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Evitar conversa de circunstância. Truque para uma vida melhor

kokas

GF Ouro
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É de amor que se fala nesta, a mais lida do The New York Times. Histórias verdadeiras contadas pelos leitores
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Quando o meu relacionamento amoroso terminou, há quase dois anos, decidi suspender a minha carreira como atuário [avaliador de riscos] em Boston e tirar umas longas férias na Costa Rica, onde pretendia aprender a surfar e fazer yoga. Sim, foi a resposta mais cliché possível para um ocidental de 32 anos com o coração partido como eu.Quando quatro semanas depois viajava de carro com vários amigos que conheci na escola de surf, encontrámos uma mulher de meia--idade, de rosto avermelhado, que pedia boleia na periferia de uma pequena aldeia. O rádio do carro estava avariado e nós estávamos aborrecidos, então Abby, uma mulher do nosso grupo, disse: "Damos-lhe boleia com duas condições: primeiro tem de cantar uma canção para nós e depois tem de nos contar uma história. Aceita?"A mulher, uma americana, respondeu com um sorriso e um aceno de cabeça, libertando o cabelo preso com uma viseira da Disney. "O que querem que eu cante?", perguntou. "Qualquer coisa de que goste", respondi-lhe, "desde que seja do Rod Stewart."Depois de nos oferecer uma interpretação de Maggie May, começou a contar a sua história."É curioso que me peçam para contar uma história", disse ela, "porque estou a meio de uma história de amor. Vim à Costa Rica há um ano e conheci o homem dos meus sonhos. Ele estava a vender bijutarias numa banca do mercado. É italiano e mal falei com ele senti algo que nunca tinha sentido em toda a minha vida. O sentimento apoderou-se de mim. Era o amor como nos filmes, mas aquilo era real."A coisa era promissora."Então, está aqui para o ver?", perguntou uma das minhas companheiras."Sim, é isso mesmo, querida. Vou agora para a cidade para o ver pela primeira vez em 12 meses."Todos sorrimos abertamente, agora éramos também personagens da sua história, iríamos fazer a entrega do amor ao homem dos seus sonhos."Será que os sentimentos dele são os mesmos?", perguntou Abby."Sim, ele manda-me e-mails todos os dias para me dizer isso."Eu virei-me para ela. "Está excitada com a ideia de o ver?""Não pensei noutra coisa durante um ano inteiro.""Então veio até aqui só para o ver?", perguntei."Bom, eu tinha de vir. Estar longe dele estava a partir-me o coração." Ela fez uma pausa para respirar. "Embora o meu marido também tenha vindo; ele está em casa."Todos levantámos as mãos para fazermos perguntas.Depois da minha viagem fui comer um bife num bar de Boston, ainda lastimando que a mulher com quem pensei que iria casar, Alejandra, tivesse terminado comigo. Tinha-a conhecido cinco anos antes e ela foi, de todas as formas imagináveis, uma inspiração para mim. Ela foi a mulher que me ensinou o que era o amor.Ao meu lado no bar estava um casal no seu primeiro encontro. Percebi isso porque a conversa fez-me lembrar aquelas conversas de circunstância que temos de manter com os cônjuges dos colegas de trabalho nas festas de Natal da empresa. Eles começaram uma conversa sobre os seus percursos até ao bar. Os dois moravam a dez minutos de autocarro um do outro e conseguiram esticar o tema por 30 minutos.A seguir veio o tempo: em Boston chove, às vezes, e ambos haviam notado isso. Passado uma hora, eles entraram nas coisas realmente profundas. Um deles era professor e o outro conhecia um professor. Como poderiam eles estar destinados a outra coisa que não o amor verdadeiro?OK, era possível que eu estivesse a direcionar um pouco da raiva causada pelo meu desgosto amoroso para eles, mas tudo o que conseguia pensar era que eu não queria fazer parte deste jogo. Se estar solteiro significava ter de participar neste tipo de conversa, preferia esquecer. Como poderia eu passar da profunda ligação que tinha tido com Alejandra para uma discussão sobre horários de autocarros e padrões climáticos?Lembrei-me da estrada poeirenta na Costa Rica e da mulher que abriu o seu coração a quatro estranhos. Por que razão não poderíamos ser todos como ela? Por que razão o facto de estarmos com um estranho significa, tantas vezes, que não podemos falar imediatamente sobre coisas importantes?Com isto em mente, decidi abordar a minha reentrada no mundo dos encontros com uma política de "não às conversas de circunstância". Não que fosse insistir em falar apenas sobre temas profundos. Idealmente, também haveria muitos jogos de sedução e brincadeiras espirituosas. Eu queria simplesmente eliminar as conversas aborrecidas sobre factos e números - se está a nevar ou a chover, se está muito frio, o que fazemos no trabalho, quanto tempo levamos para chegar ao trabalho, em que escola andámos - todas aquelas coisas sobre as quais achamos que temos de falar com alguém que não conhecemos, mas que nos dizem pouco sobre quem a pessoa é realmente.Por que razão não podemos substituir uma conversa de circunstância por uma conversa a sério e fazer perguntas profundas uns aos outros logo desde o início? Substituir a tagarelice sem sentido sobre os horários dos transportes por uma conversa sobre as nossas crenças mais enraizadas e os nossos maiores receios? Perguntas que revelam quem somos e para onde queremos ir?É certo que havia alguns problemas com esta política, como os meus amigos gostavam de salientar. Eles argumentavam que algumas pessoas não se sentem confortáveis a saltar diretamente para grandes conversas, pois há quem ache que a conversa de circunstância serve para descontrair.Isto é, sem dúvida, verdade. Mas um outro amigo rebateu: "Se ela não está confortável com isso, então é provável que não seja a pessoa certa para ti de qualquer maneira. O teu plano é uma ótima maneira de filtrar."Este amigo tem o seu próprio sistema bizarro de filtragem, oferecendo cocos às mulheres nos primeiros encontros alegando que qualquer mulher que não aceite o coco não é material para casar. Porquê? Não faço ideia. Mesmo assim, eu aceito a sua opinião pelo que vale.Outra queixa comum: não se pode fazer grandes perguntas até se saber as respostas para as pequenas, precisamos de factos para saber onde cavar mais fundo. Eu diria, entretanto, que se pode elevar qualquer questão da conversa fiada para a grande conversa com um pequeno ajustamento.Uma das perguntas mais comuns que dou comigo a fazer a uma mulher num primeiro momento é sobre os lugares para onde ela já viajou. A resposta pode rapidamente transformar-se numa lista de sítios, e, mais uma vez, estamos em território de currículo. Então, em vez disso, posso perguntar: "Qual o lugar que mais te inspirou e porquê?"Em vez de lhe perguntar qual o seu trabalho, posso perguntar: "Qual é o trabalho que mais te apaixona?"Não lhe vou perguntar qual o relacionamento mais longo que já teve, como se a duração significasse profundidade. Em vez disso, posso perguntar: "Qual a vez em que te sentiste mais apaixonada?"A primeira oportunidade que tive de colocar esta nova estratégia em prática surgiu com uma mulher que conheci numa festa algumas semanas mais tarde. Ela riu-se quando lhe expliquei a minha teoria sobre as conversas com significado contra as conversas de circunstância e concordou em servir de cobaia.Ela estava em mudanças e partiria na semana seguinte, por isso sabíamos que teríamos apenas este encontro, mas comprometemo-nos a fazer tudo o que pudéssemos para evitar conversa fiada. Naquela noite, falámos a sério e profundamente. Fiquei a saber sobre o problema de droga do irmão dela, sobre o ex-namorado que ela havia deixado anos antes e sobre os sentimentos que ainda tinha em relação a ele.Mas também brincámos com coisas tolas e superficiais, conseguindo convencer estranhos de que nos tínhamos conhecido num acidente de carrinhos de choque num parque de diversões e fugimos com um susto simulado de uma refeição que ainda mexia nos nossos pratos. Rimo-nos e chorámos, e não ficámos a saber nada um do outro que pudesse entrar num currículo. Mais tarde beijámo-nos.Desde então, manter-me afastado de conversas de circunstância só me trouxe experiências positivas, umas a seguir às outras. Cada encontro transformou-se numa ligação real, ou, na pior das hipóteses, numa história engraçada. Só é preciso haver vontade de mergulhar em conversas que podem fazer-nos sentir desconfortáveis ou que muitos acreditam ser impróprias para primeiros encontros. Depois de um tempo, porém, torna-se natural ignorar os factos e, em vez deles, procurar os nossos pensamentos e sentimentos mais profundos.A minha vida seguiu em frente. Namorei, viajei e comecei num novo emprego. Após um mês de trabalho fiz uma viagem de negócios com um novo colega. Na primeira noite fora dei comigo envolvido numa daquelas conversas de trabalho aborrecidas que as pessoas usam para preencher o tempo. O meu colega estava a contar-me o básico sobre a sua escolaridade, a sua família e a sua casa."Então, quanto tempo demoras a chegar ao escritório?", ouvi-me perguntar. Parei imediatamente, horrorizado.Lembrei-me da mulher coberta de pó da boleia na Costa Rica, dos encontros e das ligações significativas que tinha feito por fugir da conversa de circunstância. Apesar de o meu colega e eu não estarmos num encontro, era previsível que fôssemos passar bastante tempo juntos no futuro, em viagens de negócios curtas e longas.Respirei fundo e perguntei: "O que é que te levou a apaixonar pela tua mulher?"Ele olhou para mim espantado, pensou um momento sobre o assunto e contou-me uma coisa muito bonita.



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