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Os Cristãos na Terra Santa

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Os Cristãos na Terra Santa


1. Uma história acidentada ao longo dos séculos


No século V a Palestina era praticamente toda cristã, tendo aderido à fé em Cristo a maioria da população local, como resultado natural da pregação do Evangelho, e sem qualquer tipo de pressão. A maior parte dos cristãos nativos que há na Palestina gloriam-se de serem descendentes dos primeiros cristãos da primeira hora, embora tenham deixado de falar a língua aramaica, que se falava no tempo de Jesus; com as invasões muçulmanas acabaram por ser arabizados, passando falar o árabe, inclusive nos ofícios litúrgicos. Causa uma viva emoção conversar e lidar com estes cristãos, pois se tem a sensação de se estar mais perto de Jesus Cristo e dos seus Apóstolos.

Tinham ficado poucos judeus, após a destruição de Jerusalém e do seu templo no ano 70, e sobretudo após o esmagamento total de focos de resistência judaica, pelo imperador romano Adriano, no ano 135. Então Jerusalém foi de novo arrasada e os judeus proibidos de ali entrar sob pena de morte, proibição que não atingia os cristãos. O impedimento só veio a ser levantado pelo primeiro imperador cristão, Constantino, embora com algumas restrições. Foi ainda no século IV, por iniciativa de Santa Helena, mãe de Constantino, que começaram a ser construídos grandes santuários a assinalar os lugares mais importantes da vida de Cristo.

No século VII tiveram início as devastações dos cristãos levadas a cabo pelos sucessivos invasores da Palestina: Em 614 os persas semeiam a destruição e a morte. Pouco depois vem a conquista pelos muçulmanos comandados pelo célebre califa Omar, em 636; inicialmente houve tolerância para com os cristãos até que chegou ao poder a dinastia egípcia dos Fatimidas, tendo Al-Hakim ordenado em 1009 a destruição do Santo Sepulcro e a perseguição dos cristãos, mas a situação ainda se agravou mais com a chegada dos turcos Seljúcidas em 1040; estes impedem os cristãos de entrarem em Jerusalém. Foi esta situação de opressão intolerável que, nos fins do século XI, levou os cruzados a lançarem-se à conquista do Lugares Santos; em 15 de Julho de 1099 entram em Jerusalém, tendo criado o Reino Latino de Jerusalém (com Balduíno I). Em 1187 os Cruzados são derrotados por Saladino, tendo acabado por cair o seu último reduto em S. João de Acre no ano de 1291.

Com tudo isto, a situação veio a agravar-se para os cristãos autóctones da Palestina. E as coisas pioraram com os mamelucos, vindos do Egipto (1260-1516). Seguiu-se-lhe, com Solimão, o Magnífico, o longo período turco otomano, de 400 anos, uma época de empobrecimento, até que, a partir de 1831 até 1917, a administração foi saneada e se favoreceu a liberdade religiosa e as relações com o Ocidente, tendo aumentado a comunidade judaica com a imigração.



2. Situação político-social após a 1ª Grande Guerra


Os turcos foram vencidos na Grande Guerra de 1914-1918, por isso a Palestina foi ocupada pelas forças aliadas, tendo ficado sob o "mandato britânico", por decisão da Sociedade das Nações; a imigração judaica teve um grande incremento, provocando-se uma forte tensão entre árabes e judeus. Em 14 de Maio de 1948 os ingleses abandonam a Palestina e nesse mesmo dia estala a guerra israelo-árabe, até que, sob a égide das Nações Unidas, se divide o território da Palestina, ficando constituído o Estado de Israel em 18 de Julho de 1948, a quem foi atribuída a parte ocidental de Jerusalém e mais de dois terços do território da Palestina; o restante terreno, em grande parte improdutivo, foi integrado na Jordânia juntamente com Jerusalém oriental.

A maior parte dos Lugares Santos ficaram em território árabe da Cisjordânia; também aqui estava a grande maioria da população cristã. Havia então, em toda a Palestina pouco mais de milhão e meio de habitantes, sendo a população judaica apenas cerca de 42%; entre a restante população árabe, havia apenas uns 145.000 cristãos, sendo cerca de metade destes pertencentes à Igreja Católica. A população hebraica tem vindo sempre a aumentar e a árabe a diminuir, não pela diminuição da taxa de natalidade, mas pela forte emigração, dadas as difíceis condições de vida para os árabes; e isto a tal ponto que no ano de 1992, num total de 5.155.000 habitantes, 81,9% eram judeus (4.220.000), 13,9% eram muçulmanos, 2,4% eram cristãos e 1,7% drusos.

Na Guerra dos Seis Dias, em 1967, Israel, invocando razões de segurança, apoderou-se do território palestino da Cisjordânia (a Ocidente do rio Jordão) e de Jerusalém Oriental, bem como da península do Sinai e da faixa de Gaza (pertencentes ao Egipto), do Golán (a Este e Norte do lago de Genezaré, pertencente à Síria). Esta situação de unificação da Palestina, se por um lado facilitou um pouco a vida aos peregrinos e turistas da Terra Santa, por outro veio a criar enormes dificuldades aos cristãos locais, de expressão árabe. É por isso que a emigração não cessa de aumentar, havendo cada vez menos cristãos na Terra Santa.

A autonomia da Palestina, fruto dos acordos assinados na Casa Branca em 1993 entre Rabin e Arafat, visa um processo de integração progressiva dos territórios ocupados em 1967, para a formação dum novo Estado Palestino. Este processo de paz tem-se esbarrado com enormes dificuldades. No entanto, uma semana após o assassinato de Rabin, 74% dos israelitas eram a favor da continuação do processo de paz; as sondagens realizadas nos territórios árabes ocupados davam uma percentagem de cerca de 70% de apoio à política de paz de Arafat. Contra este processo de paz estão, por um lado, os partidos de direita israelitas e sobretudo os colonos israelitas de Gaza (uns 5.000) e uns 140.000 colonos da Cisjordânia; por outro lado, os grupos islâmicos extremistas, como o Hamas, também estão contra. E um dos grandes pomos de discórdia, talvez mesmo o mais difícil de resolver, continua a ser o estatuto de Jerusalém Oriental.



3. As comunidades cristãs na actualidade


O Estado de Israel desenvolveu, a partir de 1967, uma política de domínio de toda a Palestina, dificultando enormemente a vida aos árabes no campo da instrução e da cultura, do desenvolvimento económico, da segurança social, etc.. Isto tem vindo a provocar, como já se disse, uma forte emigração para o exterior. Mas as maiores vítimas nesta complicada situação têm sido os cristãos; com efeito, para os judeus eles são simplesmente árabes, e para os muçulmanos são gente estranha e até suspeita. Assim, sucede que têm vindo a desaparecer povoados que eram inteiramente cristãos, e algumas cidades que eram de maioria cristã passaram a ter minoria: Belém, que em 1948 tinha 75% de cristãos, agora só tem cerca de 30%.

No entanto, têm melhorado as relações diplomáticas do Estado de Israel com a Igreja Católica. O desencadear do processo de paz permitiu que fossem estabelecidas relações diplomáticas normais em 1993 e também que, em 10 de Novembro do passado ano de 1997, fosse assinado um importante acordo entre a Santa Sé e o Estado de Israel, em que este reconhece a personalidade jurídica às diversas instituições da Igreja Católica estabelecidas em Israel; embora não se conceda qualquer imunidade no que se refere a impostos, reconhece-se o direito de se criarem novas dioceses. Neste acordo não se faz qualquer referência ao problema de Jerusalém, invadida por Israel em 1967, pois se trata de uma questão multilateral. No entanto, poucos dias antes, João Paulo II tinha declarado: "É necessário que as comunidades que se encontram nos Lugares Santos das três religiões monoteístas possam viver ali em concórdia e desenvolvam as suas actividades religiosas, educativas e sociais com total liberdade, com espírito de autêntica fraternidade, fazendo assim dessa cidade única a verdadeira cidade da paz".

Vejamos, finalmente, como está constituído o grupo minoritário de cristãos da Terra Santa:

Como já se disse, cerca de metade dos 120.000 cristãos, hoje existentes em Israel, são católicos. Dos não católicos, a maioria são ortodoxos, distribuídos pelos seguintes ritos e tradições: os Gregos Ortodoxos Melquitas, os Arménios Ortodoxos, os Coptos Ortodoxos, os Etiópicos Ortodoxos e os Sírio-jacobitas; por outro lado, estão representadas algumas comunidades da Reforma, como a anglicana, a luterana e várias seitas protestantes.

Os católicos estão distribuídos por diversos Patriarcados. Os Patriarcados são umas estruturas jurisdicionais que existem no Oriente cristão. Para se entender a organização eclesiástica dos católicos da Palestina é imprescindível abstrair das estruturas jurisdicionais eclesiásticas que temos entre nós, com um bispo à frente de uma determinada circunscrição territorial, sem ter fiéis fora do seu território. Na Terra Santa temos fiéis pertencentes a diferentes Patriarcados. Em Jerusalém há Vicariatos Patriarcais para a atenção pastoral dos fiéis correspondentes; de facto, os Patriarcas de rito oriental têm fora a sua sede patriarcal.

Antes de mais, vamos referir os Patriarcados de ritos orientais que agrupam as diversas comunidades cristãs autóctones, cujos fiéis são sucessores dos primeiros cristãos e que actualmente falam árabe, tendo permanecido em união com Roma. Eles formam comunidades paralelas às comunidades ortodoxas (separadas de Roma) pois têm o mesmo rito para a celebração da Liturgia. Os mais numerosos são os fiéis do Patriarcado Greco-católico melquita, uns 50.000. Temos depois os fiéis dos restantes Patriarcados orientais, os Sírio-católicos e os Maronitas. Para todos estes o seu Patriarca tem a sede em Antioquia. Temos ainda os do Patriarcado Babilónico do Caldeus, os fiéis do Patriarcado Arménio-católico e alguns fiéis do Patriarcado de Alexandria, de rito copto.

Paralelamente, temos em Jerusalém a sede do Patriarcado Latino de Jerusalém, que foi criado por ocasião das cruzadas, a que pertencem fiéis de rito latino, uns de língua árabe e que também se consideram descendentes dos primeiros cristãos, e outros que pertencem a comunidades cristãs, em geral ordens e congregações religiosas e outros fiéis do Ocidente que se instalaram na Palestina. Este Patriarcado foi criado em 1099 e restaurado em 1874, tendo tido à sua frente sempre um Bispo (Patriarca) originário do Ocidente; o actual é o primeiro Patriarca Latino palestino-árabe, Mons. Michel Sabbah, nomeado por João Paulo II. A este Patriarcado pertence a chamada Custódia da Terra Santa regida pelos frades Franciscanos (334) que desde o século XIV atendeu os peregrinos e cuidou e recuperou para os católicos (por vezes à custa da vida) cerca de 40 santuários dos mais famosos da Terra Santa; também têm a seu cuidado (dados obtidos em 1984) 39 paróquias, 22 escolas e colégios, 5 residências de estudantes, 18 centros paroquiais, 14 dispensários 4 orfanatos, 7 colónias de férias, etc.

Além disso, também está integrada neste Patriarcado Latino de Jerusalém um grupo de quase 300 fiéis judeus cristãos, que vivem a sua fé à custa de grandes dificuldades, pois, sendo judeus de raça, não podem tomar partido pelos árabes e, sendo cristãos, são fortemente rejeitados pelos judeus. Celebram a Liturgia na língua hebraica e pretendem ter na Igreja Católica um estatuto semelhante ao dos primeiros cristãos de Jerusalém, que também eram judeus, e assim eles observam todas as festas e ritos judaicos, inclusive o da circuncisão.

Em 1995 inaugurou-se na cidade de maioria cristã, Beit Khallá, onde fica o Seminário do Patriarcado Latino, o 1º Sínodo da Igreja Católica de Jerusalém, com a participação de elementos de todos os ritos e destinado aos cristãos residentes nos territórios de Israel, da Palestina e da Jordânia, um total de 100.000 fiéis. Também participou a pequenina comunidade judaica cristã.

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Abraço
 
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