sexta-feira, no nosso primeiro semestre de faculdade, que eu saltei de um comboio para os confortáveis braços dele.Ele tinha-me mandado uma mensagem semanas antes, no Halloween (tecnicamente o nosso aniversário), a pedir-me para o visitar. Já não falávamos desde o verão e eu estava a tentar esquecê-lo. Tínhamos acabado o secundário e entrado no mesmo vazio inexpressivo da primeira vez que nos encontrámos mascarados, onde um "Tenho tido saudades tuas" era o mais longe que chegávamos em termos emocionais. Decidi deixá-lo para trás quando parti para a universidade.Mas ele não me deixava. Sempre que acreditava que o tinha tirado da minha vida, recebia uma mensagem ou um comentário no Facebook que me puxava para ele.E eu também não me deixava a mim mesma. O afeto dele, por muito esporádico que fosse, parecia sempre uma promessa. Assim, aceitei o convite perguntando-me o que é que eu tinha a perder.Perdi muito nesse fim de semana: uma aposta no jogo de futebol, dois quilos (devido à perda de apetite de origem nervosa), um par de cuecas e, aparentemente, a minha inocência.Ingenuamente estava à espera de ter ficado esclarecida, de admitir finalmente os meus sentimentos e perguntar-lhe se ele sentia o mesmo. Mas não consegui confessar, não consegui sondar. De vez em quando abria a boca para perguntar: "O que é que estamos a fazer? O que sou eu para ti?" Ele parava-me com um sorriso, uma piscadela de olho ou então pegava-me na mão, gestos que me convenceram a calar-me para não arriscar estragar o que já tínhamos.No comboio de sábado à noite de regresso a Manhattan chorei. No meu quarto na universidade, enterrada debaixo dos cobertores para as minhas colegas de quarto não me ouvirem, adormeci com a almofada molhada e os olhos inchados.Na manhã seguinte acordei e tinha duas mensagens dele: "Chegaste bem?" "Temos de fazer isto outra vez :)".E fizemos. Encontrávamo-nos para uma bebida na cidade e passávamos a noite em minha casa sem que nenhum de nós se atrevesse a levantar o assunto de querer saber o que estávamos a fazer ou o que significávamos um para o outro. Continuava a dizer a mim própria que iria ficar bem.E fiquei. E estou.Mas agora, mais de três anos depois do nosso primeiro beijo e mais de um ano depois da nossa primeira vez, ainda não consegui deixar de ter esperança nele, de ter esperança em nós. E ele não faz ideia.Dizem que a minha geração irá ser recordada pelos nossos compromissos desapaixonados e romances rudimentares. Nós conhecemo-nos, mandamos umas mensagens sensuais e avançamos.Entretanto, evitamos os rótulos e tentamos esconder as nossas emoções. Ninguém está à espera de que queiramos alguma coisa séria; não agora, pelo menos. Mas cria-se um vazio quando nos coibimos de dizer as coisas como elas são, de nos permitirmos sentir o que sentimos. E nesse espaço desocupado somos perigosamente livres de criarmos as nossas próprias realidades.A minha amiga Shosh insiste que eu, na verdade, não sinto nada pelo Jeremy. "Tu já não o conheces", diz ela. "Acho que talvez estejas viciada nas memórias, apaixonada pela pessoa que idealizaste e que provavelmente não é a verdadeira."Talvez ela tenha razão. Talvez as minhas emoções estejam mergulhadas num passado que nunca se concretizou. Ainda assim, ele está sempre no meu pensamento. E, de qualquer maneira, Shosh tem o seu próprio Jeremy, outro rapaz, noutra escola, que ela mantém simultaneamente próximo e afastado.Até hoje, sempre que deixo escapar o nome de algum rapaz perto do meu pai a resposta dele é sempre: "Isso com vocês os dois é a sério?" Ele quer saber se andamos a sério, se eu tenho um namorado. Eu costumava odiar aquilo."Hoje, as pessoas não namoram a sério", explico-lhe. "Já ninguém diz isso. E quase ninguém o faz. As mulheres atualmente têm mais poder. Não queremos ficar agarradas a um só homem. Queremos manter as nossas opções em aberto. Estamos no controlo."Mas estaremos mesmo?Eu penso na mesma pessoa desde há quatro anos. Será que posso dizer honestamente que tenho poder se sou incapaz de partilhar os meus sentimentos com ele? Poderiam as minhas opções estar mais fechadas? Poderia eu estar menos no controlo?O meu pai não consegue compreender por que razão não digo a Jeremy o que sinto por ele. Para mim é simples. Envolvidos como temos estado durante aquilo que representa, nesta altura, quase um quarto da minha vida, Jeremy e eu tecnicamente não somos nada, pelo menos no que diz respeito a rótulos.Assim, enquanto vacilo entre a raiva comigo própria por não admitir os meus sentimentos e a zanga com ele por não se aperceber, nenhum de nós pode ser culpado. (Ou podemos ser os dois.) Sem rótulos a ligar-nos, não tenho qualquer justificação para os meus sentimentos e ele não tem qualquer obrigação de os reconhecer.Sem rótulos, sem drama, certo?Penso que a minha geração se está a aventurar por águas verdadeiramente desconhecidas, pois enquanto hesitamos em rotular relacionamentos participamos em alguma espécie de desvio dos mesmos.Mas ao não chamarmos a alguém, digamos, "o meu namorado", ele torna-se realmente outra coisa qualquer, em algo de indefinido. E aquilo que temos juntos torna-se intangível. E se é intangível não pode acabar nunca porque, oficialmente, não há nada para acabar. E se não acaba nunca, não há uma verdadeira conclusão, não há oportunidade de avançar.Em vez disso, gastamos a nossa energia emocional em alguém que construímos e de quem nos convencemos que precisamos. Fixamo-nos numa pessoa que pode não ser certa para nós, simplesmente porque nunca nos enganou. Porque sem um rótulo ele nunca teve verdadeiramente a oportunidade de o fazer.Quando percebi que não tinha ouvido mal o que Maddy me disse, pedi-lhe para se explicar."Tu sabes o que é um Jeremy", respondeu. "Tu praticamente inventaste o termo. É o rapaz com quem nunca namorámos verdadeiramente e que nunca conseguimos verdadeiramente esquecer."A maior parte das pessoas que conheço tem um Jeremy na vida delas, alguém cuja significância um rótulo não consegue apanhar. Antigamente, talvez nos tempos em que as pessoas namoravam a sério, ele é capaz de ter sido aquele que nos escapava. Para a minha geração, no entanto, ele é frequentemente aquele que nunca chegámos a ter. Contudo, ele é aquele por quem trocaríamos alegremente todos os engates, encontros e avanços. Ele continua a ser aquele que esperamos, contra todas as probabilidades, possa ser "o certo".Mas até sermos suficientemente corajosas para o descobrir, há vida para viver. Até lhe podermos pôr o rótulo de nosso, chamar-lhe Jeremy tem de ser o suficiente.


dn

 

newpine

GF Ouro
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Set 23, 2006
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O texto é uma aula.

Não é uma aula de leitura , é uma aula confessa de sentimentos .

Com prazer : "Contudo ,ele é aquele por quem trocaríamos alegremente todos os engates ,encontros e avanços.

Ele continua a ser aquele que esperamos , contra todas as probabilidades , possa ser o " certo ".

Leiam.

 
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