• Olá Visitante, se gosta do forum e pretende contribuir com um donativo para auxiliar nos encargos financeiros inerentes ao alojamento desta plataforma, pode encontrar mais informações sobre os várias formas disponíveis para o fazer no seguinte tópico: leia mais... O seu contributo é importante! Obrigado.

Como começou a guerra entre o governo da Colômbia e as Farc e porque dura ela à mais de 50 anos

Furabilhas

GF Prata
Membro Inactivo
Entrou
Nov 8, 2014
Mensagens
429
Gostos Recebidos
0

Como começou a guerra entre o governo da Colômbia e as Farc e porque dura ela à mais de 50 anos



Farcgforum.jpg

A população colombiana aponta como as principais causas para a violência na Colômbia, a desigualdade e o desemprego.

O conflito interno na Colômbia entre as forças governamentais e as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) tem causado, há mais de meio século, enormes estragos no país.
Os números dizem tudo:
-Mais de 260.000 mortos, dezenas de milhares de desaparecidos, quase sete milhões de pessoas que tiveram de deixar as suas casas à força, estupros, sequestros e inúmeras vidas marcadas para sempre.
Nesta quarta-feira, representantes dos dois lados anunciaram que chegaram a um acordo de paz "integral e definitivo", que irá por fim a um conflito armado de mais de 50 anos
O anúncio deste acordo foi transmitido ao vivo de Cuba, pelo negociador Rodolfo Benítez, membro da equipa do governo colombiano.

- Mas como começou esta guerra interna, considerada como a mais antiga do Hemisfério Ocidental?
- Quem é quem no conflito?
- Porque há guerra na Colômbia, considerado uma das democracias mais estáveis da América Latina?

Conheçam a seguir as respostas para essas perguntas.

Quais são as causas desta guerra?


Quando questionados sobre quais serão as causas do conflito, muitos colombianos respondem:
- Falta de emprego e de oportunidades, desigualdade, concentração da riqueza, injustiça social; falta de tolerância, indiferença e corrupção.

Farc1gforum.jpg
As negociações entre a guerrilha e o governo colombiano começaram em Novembro de 2012

Apesar de suas riquezas naturais, a Colômbia é um dos países com maiores desigualdades do mundo, sendo o terceiro depois de Haiti e Honduras no continente americano.
"O conflito na Colômbia é diferente de outras guerras civis no mundo, que geralmente têm razões étnicas, económicas ou religiosas claras", argumenta Stephen Ferry em seu livro "Violentologia".
É até difícil para os colombianos definir a natureza do conflito, acrescenta Ferry, citando diferentes explicações, como um negócio bélico lucrativo, que se perpetua influenciado pelo tráfico de drogas; "um ciclo de retaliação pelas atrocidades cometidas no passado"; uma guerra de classes de camponeses revolucionários contra um sistema corrupto.
De acordo com Alvaro Villarraga, do Centro Nacional de Memória Histórica, há três elementos que estão na raiz do conflito, como a tendência a usar a violência no poder e na política, a falta de resolução sobre a questão da propriedade da terra no campo e a falta de garantias para a pluralidade e exercício da política.

Quais são as origens desta guerra?


Os conflitos colombianos advêm do tempo colonial.
No entanto, é importante referir que, do século 19 até o início do século 20, houve níveis intensos de violência fratricida que marcaram para sempre o futuro da Colômbia.

Farc2gforum.jpg
O nome FARC foi adoptado em meados dos anos 60

Foi um combate entre partidários liberais e conservadores numa relação de forças, que alimentaria todos os conflitos do país depois disso.
A expressão mais profunda do confronto conservador-liberal ocorreu a partir de 1948, com o assassinato do popular candidato liberal Jorge Eliecer Gaitan.
Em todo o país começaram inúmeros confrontos violentos, inicialmente em Bogotá, mas que logo se estenderam às áreas rurais.
Este período, que durou até finais dos anos 50, recebeu o simples nome de "A Violência", que vitimou mais de 200.000 mortos.

Como é que começou a guerra com as Farc?


"As zonas de guerrilha eram imaginadas ou representadas como áreas de domínio da liberdade", diz o historiador Gonzalo Sanchez.
Em Marquetalia, constituiu-se uma espécie de "república independente", formada por cerca de 50 homens que lutaram durante "A Violência" com as suas famílias.
À frente deste grupo estava Manuel Marulanda Vélez, um combatente treinado nas guerrilhas liberais dos anos 50, que se tornou o primeiro chefe das Farc.
Depois de ser derrotado, Marulanda fundou um grupo guerrilheiro chamado Bloco Sul, que em 1966, finalmente, adoptou o nome de Farc.
Mas as Farc não foram apenas um produto da história colombiana, mas também do que estava acontecendo no mundo.
Elas surgem no contexto das lutas de libertação da América Latina, alimentadas pela tensão EUA-União Soviética na Guerra Fria.
As Farc são um grupo guerrilheiro comunista, marxista leninista de inspiração, e não são as únicas organizações comunistas de guerrilha nascidas a partir dessa época

Farc3gforum.jpg
Este conflito armado também foi afectado pelo contexto internacional da Guerra Fria

Quase simultaneamente é formado o Exército de Libertação Nacional (ELN), inspirado pela Revolução Cubana, que treinou os seus líderes, e ainda hoje continua a lutar com o governo.
Mais tarde surgem o Exército Popular de Libertação, o M19 (mais urbano) e outras guerrilhas, que já foram desmobilizadas.

A escalada do conflito


Apenas no início dos anos 80, as Farc decidiram que passariam a ter um único objectivo que seria a tomada do poder, quando passaram a chamar-se Farc-EP (Exército do Povo).
No final daquela década, a ascensão de grupos paramilitares de direita, encorajados por sectores das Forças Armadas e alguns proprietários de terras, empresários e políticos, assim como traficantes de drogas, aprofundou a violência do confronto armado.
Nessa mesma época começa a haver cada vez mais influência do narcotráfico no conflito armado colombiano, do qual se servem tantos os grupos paramilitares, como os guerrilheiros.
Em 2000, os Estados Unidos começaram a prestar assistência técnica e económica à Colômbia, na luta anti rebeldes e anti droga, investindo durante 15 anos cerca de 10 biliões US$ no âmbito do Plano Colômbia.
Este Plano permitiu a modernização das Forças Armadas e da Polícia, que actualmente somam cerca de meio milhão de soldados.
Também em 2000, as Farc atingiram a sua maior capacidade militar, com cerca de 20.000 homens.

Farc4gforum.jpg
Com o apoio dos EUA, a Colômbia modernizou e aumentou as suas forças militares e de segurança

Os anos seguintes viram uma sucessão de acontecimentos dramáticos, com métodos mais violentos de guerra, incluindo sequestro por grupos paramilitares, que cometeram vários massacres e violações dos direitos humanos, tanto por parte da guerrilha como das forças estatais.
Consequentemente e como reflexo, a maioria dos mortos neste conflito são civis.
Porque é que o conflito com as FARC, chega ao fim agora?
Esta não é a primeira vez que as Farc e o Governo da Colômbia buscam a paz.
Em 1984, houve uma primeira tentativa, quando parte das Farc se juntou a um partido político, a União Patriótica, cujos membros foram alvo de esquadrões de extrema direita e milhares foram mortos.
Houve novas tentativas em 1991 e 1998, que falharam por diversas razões.
Durante os governos do presidente Álvaro Uribe (2002-2010) houve uma grande ofensiva contra as Farc, que incluiu bombardeamentos a acampamentos rebeldes, que se intensificaram durante a administração do seu sucessor e actual presidente Juan Manuel Santos.
Nestes ataques do governo, as forças da guerrilha foram dizimadas e os seus maiores e carismáticos líderes foram mortos (Manuel Marulanda não, pois morreu de velhice num acampamento das Farc).

Farc5gforum.jpg
Negociações de desarmamento vieram depois de uma escalada de grande confronto

Hoje estima-se que as Farc tenham uma força militar com cerca de 7.000 homens.
Existe no entanto o argumento de que este enfraquecimento colocou os rebeldes numa posição onde negociar será a melhor opção.
Mas também há um contra-argumento, que depois de mais de uma década de ofensivas militares, não foi possível as forças do governo derrotar as Farc e também é razoável pensar por seu lado em negociar.
De qualquer forma, em Novembro de 2012, começaram as conversações em Havana entre os líderes da guerrilha e os do governo de Juan Manuel Santos.

Paz definitiva?


Os acordos de Havana com as Farc são essenciais para alcançar uma paz estável e duradoura na Colômbia, mas não são suficientes.
Por um lado, o ELN encontra-se activo e, embora tenha havido progressos em negociações com a guerrilha, o processo ainda não começou.
Além disso, grupos paramilitares desmobilizados em meados de 2000 ainda não entregaram todas as suas armas. Muitos dos seus membros uniram-se, no que o governo chama hoje de grupos armados organizados.
Alcunhados de entidades criminosas capazes de controlar territorial certas partes do país, encontram-se dotados de um alto poder de fogo.

Farc6gforum.jpg
Apesar do desarmamento das FARC, persistem inúmeros grupos capazes de controlar territorial e com um altíssimo poder de fogo

Esses grupos estão envolvidos em extorsão, tráfico de droga, tráfico humano, mineração ilegal, entre outras actividades, e representam uma séria ameaça para a paz.
Mais do que isso, activistas sociais e defensores dos direitos humanos dizem que, estes grupos paramilitares continuam a operar na Colômbia com objectivo de aterrorizar a população e silenciar membros activos das comunidades.
Finalmente, muitos acreditam que uma paz sólida na Colômbia só pode ser alcançada, quando as causas profundas do conflito forem resolvidas.
Como dissemos no início, a falta de empregos e oportunidades, a desigualdade, a concentração da riqueza, a injustiça social, a falta de tolerância, a indiferença; e a corrupção.
Talvez o acordo com as Farc abra uma oportunidade para começar a resolvê-los de uma vez por todas.

BBC
 
Topo