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Conversa com Isaac Asimov: Olhando para o Futuro!

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GF Platina
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Uma conversa com Isaac Asimov!

Há séculos que os profetas têm vindo a predizer o fim do Mundo. Que espécie de fim natural imagina que poderá sofrer este planeta?

Um fim natural inevitável, mesmo se não se verificar qualquer outro cataclismo, será, evidentemente, a morte do Sol. Esta estrela consumirá gradualmente o seu combustível de hidrogénio e dentro de cerca de 8000 milhões de anos, destruirá a Terra. Quando o hidrogénio se esgotar, o hélio que restar arderá até se transformar em carbono. Em consequência deste fenómeno, o Sol expandir-se-á e tornar-se-á vermelho-incandescente. Mas como a sua superfície será consideravelmente mais vasta, a quantidade total de calor será muito superior à actual e queimará a Terra.

Então que esperança existe? Que poderá a Humanidade fazer? Poderemos sair da Terra e ir habitar noutro local?

É quase certo que, antes que sobrevenha a morte do Sol, nos teremos espalhado através da nossa própria galáxia e talvez de outras. A forma mais prática, salvo se surgirem novos avanços técnicos de difícil previsão, será a construção de naves gigantescas que constituam unidades ecológicas autónomas que sejam lançadas no espaço com um destino indefinido. De quando em vez, uma destas naves encontrará um mundo que pode ser colonizado. A forma mais lógica de realizar este projecto parece ser através do aproveitamento e adaptação de pequenos asteróides, que seriam escavados e abastecidos com tudo de que necessitassem. Sem dúvida que, em 8000 milhões de anos, disporemos de tempo suficiente para povoar o espaço com estas naves, e antes do fim deste planeta, teremos colonizado, provavelmente, milhões de mundos em todo o Universo. Certamente encontraremos outros seres inteligentes obedecendo aos mesmos objectivos.

Poderíamos criar colónias noutros planetas do sistema solar?

Nenhum deles é habitável sem que as suas condições sejam profundamente alteradas. Alguns deles, como a Lua, certamente, e Marte, poderiam ser tornados habitáveis. Mas sofrerão o mesmo destino da Terra quando o Sol morrer. Consequentemente, não constituem qualquer solução a longo prazo.

Quanto tempo demorará essa jornada? Até que distância teremos de viajar nesses mundos móveis?

Esses viajantes espaciais acabarão por encontrar outro sistema solar com uma cintura de asteróides. Poderão talvez então abandonar o seu asteróide original, que por essa altura estará bastante deteriorado, e ocupar um novo. Nesse momento não podemos dizer até onde terão de viajar para encontrarem uma nova terra habitável. Se considerarmos exclusivamente a nossa galáxia, esta tem 135.000 milhões de estrelas, que provavelmente terão quase todas o seu sistema planetário próprio. Poderá haver, na nossa galáxia, até 640 milhões de planetas semelhantes á Terra - por outras palavras, as possibilidades de descobrirmos tais planetas são cerca de 1 para 200. As probabilidades de se encontrarem tais planetas em todo o universo são ainda maiores. Além disso, poderão eventualmente existir entre os astros outros corpos celestes que desconheçamos. Nada sabemos sobre possíveis corpos escuros, à excepção daqueles que se encontram muito próximo do nosso próprio Sol. Pode acontecer que estes não sejam invulgares - digamos que, no espaço de 1 milhar de anos, existe a probabilidade de encontrarmos algo conveniente.

Até que ponto é todo esse processo exequível? E quanto à velocidade da viagem? A velocidade da luz, que se desloca a mais de 1000 milhões de quilómetros por hora, supera qualquer coisa conhecida. Tal como existe uma barreira do som, parece existir uma barreira da luz. Quanto tempo levarão essas viagens?

Enquanto existir o limite da velocidade da luz, não podemos esperar estabelecer comunicação entre as estrelas através de qualquer dos processos actualmente conhecidos. Se presentemente enviássemos uma nave para as estrelas com os conhecimentos de que dispomos, esta levaria vários anos a chegar à estrela mais próxima, milhares de anos a atingir as estrelas moderadamente distantes, dezenas de milhares de anos a transpor uma galáxia, milhões de anos a atingir mesmo as galáxias situadas mais próximas. A única esperança de realização prática deste projecto depende da possibilidade de se viajar mais rapidamente do que a luz - sem contrariar a teoria da relatividade, que parece corresponder de facto à realidade do Universo. Por exemplo, os cientistas actualmente especulam sobre a existência de determinados tipos de partículas denominadas taquiões, que se deslocam sempre a uma velocidade superior à da luz, as quais na realidade, não foram ainda detectadas. Se existem, será extremamente difícil detectá-las. No entanto podemos especular sobre a possibilidade de transformar simultaneamente todas as partículas de uma nave espacial nas correspondentes partículas taquiónicas, partindo, a uma velocidade várias vezes superior à da luz, numa direcção determinada e concebidas para percorrerem uma distância estabelecida, e depois, subitamente, convertê-las de novo em partículas vulgares. Praticamente sem perda de tempo, está-se no extremo da galáxia, a aproximadamente 200.000 milhões de quilómetros de distância. Evidentemente que os problemas científicos que envolvem a transformação de todas as partículas da nave, incluindo as dos seres humanos, em taquiões e a sua reconversão com tal simultaneidade que não se perca metade do coração ou determinados átomos necessários se revestem de uma enorme dificuldade.

Segundo afirma, a Terra durará provavelmente mais 8000 milhões de anos. Sobreviverá também a Humanidade até essa altura ou seremos primeiro destruídos?

Isso pode acontecer a qualquer momento, embora quanto mais tempo decorrer sem que tal se verifique mais profundamente eu acredite que o cataclismo não acontecerá. Tivemos oportunidades para guerras nucleares e evitámo-las.

Poderá a Terra ser destruída numa colisão com outro planeta ou um grande meteoro?

É altamente improvável. O espaço é amplamente vazio, e as possibilidades de sermos atingidos por algum corpo de dimensões consideráveis são muito reduzidas. Por exemplo, a distância média entre as estrelas na área que ocupamos na nossa galáxia é de 8 anos-luz - cerca de 80 milhões de quilómetros. Na realidade, as estrelas na nossa galáxia encontram-se na mesma proporção em que estariam alguns grãos de areia em todo o Central Park de Nova Iorque.

E quanto a uma possível invasão e destruição por parte de seres extraterrestres?

Essa é uma situação muito comum da ficção científica, mas que me parece improvável. Os seres inteligentes que se encontram mais próximos de nós estarão, provavelmente, a uma distância de 50 anos-luz, que não é fácil de atravessar. Os seres capazes de realizarem a travessia estariam extremamente avançados, e eu creio que uma raça consideravelmente mais avançada do que a nossa teria possivelmente avançado também em humanidade e seria improvável que actuasse como uma raça de bárbaros.

Quais são então os perigos que, em sua opinião, a espécie humana terá de enfrentar?

Considero extremamente improvável que a espécie humana possa alguma vez ser totalmente destruída, mas a menos que actuemos agora, imediatamente, de forma decisiva, penso que, dentro de 30 a 50 anos, destruiremos a civilização tal como a conhecemos. Estamos a caminhar rapidamente nessa direcção.

Essa ideia parece inquietante num espaço de tempo alarmantemente curto?

Bem, esta é a situação desesperada a que chegámos. No momento presente, a população do Mundo é de longe mais elevada do que em qualquer momento do passado - quase 4000 milhões, em comparação com os 2000 milhões de há apenas 50 anos. Duplicou nos últimos 50 anos e voltará a duplicar, a menos que surja um novo controle nos próximos 35 anos. Esta a razão por que se torna extremamente difícil alimentar as pessoas. Uma parte substancial da Humanidade encontra-se constantemente em risco de morrer de fome. No ano 2009, haverá entre 7000 e 8000 milhões de habitantes na Terra, e não teremos até então duplicado a nossa produção de alimentos. Isto significa que, dentro de aproximadamente 30 ou 50 anos, as epidemias de fome poderão tornar-se uma ocorrência banal. Além disso, com uma grande quantidade de pessoas subalimentadas, registar-se-á um aumento de doenças. Haverá uma maior insegurança generalizada no Mundo, pois mesmo aquelas nações que habitualmente não associamos com condições de fome serão seriamente afectadas. Não é provável que se tornem economicamente auto-suficientes.

Mas implicaria necessariamente esta situação o fim da civilização?

Considero discutível pensar que a nossa civilização tecnológica, altamente complexa, e consequentemente, bastante frágil, possa suportar uma crise deste tipo. A história da Humanidade está assinalada pelo avanço da tecnologia. Naqueles períodos em que esta declina durante algum tempo, temos aquilo a que chamamos uma idade das trevas. Têm-se registado, no passado, várias idades das trevas na história da Humanidade, mas sempre localizadas no espaço e no tempo. Consideramos extremamente longa a idade das trevas na Europa Ocidental entre os séculos V e XI, a qual se revestiu, na realidade, de um carácter muito local. O único motivo por que lhe prestamos atenção é o facto de, culturalmente, sermos europeus ocidentais. Na realidade, o Império Bizantino encontrava-se em pleno desenvolvimento, o mundo árabe atingira o seu apogeu cultural e em Espanha florescia uma brilhante civilização, tão perto de países mergulhados na idade das trevas. Foi apenas no Império Franco que se verificou uma idade das trevas. Na realidade, a Europa começou a sair desse período por influência da civilização existente na sua periferia. Porém, se a nossa tecnologia desaparecer, mergulharemos numa idade das trevas que, pela primeira vez, será à escala mundial. Não haverá nenhuma área incólume capaz de actuar como salvadora do restante. Além disso, será uma idade das trevas que surgirá depois de termos consumido todo o petróleo, esgotado as provisões de carvão de mais fácil extracção, dissipado os melhores recursos minerais da superfície da Terra, tornado talvez radioactivo parte do meio ambiente e destruído uma grande quantidade do solo terrestre através de um cultivo excessivo, numa tentativa desesperada de alimentar a população.

Mas quanto a novas fontes de energia e novos recursos alimentares?

Bem, é claro que é possível que aprendamos a extrair dos oceanos uma quantidade progressivamente maior de alimentos e que transformemos plantas e árvores existentes em substâncias proteicas. Isto já está a ser feito, e aperfeiçoaremos indubitavelmente essa espécie de tecnologia. Também é verdade que a energia solar se tornará a nossa principal fonte de energia. Mas só através de progressos rápidos e notáveis será possível evitar com eficácia uma crise eventual.

Não há esperança de que qualquer outra parte do Universo possa ajudar-nos?

Penso que a crise se aproxima demasiado rapidamente, durante a vida de pessoas que hoje em dia já não são crianças. Eu diria que um indivíduo actualmente com a idade de 20 anos assistirá à crise enquanto estiver ainda no vigor da vida. A salvação poderá eventualmente, processar-se através de qualquer inteligência superior, mas francamente, se formos salvos de modo semelhante, a vida não valerá a pena viver. Seríamos apenas uma espécie de animal doméstico. Penso que não me oporia a ser salvo se a alternativa fosse a destruição, mas deixaria de me incluir entre os senhores da criação. Seria apenas um homem, animal doméstico bastante inteligente, o que de modo algum me agradaria.

Como podemos então ajudar-nos a nós próprios?

Não é suficiente proporcionar novas fontes de energia e alimento. Suponhamos que, por exemplo, no ano 2000 temos criado um sistema que nos permite alimentar 7000 milhões de pessoas. Se o fizermos e nos continuarmos a reproduzir no mesmo ritmo, decorridos 35 anos haverá 14.000 milhões. E que fazer então? Algures, em determinado momento, o crescimento da população terá de cessar. Mas há apenas duas formas para deter o crescimento. Ou o índice de mortalidade aumenta, para equilibrar o da natalidade, ou o de natalidade baixa, para equilibrar o de mortalidade.

Poderemos então sentirmo-nos optimistas nesta situação?

Sim, porque é espantosa a rapidez com que os seres humanos, coagidos, pela necessidade, podem mudar. Há apenas 20 anos, o controle da natalidade era proibido em vastas zonas onde agora ajuda a manter estável o índice demográfico. Talvez com a elevação do índice de mortalidade os homens compreendam que o de natalidade tem de descer rapidamente.

Mas isso implica necessariamente um acordo mundial sem precedentes?

Certamente, mas o facto de estarmos a enfrentar problemas globais - esgotamento de recursos, explosões demográficas, poluição, etc. - tornou bastante claro o facto de nenhuma nação constituir uma unidade independente. Tornou bastante claro a impossibilidade da guerra, não só a guerra nuclear mas a guerra com armas convencionais. O Ocidente vive actualmente uma situação de desanuviamento com a Rússia e China, e foi o mesmo povo da América que fora anticomunista e o mesmo povo da Rússia e da China que fora antiamericano que conseguiram esse desanuviamento. Este foi-nos imposto pelos acontecimentos, e à medida que cada ano a crise mais se aproxima, toda a Humanidade será forçada a envidar esforços mais drásticos e a tomar medidas que actualmente considerarmos impossíveis. Lembre-se também que, no passado, a Humanidade encontrou formas de vencer catástrofes. Por exemplo: durante a peste conhecida pela morte negra, no século XIV, morreu talvez um terço da população humana. Foi uma catástrofe, mas o mais espantoso é que, com uma doença tão contagiosa e tão fatal e com uma raça humana que ignorava os métodos de higiene mais elementares, dois terços sobreviveram.

E se encontrarmos uma forma de vencer a crise que prevê, que se seguirá?

Se pudermos solucionar o problema da população, mesmo embrionariamente, e passar o século XXI recuperando e reconstruindo uma civilização segundo uma filosofia do crescimento em qualidade, crescimento em experiência, crescimento em novas formas de tecnologia, parece-me que o futuro poderá ser maravilhoso. O homem é a primeira criatura sobre a Terra a ser potencialmente imortal. Desde que possamos agora controlar a evolução, controlar o nosso meio ambiente - e no futuro até um ponto e de formas actualmente nem sequer sonhadas -, tornar-nos-emos invulneráveis.

Então poderíamos viver por aqui muito tempo e quando os cientistas previsse perigos por parte do Sol, abandonar a Terra?

Muito antes disso. Se não nos suicidarmos, imprudente e desnecessariamente, é quase certo que alcançaremos um ponto em que nada mais nos poderá atingir, excepto o fim total do Universo inteiro.

(Extraído da obra "O Grande Livro do Maravilhoso e do Fantástico" - 1977)
 
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