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Sexo na internet

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Apesar da lei não lhes dar luz verde, facilidades é o que sobra aos sites que publicitam escorts
A lei não só não sorri. Coíbe o incentivo. Mas a internet consegue ser um planeta à parte da jurisdição. Sites que anunciam escorts - mulheres, raparigas, moças, garantidas como serem maiores de 18 anos, todas vistosas, boas, boazonas, abençoadas pela natureza ou pela cirurgia plástica, fêmeas prontas para fazer sexo a troco de ‘massa’ que não é o esparguete, são muito mais do que se imagina.

Nessas páginas onde o sexo feminino é uma montra evidente de festa carnal, na maioria das vezes, o panorama não passa de um espectáculo anatómico que evoca um talho de barro. Seios ao léu, bocas e pernas e ventres abertos. Basta clicar, escolher a beldade, o cardápio afrodisíaco e telefonar. É sempre a própria que atende e nunca nenhum funcionário do site. O elo de ligação entre ambos é rudimentar: ela paga para anunciar e ele anuncia.

O procedimento dispensa manuais. Quando alguém decide recorrer a este calibre de serviço resta-lhe duas opções: preencher um formulário. Escrever o nome. Contacto. Data de nascimento. Preferência sexual. Se beija mais acima, ou mais baixo, se o beijo é completo ou se morre a meio, se inclui massagens com ou sem água, se usa brinquedos que não brincam. Etc.

Basta enviar as informações para um email e em breve receberá resposta. Também há a hipótese de ligar para um telemóvel, já que telefones fixos e moradas são inexistentes. Em quase todos os sites, a escort sujeita-se a uma entrevista que visa uma selecção obrigatória. Criaturas menos bonitas, com peitos a tocar o chão, ficam de fora.

MICHELLY

Não foi o caso. Michelly calça 37 e é dotada com 38 de busto sem silicone. Tem 23 anos. Mede 1,60 cm e pesa 50 kg. Está disponível sol a sol. É loura e brasileira . É uma escort. Faz préstimos sem restrições. A pagantes. À hora. Atende homens e casais.

Em hotéis ou no seu apartamento no coração de Lisboa. Mulher com um cesto cheio de experiência. Moça de palavra. Conforme o combinado, abre a porta de um quinto andar onde recebe os clientes e relata a sua história. O que motivou uma jovem carioca deixar a praia de Ipanema e vir para Portugal abraça o substantivo: “Grana”. Não foram as baladas de Tony Carreira ou a cabana, perto da praia, cantada por José Cid, que impulsionaram a sua decisão. ~

Mas o dinheiro. O emprego de telefonista que tinha na cidade maravilhosa, de maravilhoso tinha nada. Uns amigos brasucas residentes em Lisboa sugeriram-lhe que mudasse de vida e de ares. Aceitou o desafio. Em vez de falar ao telefone, fala directamente com os interessados. Deita-se com eles. Não se arrepende. Lembra-se do efeito dos cifrões.

Em semanas gordas ganha entre 1500 a 2000 mil euros, e nas forretas aufere menos, mas nunca inferior a duas notas de quinhentos. Mensalmente investe cerca de mil euros para anunciar em sites específicos da área que lhe interessa; sexo em troca de vil metal. “Eu anuncio no Portal Privado, no Apartadox e no Momentos de Prazer, e estou bastante satisfeita com os resultados”.

Recebe excelentes retornos. Os espertos telefonam-lhe. Marcam. Vão. Voltam. Vezes sem conta. A internet é mais célere do que jornais e detém o fabuloso detalhe de chegar a milhões de pessoas a um ritmo hilariante. A web, continua a sonhar Michelly, é um céu infinito de potenciais clientes.

Os cortinados do quarto são tal e qual a cor de um céu bem-disposto, próximo de um azul-turquesa que recorda Tânger. Um espelho, grande, enorme, alarga a dimensão de um espaço justo. Três telemóveis à cabeceira. No centro, a cama, de propósito, com tamanho royal queen.

Os pés de Michelly calçados com sandálias de saltos altíssimos pisam a colcha como se estivessem no calçadão do Leblon. A máquina fotográfica dispara às claras. Não é só a juventude que dispensa o anonimato. É a forma como encara o que considera ser “profissão passageira”, iniciada há um ano e meio.

Recebe dúzias de mensagens escritas para continuar activa nos ditos sites. Nem sempre, mas há ocasiões em que surgem promoções. Contudo, neste tipo de comércio, há menos saldos do que regras. “Um mês” é o tempo mínimo para anunciar.

O preçário varia, apesar da tabela estar quase ela por ela. Um anúncio simples não excede os 120 euros. Se quiser desfrutar de um destaque, ser a primeira da fila, pagará à parte outro montante. “Não é caro”. Nem é uma hora de suor. Oscila entre 50 a 80 euros, conforme o posicionamento do relevo. No acto do pagamento recebe uma factura/recibo, uma espécie de comprovativo que lembra uma factura de um jantar.

O preço das fotografias que estampilham o seu corpo equivale a 80 euros. “Eu não me oponho a isso”. A imagem é o que conta mais. É a gota principal que induzirá o guloso a decidir. Nos sites escolhidos por Michelly para propagar a sua actividade e publicitar os contornos do seu físico está fora de questão que seja um amigo a tirar as fotos ou que ela as traga de álbuns de casa. A sessão fotográfica centra-se nas mãos dos responsáveis dos sites.

Ela pousa e paga. Os fotógrafos cumprem o dever e os webmasters tornam-se proprietários das fotografias. “Nos Momentos de Prazer eles dão-me uma cópia num CD, nos outros não”. A jovem acha normal. Não quer saber que outras voltas poderão dar esses retratos. Nem se rala que uma cópia é uma mera reprodução e que jamais será comparada aos originais.

Além do mais, e isso é o que conta, Michelly fez uma jura. Em Dezembro vai largar este estilo de vida. O marido, um português ciumento, não gosta que toquem na sua “Maria”. Mas lá se aguenta. É ele que vigia se algum homem mais abestalhado vem com outras pretensões. Roubar. Matar. Tratar mal. “O nosso apartamento é bem aqui de frente...”.

O macho de sentinela, quiçá, três quinze dias seguidos, representa uma coitada segura profilaxia para antever fregueses tarados. “Mas tudo isto acabará em breve”. Michelly não esquece o bilhete de avião, ainda por comprar, que no final do ano levará o casal ao Brasil. Não ficarão na rua. Michelly já comprou casa. Duas.

FÁTIMA

Completou vinte e oito anos na quadra dos santos populares. Não é casada, nunca teve filhos, vive com a mãe. Fátima não se chama Fátima. Não mora na zona da Avenida dos Aliados, mas é nessas imediações que alugou um T1 para receber clientes. Não quis revelar o seu nome verdadeiro, muito menos que lhe divulgássemos uma vírgula do rosto. “A nossa sociedade não entenderia”.

Que uma secretária de uma multinacional tivesse uma actividade completamente diferente da oficial. “O dinheiro é importante, mas não é só esse factor que me estimula”. Sexo com desconhecidos abrasa a ardência. A clandestinidade inflama prazer. A existência dupla afasta o tédio. E ainda por cima, é verdade, e ninguém esquece, a conta bancária sobe aos Alpes.

É um casamento perfeito, com a agravante, estupenda, de não ter que costurar meias a marido nenhum. “Estou em dois sites, mas não digo quais são”. O máximo que adianta é que os considera os melhores porque são aqueles que mais proveito lhe têm dado. “Recebo muitos telefonemas”. Quem desembolsa são os ávidos. Ela lida com outras preocupações. A renda do apartamento e os mil e duzentos e cinquenta euros em anúncios na net.

“Sei que é muito, mas não há outra solução”. Para se alcançar uma frutífera carteira de candidatos a amantes fixos ou fugazes é imprescindível investir. E o investimento corresponde a duas publicidades diárias. Se assim não fosse o Nokia não se fartava de tocar. Médicos, construtores civis, engenheiros, empresários, estudantes endinheirados discam os seus nove algarismos. Assentam encontros. Taxados à hora.

Com limitações de horário: “Só trabalho a partir das seis da tarde e até às três da manhã, excepto fins-de-semana e feriados”. Sábados, domingos e dias santos está livre até que os ponteiros dêem a volta inteira ao relógio.

No sentido oposto ao norte, bem na Margem Sul, Paulo e Jorge, não são ingleses, mas primam pela pontualidade. www.acompanhanteslux.com foi a chave que dois amigos de longa data, jovens que ainda estão longe dos trinta anos, descobriram, após um valente chumbo à maldita matemática, para fortalecer as finanças. Laborioso?

Construir um site? Esqueçam. É fácil, sobretudo se estamos diante de peritos em informática e publicidade. Depois, para se montar uma empresa não é preciso muita mobília. Dois PC portáteis. Um par de cadeiras. Um carro. E conhecimentos. Pois. Uma acompanhante, se contente, puxa outra. “Não ficámos ricos”. Nem retrocederam a pobres. Vinte escorts escolheram este site para difundirem os seus dotes. “O custo por mês, que é o mínimo para anunciar, ronda os 90 euros. Com um destaque o total fica em 150 euros”.

Factura? Recibo? É câmbio directo. As raparigas pagam e eles divulgam. Nada na manga. Sobre a questão das fotografias encontraram duas formas para a resolver: “São tiradas pelos nossos fotógrafos no nosso estúdio, e custam 90 euros, ou se as anunciantes preferirem podem trazer fotos, mas neste caso nós certificamo-nos que a fotografia corresponde à anunciante”.

Em ambas as situações há uma condição sine qua non; as fotos não são muito explícitas”. Não por pudor. Se as escorts demonstrassem tudo e mais alguma coisa, os clientes não teriam tempo para telefonar, muito menos para o encontro. Resolveriam a larica do prazer a solo. O cunho de anunciantes é invariável. Brasileiras, na esmagadora maioria. E algumas portuguesas, quase todas originárias da Linha do Estoril. “São betas que utilizam esta estratégia para manter uma boa qualidade de vida”.

Paulo e Jorge não se importam se são ‘tias’ ou lavadeiras. O importante é que não haja chatices. Além do mais, este ‘job’ não será eterno. Os jovens não só não gostam de Pitágoras. Estão marrecos de viver em Portugal.

Não foi o destino que não quis que as perguntas enviadas por email a alguns sites ficassem por responder. Foi uma escapadela para não falarem sobre o que incomoda: se estão inscritos nas Finanças e se passam qualquer tipo de factura. Houve quem elegesse o silêncio, outros, apesar de simpáticos, roeram a corda, um caso em que as respostas chegaram incompletas, já que ficaram em branco as questões relacionadas com a existência, ou não, de recibos verdes ou brancos. Poderíamos tê-las publicado com uma condição: não se falaria das Finanças.

É claro que falamos.

A nesgas do fecho de esta edição o telefone trouxe uma voz masculina. Disse que o projecto nasceu há três anos. Que possui uma equipa de cinco funcionários. Que tem à volta de sete mil visitantes diários. Que conta, em média, com 40 anunciantes, espalhadas entre Lisboa, Porto, Madrid e Barcelona. Que é um site visto em noventa países. Em termos de facturação recebe cerca de oito mil euros. A voz masculina tem nome, mas não se diz, tal como os palavrões. Denomina-se “ApartadoX”.

“Tudo começou com uma brincadeira” lembra o mentor do projecto cuja identidade fica oculta por um escopo: a mentalidade lusa é um comboio de preconceitos. Ele não desejaria que a sua reputação nadasse no esgoto. A ideia do site encetou com uma brincadeira, mas a brincadeira medrou. Até um analfabeto faz as contas e a soma cheira a lucro. “Não”. A mesma voz defende que o site ainda não ganhou a dimensão suficiente para dizer que se trata de um “negócio da China”. Mas, segue a laringe: “Com o andar do negócio será. É essa a aposta”.

Enquanto o negócio não é da China, os custos, garante, andam primos dos gastos. “Nem todas as anunciantes pagam”. As escorts de Espanha não largam um cêntimo. Não é bondade; são estratégias para difundir a projecção internacional. As acompanhantes do Porto, por exemplo, se optarem por um destaque, nada lhes é cobrado. Não é por simpatia pelo Pinto da Costa.

É uma maneira de atrair. Quanto às fotografias, de facto, nunca serão à borla e jamais ficarão na posse das escorts. “A maioria das vezes as anunciantes pagam-nas a nós, mas também podem pagar aos fotógrafos”.

Lucro? Nem aqui. Imaginem. O responsável do ApartadoX assegura que o custo que os fotógrafos cobram é tal e qual aquele que as escorts suportam. A arma desenrascada para evitar que alguma moça use essas imagens na concorrência fica no papel: “Elas assinam um termo de responsabilidade de cedência de imagem ao nosso site”. E abrem os cordões à bolsa.


Correio da Manhã
 
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