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Correio Marítimo entre Portugal e o Brasil.

Antonio A Alves

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7 de Julho de 1808.


Foi neste dia que o Caíque “Bom Sucesso”, a que os Olhanenses chamam “a enviada”, partiu do então lugar de Olhão para o Brasil

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Foi enviada em demanda de D. João, Sua Alteza o Príncipe Regente Nosso Senhor.

A bordo seguia uma tripulação de 17 marinheiros, pescadores de Olhão.

O Caíque foi oferecido pelo Olhanense Miguel do Ó com o fito de entregar ao Príncipe Regente no Rio de Janeiro notícias sobre os factos havidos dias antes no Reino dos Algarves. Era mesmo assim que se chamava oficialmente.
 

Antonio A Alves

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Estava inaugurado o Correio Marítimo entre Portugal e o Brasil.

O governo regente do Algarve entregou ao Mestre da embarcação, Mestre Garrocho, uma série de documentos dando notícia da Restauração do Algarve, bem assim como uma carta datada de 2 de Julho, do Compromisso Marítimo de Olhão em que se contavam todos os factos então acontecidos. A carta fora redigida por João da Rosa.

Os franceses de Junot, comandante da 1ª invasão francesa ocorrida menos de oito meses antes, tinham abandonado o litoral Algarvio escorraçados pelo povo na sublevação do lugar de Olhão, ocorrida no dia 16 de Junho de 1808.


inv+Junot+z.jpg


Depois de Olhão, também Loulé e Lagos se revoltaram. E três dias depois de Olhão, foi a vez de Faro se revoltar.
 

Antonio A Alves

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E mais tarde foi criada a Junta Suprema do Reino dos Algarves, presidida por D. Francisco de Melo da Cunha de Mendonça e Meneses, que em nome do príncipe D. João assumiria a regência do Reino dos Algarves, até ao seu regresso do Brasil.

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Por decreto de 19 de Agosto de 1823 o rei D. João VI de Portugal criou o título de Conde de Castro Marim a favor de D. Francisco José da Cunha de Mendonça e Menezes, 1º marquês de Olhão.
 

Antonio A Alves

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O lugar de Olhão, conhecido então como um “lugar sem mando”, devido ao espírito independente e orgulhoso das suas gentes, tinha sido invadido pelas tropas de Junot no dia 14 de Abril desse ano de 1808.


invasoes_francesas2+z.jpg


E imediatamente publicaram editais em que sobrecarregavam os pescadores com impostos de toda a ordem, tanto para a pesca na costa como em África. Os contrabandistas eram condenados à morte. Havia mesmo impostos para sair do Algarve.

Até as pratas da Igreja de Olhão foram roubadas.

foto-joao-xavier-igreja-matriz-de-olhao+z.jpg
 

Antonio A Alves

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Inflamados pelo mau viver, faziam a vida negra aos franceses. Eram considerados “má gente”.

A revolta começa a tomar forma, especialmente depois dos espanhóis se revelarem com as atrocidades cometidas pelos franceses do outro lado da fronteira.

No Porto aquela nobre gente também se começa a fartar dos franceses. No início do mês de Junho de 1808 prendem até um General de Junot.

As notícias chegam rapidamente ao Algarve, levadas por um barco de pesca.

Hist+Armas+Casa+Real+z.jpg


Os Olhanenses passam então à acção e na missa do dia de Sto. António desrespeitando as ordens dos militares ocupantes destapam as armas reais que encimavam o altar da Igreja.


No dia seguinte todas as embarcações de Olhão ostentam em desafio a proibida bandeira de Portugal perante a estupefacção da reduzida guarnição militar invasora.

Hist+bandeiramonarquica%5B1%5D%5B1%5D+z.jpg
 

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16 de Junho de 1808, quinta-feira de Corpo de Deus, dez e meia da manhã...

...ao chegarem à Igreja para a missa dão de caras com mais um edital desta vez a convidar os Olhanenses a juntarem-se aos franceses contra a Espanha sublevada.

José Lopes de Sousa que recentemente abandonara em protesto o cargo de governador de Vila Real de Santo António rasga espontaneamente o edital e brada contra a falta de coragem dos homens de então que nada faziam contra os franceses.



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Antonio A Alves

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Foi o rastilho que faltava…

Por terra e por mar organiza-se rapidamente uma milícia e recolhem-se armas para o combate que se adivinhava.

Com a recusa do fornecimento de armas de uma armada inglesa fundeada na foz do Guadiana, barcos de pesca de Olhão conseguem obter das autoridades de Ayamonte mais de cem espingardas que rapidamente chegam a Olhão por mar na noite de 17 de Junho de 1808.

A frota de pesca de Olhão, transformada em Armada de Guerra prepara-se para uma grande batalha naval no dia seguinte.

Uma pequena flotilha francesa a navegar na ria de Olhão depara-se com uma verdadeira esquadra de barcos de pesca olhanense que aparentemente se dirigia para a barra em faina de pesca.

Mas os olhanenses estavam armados.

E comandados por Sebastião Martins Mestre surpreendem o incauto inimigo.

Dá-se uma feroz abordagem generalizada e 81 militares franceses são capturados e todo o material que transportavam é apreendido.

Entretanto em terra, no dia 18 de Junho, chegam notícias de um movimento de tropas francesas que avançam sobre Olhão, a partir de Moncarapacho.
 

Antonio A Alves

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Uma milícia olhanense, precariamente armada e espontaneamente constituída resolve ir esperar aquele exército profissional no lugar de Quelfes junto à ponte Romana.

Ponte+de+Quelfes+2+z.jpg


Aquela autentica tropa fandanga contrariando as ordens que tinha, ou não fossem eles Olhanenses, “má gente” daquele “lugar sem mando”, resolvem atirar-se a eles mal os viram, cada um por si, homem a homem "com muito menos número de paisanos, e só socorridos com seis cartuxos cada um, por não haver mais" em correrias desenfreadas, que provocam uma debandada geral nos franceses, surpreendidos pela completa anarquia na organização do ataque, espavoridos com tanta sanha, com tanta coragem.



Ponte+de+Quelfes+1+zz.jpg
 

Antonio A Alves

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E no dia 23 de Julho de 1808 todo o Algarve voltou a ser Livre!

Os franceses incapazes de susterem aquela furibunda gente recuam para lá da serra Algarvia e rumam, Alentejo acima, para sempre,
[h=2]Foi tudo isto que a “enviada” quis ir contar ao Brasil.[/h]

Dar notícias destes acontecimentos a Sua Alteza o Príncipe Regente Nosso Senhor.

Tripulavam-na o piloto Manuel de Oliveira Nobre, o mestre Manuel Martins Garrocho, (o mestre era vulgarmente conhecido pela alcunha de Drago) e outros quinze tripulantes, a saber: António Pereira Gémio, António da Cruz Charrão, António dos Santos Palma, Domingos do Ó Borrego, Domingos de Sousa, Francisco Lourenço, João Domingues Lopes, João do Munho, Joaquim do Ó, Joaquim Ribeiro, José Pires, José da Cruz, José da Cruz Charrão, Manuel de Oliveira e Pedro Ninil.

Partiram de Olhão no caíque “Bom Sucesso”, assim lhe chamaram, no dia 7 de Julho de 1808 em direcção à Madeira.


Mestre Garrocho era também portador dos seguintes documentos para o Regente de Portugal:

1.Carta do Governo de Faro, redigida por um dos seus membros, Cónego António Luís de Macedo e Brito, datada de 5 de Junho, participação oficial da restauração do Algarve;


2.Cópia do auto da eleição do Governo de Faro, datada de 22 de Junho, a fim de ser aprovada pelo monarca, documento acompanhado do auto de posse e termo de juramento dos membros da Regência;


3.Duas cartas do Bispo D. Francisco Gomes do Avelar, nas quais o prelado felicitava o Regente em seu nome pessoal e no do clero algarvio, datadas de 2 e 3 de Julho;

4.Carta do Compromisso Marítimo de Olhão, datada de 2 de Julho, em que também se apresentavam felicitações ao Monarca e se fazia a descrição sumária da situação daquele lugar durante o domínio francês.



O Caíque Bom Sucesso chega ao Funchal no dia 14 para aguada.

Aqui contratam um piloto aprendiz, Francisco Domingues Machado, que não tinha ali consigo cartas náuticas (nem ninguém naquela embarcação as tinha!).

O piloto Machado, embora simples praticante, já tinha feito uma carreira ao Oriente, de Lisboa a Macau, a bordo da galera Voadora, do comerciante lisbonense José Nunes de Oliveira.

A ideia deste reforço da tripulação da enviada partiu do piloto Manuel de Oliveira Nobre para o caso de ele ficar incapaz e poder ter substituto, já que a restante tripulação nunca tinha saído das águas da Ria de Olhão…
 

Antonio A Alves

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Partem finalmente da Madeira no dia 16, sem mais demoras.

Numa viagem de mais de 7500km!

Naquela embarcação convencida que era uma nau das Índias tripulada por gente sem a mínima preparação e desprovida de qualquer auxílio técnico, sem cartas, impulsionada por velas que eram sopradas certamente por um certo Divino Vento que os levaria, estavam completamente seguros, à baia de Guanabara, que ainda teriam de descobrir o paradeiro.

Mas aquele espírito de “má gente” daqueles homens de “um lugar sem mando” haveria de vencer.

Muitos, muitos dias depois vão dar a Caiena, departamento ultramarino francês no norte da América do Sul.
Daqui rumando a sul buscam Pernambuco onde aportam também.

E partem, ao longo da costa do Brasil para sul em demanda do Rio de Janeiro.

E finalmente chegam.



À Baia de Guanabara no dia 22 de Setembro de 1808.

Caique+3+B+z.jpg
 

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Aquela pequena embarcação, bandeira de Portugal ornada com as Reais Quinas orgulhosamente desfraldada, depois de navegar 77 dias todo o grande Oceano Atlântico na sua maior extensão, comandada por um homem sem conhecimentos de navegação e sem nenhumas cartas marítimas, sem nenhum instrumento náutico, provoca uma enorme admiração naquelas paragens.

Seguiu-se um desembarque autenticamente Imperial em que todos aqueles bravos Olhanenses ostentavam agora ali - facto novo e digno de realçar - «uma fita e laço encarnado no braço esquerdo publicando a restauração do Reino do Algarve pela expulsão dos Franceses que o guarnecião»

Sua Alteza o Príncipe Regente Nosso Senhor D.João recebe prontamente o piloto Manuel de Oliveira Nobre e todos os outros tripulantes, com muita satisfação, por entre vivas e admiração da Corte, a quem apresentarão «os Papeis de que vinhão encarregados ...».

D. João ouve e lê as notícias que trazia e logo ali o condecora com a insígnia da Ordem Militar de Cristo e com a patente de 1º Tenente da Armada Real.

“E seus companheiros são igualmente condecorados com uma medalha de honra ganhada numa acção que assombra a presente idade, e assombrará a futura”


«Sua Alteza comprou com liberalidade o caíque, em que vieram os algarvios e os mandou ao depois regressar para a pátria em outra embarcação mais cómoda, e segura.»



No dia 15 de Novembro de 1808 um alvará régio eleva o lugar de Olhão a Vila.

Igualando-a às "vilas mais notáveis do Reino".
 

Antonio A Alves

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[h=2][FONT=&quot]Vila de Olhão da Restauração.[/FONT][/h] [h=2][FONT=&quot] [/FONT][/h] [FONT=&quot]Alvará Régio de 15 de Novembro de 1808[/FONT]
[FONT=&quot]
ALVARÁ COM FORÇA DE LEI, PELO QUAL VOSSA ALTEZA REAL É SERVIDO ERIGIR EM VILA O LUGAR DO OLHÃO NO REINO DO ALGARVE, COM O NOME DE VILA DO OLHÃO DA RESTAURAÇÃO; E PERMITIR AOS SEUS HABITANTES O PODER USAR DE UMA MEDALHA

Eu O Príncipe Regente faço saber aos que o presente Alvará com força de Lei virem, que merecendo a Minha Real Consideração e Estima os Meus fiéis Vassalos habitadores do Lugar de Olhão no Reino do Algarve pelo patriotismo, amor e lealdade com que, no dia dezasseis de Junho do corrente ano, se deliberaram com heróico valor e intrepidez muito própria da valorosa e sempre leal Nação Portuguesa, a sacudir o pesado e intolerável jugo Francês...

...Hei por bem, e Me Praz Erigi-lo em Vila; e Ordenar, que da publicação deste em diante se denomine Vila do Olhão da Restauração; e que tenha e goze de todos os Privilégios, Liberdades, Franquezas, Honras e Isenções de que gozam as Vilas mais Notáveis do Reino; e Permito outrossim, que os Habitadores dela usem de uma Medalha, na qual esteja gravada a letra – O – com a legenda – Viva a Restauração e o PRÍNCIPE REGENTE NOSSO SENHOR. [/FONT]


[FONT=&quot]Dado no Palácio do Rio de Janeiro em quinze de Novembro de mil oitocentos e oito.[/FONT]
[FONT=&quot]
PRINCÍPE
D. Fernando José de Portugal[/FONT]



Que o será para sempre e que para sempre ostentará nas suas armas o símbolo da enviada, o caíque “Bom Sucesso”.


armasdeolh%C3%A3o.jpg
 

Antonio A Alves

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Comprimento: 18 m
Boca: 5,55 m
Pontal: 1,90 m
Lotação de «duas mil arrobas» aproximadamente (o original)
Tonelagem: 26,06 t

Bom+Suceso+JE+3+17Jun2007+zz.jpg
 
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