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Estou a falar da freguesia de Castedo hehehhe........

migel

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O futuro da actual ministra da Saúde está traçado se não alterar a política de Saúde

o retrato da emergência médica de um País civilizado, de um verdadeiro Serviço Nacional de Saúde:

Emergência Médica: Bom-dia. Familiar da vítima: Estou a falar da freguesia de Castedo, Alijó. EM: O que é que se passa aí? FV: Tem que vir cá a Guarda. EM: Por que quer a ambulância? Olhe, quer uma ambulância aí em sua casa? FV: Vale mais a Guarda. EM: Mas quer a Guarda ou uma ambulância? Olhe se é só a autoridade que quer, vai desligar e voltar a ligar para o 112 e pede a autoridade; se há pessoas feridas eu mando-lhe uma ambulância. FV: Não, não, morreu. EM: Morreu? É um homem ou uma mulher? FV: Um homem. EM: E ele já estava doente ou foi agredido? Doente com quê? FV: Caiu. EM: Ao descer as escadas caiu? Foi hoje a queda? FV: Foi, agora de noite; deitou muito sangue pela boca. EM: E o senhor disse que ele morreu? Ele não respira? [ ] O senhor para me dizer que o seu irmão faleceu, está tão calmo; o senhor não está a brincar com o 112, pois não? Neste momento o seu irmão não se mexe, nem respira. FV: Não, não, está morto. EM: Então o que é que pretende aí? Ambulância e autoridade, é isso? E por que é que quer a autoridade? FV: Não se pode tocar nele. EM: Pronto, aguarde a chegada. [ ] EM: Estou, Bombeiros de Favaios? Uma saidinha para Castedo; a VMER de Vila Real é mais próxima, não é? BF: Sim, Vila Real, porque a de Alijó já está fechada. EM: Doutor, a VMER demora ¾ de hora, mas também não tem SAP aberto; não há nenhum centro de saúde aberto, pois não? BF: Não, aqui está tudo fechado [ ]. EM: Vou mandar a VMER de Vila Real. BF: E o que é que eu faço? EM: Vou passar- -lhe a VMER de Vila Real para ajudar a indicar o caminho. BF: Espere, que eu não tenho aqui caneta. EM: Valha-me Deus! BF: Não sei como vou explicar o caminho; o que é que eu faço? EM: Estou a falar para uma corporação de bombeiros, não é? E pergunta-me a mim o que vai fazer?! Nunca tal me aconteceu. [ ] Claro que tem de ir para o local com a ambulância. BF: Estou sozinho, não tenho mais ninguém comigo. EM: E o que vai fazer uma ambulância sozinha de emergência? Não arranja aí ninguém? BF: Quem é que eu vou arranjar agora? EM: Eu não estou a acreditar nisto, o gajo está sozinho, pergunta-me ele ‘o que é que eu faço’. Fazer uma emergência só com um tripulante? Só fica o senhor de noite na corporação? Então e se há um incêndio? [ ] B.Alijó: Tenho de tocar a sirene. Pronto, vou chamar um colega e vou já, está bem?

Esta conversa durou mais de dez minutos. Pobre da vítima, se não estivesse mesmo morta, ‘devidamente certificada’ pela EM ao telefone, teria morrido só de ouvir este diálogo.

Isto passou-se no Portugal de Abril, no séc. XXI, no Portugal da modernidade e das grandes obras de construção civil. Passou-se entre pessoas vítimas do sistema, sem formação adequada para o exercício destas delicadas funções. Este é o País real e profundo.

É verdade que existia um crónico défice do Serviço Nacional de Saúde que Correia Campos estancou. Mas a saúde são também as pessoas que dela necessitam e não pode ser só vista numa óptica economicista. A reforma das Urgências deve ser feita com mais prudência, assegurando mecanismos alternativos, o que, parece, não foi feito.

As trapalhadas do socorro pré-hospitalar, como a do excerto relatado, só podiam conduzir à demissão do ministro da Saúde. As populações tinham razões nos protestos. E o futuro da actual ministra da Saúde está traçado se não alterar a política de Saúde, pois não adianta mudar, apenas, o estilo.



Rui Rangel, Juiz
 
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