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Jovens imigrantes na Alemanha criam alemão próprio

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Jovens imigrantes na Alemanha criam alemão próprio

Nas áreas urbanas multiculturais da Alemanha jovens imigrantes de várias origens desenvolveram os «etnolets», novas maneiras de falar que misturam o alemão com outras línguas e cujas variantes têm o seu próprio ritmo e «gramática».

Os «etnolets» são cada vez mais falados por crianças e jovens imigrantes de várias origens étnicas e já por alemães da mesma faixa etária, essencialmente em grandes áreas urbanas daquele país, como em Berlim ou Mannheim, onde existe uma grande diversidade cultural.

«Estas novas formas de falar baseiam-se no alemão corrente mas são fortemente influenciadas por uma língua de mistura, sobretudo o turco», a maior comunidade imigrante na Alemanha, explicou hoje à Agência Lusa Inken Keim, sociolinguista da Universidade alemã de Mannheim.

«Apareceram em zonas específicas e a maneira como são faladas depende das respectivas áreas e da origem étnica dos seus falantes», precisou a especialista.

Uma realidade semelhante, mas que especialistas contactados em Portugal minimizam, é um crioulo falado por jovens de origem africana em algumas zonas urbanas.

É uma maneira própria de falar, fortemente influenciada pela «cultura de rua» e que mescla elementos do português, inglês e palavras próprias que surgiram no contexto específico onde estes jovens moram.

Sobre os «etnolets» falados na Alemanha, a especialista explicou que apesar de não poderem ser consideradas «línguas mistas concretas», mas sim «dialectos ou "slangs"», os seus falantes dominam e respeitam, em grande parte, as regras do alemão padrão e do idioma de mistura.

«É uma linguagem dissociada. Os jovens mudam de um registo para o outro com grande facilidade e sabem tanto falar de uma maneira como da outra. É uma coisa muito própria e que acontece naturalmente», sublinhou Inken Keim.

De acordo com a especialista do Instituto de Língua Alemã, os "etnolets" caracterizam-se por «uma simplificação das frases, omissão de preposições e artigos, utilização errada do género e por uma certa "economia gramatical".»

«Isto leva a novas construções. Em vez de dizer "Ich gehe in die Schule" (Eu vou à escola, em alemão), os falantes do "etnolet" diriam "Isch geh Schule" (Eu vou escola)», elucidou Inken Keim.

«Muito típico é também um sotaque "estrangeirado" bastante perceptível e acentuado onde muitas letras são entoadas de maneira diferente e a utilização de palavras estrangeiras, sobretudo árabes ou turcas», acrescentou.

De acordo com Inken Keim, a utilização dos «etnolets» têm muito a ver «com o sentimento de pertença», e os jovens utilizam-nos «instintivamente» para «destacar que são uma mistura de ambas as culturas».

A especialista não acredita, no entanto, que estas novas maneiras de falar se enraizem na Alemanha ao ponto de ameaçar a língua alemã.

Inken Keim lembrou que o desenvolvimento de uma nova língua depende do prestígio que lhe é concedida e pelo ganho retórico que traz consigo, sublinhando que só ao ser «aceite e avaliada positivamente» por uma maioria é que estas novas formas de falar «se poderiam estabelecer».

«Dificilmente isto acontecerá com os "etnolets", porque têm conotações negativas. Os seus falantes são ridicularizados pela cultura popular alemã e estes são vistos como um sinal típico de marginalização», explicou à Lusa.

«Quem fala dessa maneira é logo estigmatizado e encarado como uma pessoa mal-educada e com baixa formação», acrescentou.

Porém, para a sociolinguista representam «um ganho» que permite que os jovens «alarguem o seu repertório linguístico e se consigam expressar de maneira diferente».

Inken Keim disse ainda que fenómenos semelhantes têm vindo a ser observados na Holanda, Áustria, França e Dinamarca e que esses «etnolets europeus» aparentam ter «semelhanças e elementos em comum, apesar de se desenvolverem em línguas diferentes».
 
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