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Euforia pela aquisição de energias renováveis toma conta do mundo

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Os especialistas advertem os navegantes: a consciência ecológica, a mudança climática, a escassez de petróleo e a aposta cada vez maior dos governos ocidentais em novas fontes de energia deflagraram uma euforia de compras de ações de empresas de energia renovável.

A euforia em torno da aquisição de ações de empresas do setor de energia renovável foi conseqüência da “paralisação que tomou conta do setor imobiliário”, observa Ignasi Carreras, professor da ESADE, na Espanha. Outro fator que levou à compra frenética de ações do setor foi a exigência por parte da União Européia (UE) de que os países-membros consumam esse tipo de energia. A UE fixou especificamente o ano de 2020 para que 20% do consumo energético seja feito por meio de energias renováveis. “Esse tipo de energia chega com muito atraso”, afirma Carreras. Contudo, “graças aos investimentos de grandes grupos, sobretudo os do segmento energético, de transporte e de construção, que se reposicionaram para continuar sustentáveis, foi possível impulsionar a atividade do setor”, lembra Carreras.

Para Javier Carrillo, professor do Instituto de Empresa, houve a combinação de duas circunstâncias. Por um lado, uma circunstância de ordem estrutural: “Estamos em um contexto regulado que favorece a geração de negócios nesse setor. A Europa aposta nas energias renováveis, e é preciso investir para que se atinja o objetivo estipulado pela agenda européia. Temos também consciência da dependência energética: o setor está dando seus primeiros passos, portanto faz sentido que tenha participação do governo e conte com seu apoio.” Por outro lado, há também circunstâncias de ordem conjuntural: “Existe a impressão de que os investidores buscam alternativas à crise hipotecária para diversificar suas carteiras, tanto no que diz respeito à sua participação no setor quanto à aplicação em fundos de investimentos. Há uma fome de rentabilidade que não é mais satisfeita como antes pelo setor imobiliário. Há também pouca oferta, e a demanda faz forte pressão sobre uma oferta escassa.” Para Carrillo, a circunstância de ordem estrutural perdurará mais tempo, ao passo que a conjuntural “dependerá mais da oferta, isto é, da estabilização, ou não, dessa fome”.

A posição dos EUA
Em meados de novembro, com o preço do petróleo batendo nos 100 dólares o barril, o presidente dos EUA, George W. Bush, anunciou que os EUA reduzirão sua dependência do petróleo estrangeiro recorrendo à tecnologia para desenvolver fontes alternativas de energia, como a gasolina produzida a partir do etanol (feita de cereais) e combustíveis de hidrogênio para motores não poluentes. A declaração fez disparar as ações das empresas de energia nas principais bolsas do mundo, repercutindo inclusive na Espanha. “Embora os EUA digam não ao Protocolo de Kyoto, os Estados da federação americana demonstram uma maior boa vontade em relação à mudança climática. O que acontece na Espanha é que estamos bastante conscientes a esse respeito”, observa Carreras. Na América Latina, ao contrário, não se sabe muito bem ainda o que acontecerá. “São países que não têm peso no Protocolo de Kyoto”, diz Carreras. O contexto europeu está muito marcado pelo compromisso de “lutar contra a mudança climática e diminuir a dependência dos combustíveis fósseis. Nos EUA, não há apoio por parte do governo”, lembra Carrillo. Para o professor do IE, não se deve perder de vista a evolução do tema no contexto asiático, “que está bastante condicionado pela China e pela Índia. A China se destaca como país onde o consumo de energia é maior, a demanda é grande e as emissões de poluentes também. Na América Latina, “a situação geográfica dos recursos disponíveis deixa os países da região em situação difícil, mas falta volume de atividades”, observa.

A presença de empresas de energia alternativa na bolsa espanhola é praticamente nula (Abengoa, Sniace, Gamesa e Iberdrola), uma vez que o pregão madrilenho não vive a euforia que tomou conta das demais praças européias, principalmente da Alemanha, onde o governo estipulou um prazo de 15 anos para que as fontes renováveis respondam por 20% da energia do país. Os especialistas asseguram que não estamos diante de uma bolha iminente de energia renovável, a exemplo do que ocorreu com as empresas de tecnologia em 2000. “Trata-se de um tema que estará na agenda mundial nos próximos 15 anos”, lembra Carreras. O professor acrescenta que poderíamos admitir a chegada de uma bolha constituída por empresas de energia renovável se “os investimentos fossem espetaculares e sem rigor algum”.

Para Carrillo, todo setor emergente é sempre uma novidade. Há sempre o risco de que se forme uma bolha, diz ele, “mas isso é algo que só o tempo dirá”. No entanto, Carrillo está praticamente convencido de que não haverá bolha alguma nem a curto nem a médio prazo. E acrescenta: “É pouco provável que tenhamos uma bolha, uma vez que o crescimento do setor de energia renovável tem apoio do governo: há objetivos de médio prazo para a utilização, até 2020, de 20% desse tipo de fonte energética.” Carrillo cita como exemplo os biocombustíveis, “que geraram incertezas diante do possível impacto disso sobre as fontes produtoras de alimentos, ou sobre a alta dos cereais, que já começa a se fazer sentir, como se viu no caso da Abengoa (energia solar e biocombustíveis)”. A energia eólica “está bem à frente das demais, e a energia solar promete muito”, observa Carrillo. No embalo dessa política, as ações de empresas de novas energias dobraram de valor em 2006. No topo do índice de tecnologia da Bolsa de Frankfurt aparecem quatro companhias de energia solar: Q-Cells, Conergy, Resol Solar e SolarWorld.

Trajetória de alta
Alguns analistas chamam a atenção para as elevações exageradas das ações das empresas de energia renovável. “Estamos assistindo depressa demais à derrocada de um mundo fabuloso”, disse. Carrillo critica a elevação exagerada das energias renováveis em todas as praças do mundo porque “falta oferta e há muita demanda”. Acrescentou que “os aumentos e as correções” serão bem assimilados, “porque a trajetória de alta tem sido extremamente elevada”.

Comportamento exemplar, diga-se de passagem, é o das empresas energéticas que contam com setores de energia renovável, e cujas ações integram o seleto índice espanhol Ibex 35. Em um ano, a Iberdrola (energia eólica) teve uma valorização de 38%; a Acciona (terceira no ranking mundial de energia eólica), subiu 53% e a Gamesa (principalmente os setores de energia eólica e de aerogeradores), 55%. Se observarmos o comportamento da Solaria (energia solar), as rentabilidades são ainda mais espetaculares, já que desde o momento em que suas ações passaram a ser cotadas em bolsa, em junho deste ano, tiveram uma valorização de mais de 130%. Já o grupo de energias renováveis Fersa valorizou-se 200% em um ano. Se os prognósticos se confirmarem, a Iberdrola Renovables, dona do maior parque eólico do mundo, deverá estrear no pregão em 13 de dezembro. Contudo, o que a empresa oferece para que sua estréia na bolsa seja considerada a mais espetacular da história? Para Carrillo, trata-se de “uma empresa com experiência no setor, e que demonstra uma vontade enorme de avançar mais ainda. Some-se a isso o grande volume de energia produzido pela empresa e temos essa estréia festejada na bolsa”. Por seu tamanho, liquidez, pela magnitude da aposta no mercado, acrescenta Carrillo, “a Iberdrola Renovables popularizará a possibilidade de investir em energia renovável. Contudo, trata-se ao mesmo tempo de uma empresa que se vale de sua projeção e trajetória. A empresa aposta alto na energia eólica, opera em um mercado bastante estável, tanto no que diz respeito às sus possibilidades de crescimento quanto ao ambiente regulatório. Por fim, é uma empresa muito grande em nível mundial nesse segmento”.

As energias renováveis entraram na moda este ano. A única diferença em relação à comoção provocada pela bolha das empresas pontocom, em 2000, é que as empresas voltadas para as energias renováveis trabalham em um segmento que está rendendo frutos, contam com o respaldo da consciência social e conquistaram o apoio dos governos e das fontes alternativas. Portanto, elas se converteram em um dos setores industriais de maior potencial de crescimento em todo o mundo, o que leva os investidores a agirem com extrema rapidez na hora de tomar posições tanto dentro quanto fora da bolsa. Na Espanha, o Plano de Energias Renováveis pretende que as estas respondam por 12% do consumo, embora os especialistas não considerem esse prazo viável. É uma questão de ordem social e política. A tecnologia de energias renováveis atravessa uma primeira fase de apoio pleno por parte dos governos no plano nacional e internacional, e é uma garantia de que há um curso a seguir”, observa Carrillo. Ao mesmo tempo, verifica-se a ocorrência de um paradoxo: trata-se de uma operação arriscada. “Assim como passa a sensação de que conta com o apoio dos governos europeus e de outras regiões para diminuir as emissões de poluentes, passa também a impressão de que não há garantias nesse sentido”, acrescenta.

Futuro promissor
Os especialistas prevêem um futuro promissor para o segmento, e estão convictos de que as perspectivas são bastante alvissareiras. O setor se beneficiou da crise hipotecária que abalou os EUA no verão. Além disso, com a desaceleração do mercado imobiliário, os acionistas se viram obrigados a deslocar os investimentos desse setor para o de energia limpa. Comemorando o bom comportamento das bolsas e das ações cotadas, os analistas prognosticam um bom potencial para o setor, sobretudo agora com a estréia das ações da Iberdrola Renovables e da Eólia (energia eólica) na bolsa, que poderá desencadear uma onda de alta nas ações de ambas as empresas. “É a busca de opções que atrai os investidores dispostos a assumir posições mais atraentes, na medida em que procuram reduzir riscos”, observa Carrillo. “Havia um capital que tinha de ser aplicado em algum lugar. Assim, os investidores reposicionaram suas carteiras, porque perceberam a possibilidade de retornos nos próximos anos se investissem em energias renováveis, principalmente em energia fotovoltaica e eólica”, acrescenta Carreras.

Os especialistas, porém, advertem: os investimentos em energias renováveis podem oferecer rentabilidades elevadas, mas os preços são altos. Seja como for, é um bom momento para essas empresas começarem a operar na bolsa. Os analistas lembram que as empresas que optaram por esse caminho, mostraram um bom comportamento durante as correções observadas nas bolsas este ano, e a opinião mais comum é de que terão lucro a curto prazo. “O momento atual é excelente para investir”, avalia Carreras.

O que quer que aconteça com as energias renováveis dependerá “da forma como esse mercado evoluirá rumo à maturidade”, observa Carrillo. A médio e longo prazo, “a evolução, a maior eficiência e os menores custos de geração de megawatts permitirão que o setor de energias renováveis ganhe autonomia e proporcione rendimentos mais independentes, transparentes e decorrentes do próprio negócio, e não em baseados em fatores políticos ou sociais”, observa.

O setor está na moda
Na hora em que tais lucros aparecerem, “alguns investidores e instituições dirão que é hora de colhê-los”, diz Carrillo. Contudo, o professor do Instituto de Empresa adverte que ainda estamos aprendendo como esse negócio funciona. “Eu recomendaria aos investidores que não incluíssem todas as empresas no mesmo saco, porque cada uma tem suas características próprias. Nem todas estão posicionadas da mesma forma, e é preciso aprender, nesse ínterim, a minimizar os riscos e não confundir as coisas, porque nem todas serão igualmente beneficiadas.” É preciso prudência, porque as empresas não são todas iguais. “No conjunto, porém, o setor é uma oportunidade rara.”

Segundo Carrillo, para que o investimento em energias renováveis seja sustentável a longo prazo, seria preciso que “sua rentabilidade fosse entendida não pelo ângulo da ajuda pública, e sim da competitividade”. Tudo indica que quando o setor estiver mais maduro, alcançará um nível maior de eficiência e de sustentabilidade”, conclui.
 
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