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A minha casa

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TIN

Visitante
Este sempre foi um lugar especial. Carrega com ele, mesmo vazio, parte de mim e da minha vida. O tempo que aqui escrevi é apenas um retalho de tudo o que vivi, senti e de tudo aquilo em que me tornei só porque, dos meus dias, também dependias tu. Muitos meses se passaram antes de abrir este canto e outros, bem menos, se passaram depois que o fechei.

Hoje, este blogue, eu, somos uma casa grande, como sempre fomos. Temos telhado e aqui dentro não chove. Enroscamo-nos como se o mundo fosse acabar, sempre que ouvimos a chuva, mas sabemos que haverá sempre um rasgo de luz, de manhã, a entrar naquele vidro partido para nos confortar. É essa a diferença. Hoje, vivo numa casa de vidros estilhaçados, partidos. Não ando descalço para não me cortar, abrigo-me como quem se abriga da chuva para não se molhar. Tal qual diz o povo e digo eu, que não corro apenas, como já se percebeu, o risco de me molhar. Sim, há o risco de me cortar, de me magoar, de sangrar e chorar. Chorar porque dói, porque há palavras que fazem brotar de nós o nosso sangue. O nosso próprio sangue.

Não sou só uma casa grande. Sou uma pessoa maior e melhor. Deixei que as janelas se partissem, porque não me lembrei de as mudar antes que se quebrassem. Estavam velhas e cansadas. E eu não me importei. Hoje, reparo tudo com as minhas próprias mãos. Às vezes sangro e choro, para mim a primeira sempre implicou a segunda, mas não perco a força, nem a vontade. As cicatrizes não ficarão para contar a história, porque há histórias que limpamos, varremos ou sacudimos, tal qual como fazemos com o pó. Deixemos que voem para longe e depois caiam no chão. Depois pisamo-las. Talvez volte o pó, porque volta, mas talvez volte outro pó. E talvez eu o volte a sacudir, mas talvez já não seja eu, mas outro eu. E talvez, na minha casa grande, em mim, eu viva para sempre feliz e talvez... Quando me vieres visitar eu não te sacuda. Talvez te beije e deixe que voltes.

Nas gavetas, não guardo só dias felizes. Guardo, também, os dias que me fizeste perder e aqueles em que te perdi. Mas, pior que isso, os dias em que pensei que tinha e, afinal, não tinha. Essa seria, ou será, a única razão pela qual este canto existe, mas sem palavras. Silêncio.

Abraço.
Tin.
 
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