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Nélson: O operador de loja que é campeão nacional nos tempos livres

-nobody-

GF Prata
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Mar 10, 2016
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[h=2]No domingo passado, na pista das Açoteias, enquanto Benfica e Sporting olhavam de soslaio da esquerda à direita, Nélson Cruz olhou só em frente, em direção à meta. Foi por isso que rompeu com um ciclo de 30 anos de vitórias apenas para atletas com o selo de grandes clubes e trouxe para casa o título de campeão na qualidade de atleta não-profissional. Atrás… ficaram os grandes clubes.[/h]


Nélson Cruz foi a surpresa do passado domingo, em Albufeira, ao vencer o Campeonato Nacional de Corta-Mato Longo, no âmbito do 39º Cross Internacional das Amendoeiras em Flôr. Um atleta experiente, mas amador, que no domingo venceu atletas do Sporting e do Benfica, cruzando a meta 30 minutos e 44 segundos depois de ter iniciado a prova.


O Notícias ao Minuto falou com Nélson de manhã, durante a semana, no espaço que nos arranjou entre turnos e treinos. O atleta, recorde-se, acumula o amor pelo desporto com o trabalho como operador de loja num hipermercado do Fórum Almada, uma rotina que segue escrupulosamente há dez anos.
Com 38 anos de idade (completa 39 em novembro) Nélson já não augura uma carreira longa no atletismo, mas ainda tem objetivos e tem a força de vontade para os conseguir. Com a candura de quem corre por amor à camisola - diga-se, o Clube Pedro Pessoa, do treinador que o acompanha há 20 anos - Nélson esclarece que um grande orgulho é "correr ao lado de grandes atletas".
Com que expetativas ia para a corrida?
Era o meu 12º, 13º, 14º - já não me recordo – nacional de corta-mato que eu iria correr. Como no ano passado eu tinha sido o 13º, da geral, a minha intenção era melhorar esse resultado, conseguir entrar no lote dos dez primeiros e foi o que eu tentei fazer.
Tentar manter o ritmo para não ficar muito atrás.
Manter um ritmo, sempre com a ideia de que se fosse apanhado pelos meus adversários tinha que tentar ir com eles o melhor que eu pudesse e fazer ali um brilharete nos dez primeiros. Mas correu ainda melhor, comecei a sentir-me bem, comecei a ter boas sensações durante a corrida e o público foi fantástico, puxaram muito por mim, aperceberam-se que naquele momento eu poderia estar a fazer história e as pessoas mobilizaram todas e foi ali uma onda de energia que foi uma coisa fantástica. (…) Acho que fiz uma prova espetacular a nível mental porque a certa altura foi uma grande pressão saber que poderia ser campeão nacional.
É o primeiro grande título da sua carreira?
A primeira vez que sou campeão nacional no corta-mato. Já fui campeão nacional de Maratona, de 10 mil metros mas na altura foram-me retirados os títulos por causa da minha dupla nacionalidade e foi um pouco polémico. Mas agora já resolveram essa situação e o regulamento já permite essa situação, que era uma falha no regulamento e eu fui prejudicado por causa disso.
O Nélson estava bem preparado ou os atletas profissionais – de quem se esperava melhor - não estavam a contar consigo?
Acho que foi um pouco dos dois. Sinto-me bem preparado, tanto que tenho estado na luta com eles. Sou um atleta não-profissional mas tenho tentado estar ao mesmo nível. O problema é que eles concentraram-se muito na rivalidade entre Benfica e Sporting, no título coletivo, e não contaram comigo. Como eu não trazia nenhuma camisola do Benfica nem do Sporting não me viram como uma ameaça para eles e descuidaram-se e ao descuidarem-se ganhei bastante vantagem, para eles foi tarde quando recuperaram.
Porque é que nenhum clube manifestou interesse no Nélson, porque é que nunca se tornou profissional?
Por vários motivos, comecei muito por baixo. A minha carreira começou muito por baixo e sempre me viram como um atleta de pelotão, um atleta que fazia isto quase por hobbie mas não é bem assim. E então desvalorizaram qualquer tipo de resultado que eu tenha feito. E os anos foram passando. (…) Eu tive sempre que trabalhar e as condições nunca foram iguais em relação aos outros.
Os clubes vão buscar atletas enquanto são ainda jovens.
Exato, exato. E o tempo foi passando e eu fui passando ao lado dessa possibilidade.
Qual o objetivo no futuro imediato?
Vou tentar os mínimos para os Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro. Vou fazer a Maratona de Praga a 8 de maio e então o objetivo e conseguir os mínimos para os Jogos Olímpicos. Claro que vou representar a minha outra nacionalidade [Cabo Verde] porque é o que eu tenho feito até aqui e não faria sentido mudar agora já em final de carreira. Era a cereja no topo do bolo estar no Rio de Janeiro. E a partir daí, ia-me concentrar mais no meu clube e na formação do clube, passar todo o meu conhecimento para novos atletas. É esse o projeto. Mais tarde quero concentrar-me mais nisso, vou fazendo o que eu gosto, se os resultados forem surgindo melhor mas vou concentrar-me mais na formação.
Descreva-me um dia normal dentro da sua rotina diária.
Levanto-me de manhã cedo, vou levar as miúdas à escola. Tenho duas filhas. Faço o treino matinal, depois venho para casa para almoçar e descansar um pouco. Depois vou trabalhar, às 14h30 entro ao serviço, saio às 18h30 e tenho duas horas livres para jantar, que aproveito para fazer o segundo treino. Entro às 20h30 e saio às 00h30. É muito pesado mas já faço isso há mais de dez anos, sempre com a mesma rotina. Há dias em que estou mais candado, mas normalmente beneficio desta rotina.
Como tem sido a reação das pessoas após a vitória. Os clientes abordam-no ou só os seus colegas?
Os meus colegas principalmente, eles têm acompanhado os resultados que tenho feito ao longo deste tempo todo mas pronto estes dias tem sido uma loucura, clientes que vão vendo notícias por todo o lado e vem-me dar os parabéns. Pessoas a trazer-me recortes de jornal, coisas engraçadas, oferecem-me flores, selfies e fotografias e autógrafos. São coisas engraçadas. É muito, muito bom receber este carinho do público.
É verdade que este é o primeiro título em 30 anos para um atleta fora dos clubes grandes?
Realmente parece estranho mas é verdade. Normalmente, um título deste está sempre destinado a um grande atleta, grandes nomes do atletismo português porque qualquer atleta português ambiciona ser campeão nacional e então toda a gente se prepara para esta grande competição. E eu não fujo à regra, também tinha esse sonho. Nunca pensei que se iria realizar mas o sonho estava lá. Constar numa lista de atletas vencedores tal como o Carlos Lopes, Eduardo Henriques e Fernando Mamede, para mim é um motivo de grande orgulho. Já em si participar no campeonato nacional é motivo de grande orgulho, corro ao lado de grandes atletas e mesmo agora não fugiu à regra e isso dá-me uma satisfação enorme.

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