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António Lobo Antunes congratula-se com prémio José Donoso

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António Lobo Antunes congratula-se com prémio José Donoso

O escritor António Lobo Antunes congratulou-se hoje com o facto de ser o primeiro escritor europeu a receber o Prémio José Donoso, um dos mais prestigiados do panorama literário Ibero-Americano, atribuído pela Universidade de Talca, no Chile.

«Para mim, um prémio com o nome de um escritor latino-americano - que tão importantes foram para os escritores da minha geração e tão importantes continuam a ser para todos os escritores - é uma honra», disse o romancista, na cerimónia de entrega do galardão que o distinguiu em 2006, realizada no Instituto Cervantes, em Lisboa.

Composto por uma medalha, um diploma e um cheque de 20 mil dólares, o prémio José Donoso foi entregue ao fim da tarde a Lobo Antunes pelo reitor da Universidade de Talca, Juan Antonio Rock, numa sessão que contou igualmente com a participação do presidente do júri, Javier Pinedo, da mesma universidade, e de António Vieira Monteiro, do Banco Santander.

Às vezes - observou o escritor - «digo a mim mesmo que um prémio nada tem que ver com a literatura, no sentido em que não a torna nem melhor, nem pior do que era, o que não é literalmente verdade».

«Recebi muitos prémios - por vezes, penso que sou um cavalo, que ganha prémios - mas poucos me deram tanto prazer como este (...) porque me é dado por irmãos meus, por gente que sente da mesma maneira, que fala da mesma maneira e que é muito mais parecida connosco do que pensamos«, explicou.

Apesar de se considerar honrado por ser o primeiro escritor europeu a receber este galardão, António Lobo Antunes afirmou, no entanto, que não gosta muito da palavra »europeu«: »Porque não me sinto tão europeu assim«, comentou.

«Por exemplo: a Suécia, a Noruega e outros - o que é que tenho em comum com essas pessoas? Tenho muito mais em comum com a gente da Argentina, ou da Colômbia, ou do México», defendeu.

Segundo o romancista, os portugueses têm uma «vocação atlântica» e «um espírito universalista».

Para o ilustrar, citou, em seguida, um escritor português do século XVIII, Matias Aires.

«Escreveu uma frase muito simples que continua ainda a surpreender-me: 'Porque loucos não os há senão em língua portuguesa' e isto tocou-me sempre muito e fez-me pensar muitas vezes, porque o que eu tento fazer e o que nós, portugueses, tentamos fazer é continuar nas caravelas, continuar a navegar«, disse.

Lobo Antunes referiu que os mapas portugueses antigos, dos navegadores, »desenhavam a linha da costa e como não conheciam nada para o interior, escreviam 'aqui há leões' e, à medida que iam avançando terra adentro, o 'aqui há leões' ia-se afastando da linha da costa«.

«Eu penso - frisou - que o trabalho do escritor e o trabalho que eu quero para as pessoas do meu país, para o meu povo - porque tenho cada vez mais um imenso orgulho em ser português - é que os leões, o medo do desconhecido e o desconhecimento sejam cada vez mais ténues, cada vez mais imprecisos».

«Escreveu uma frase muito simples que continua ainda a surpreender-me: 'Porque loucos não os há senão em língua portuguesa' e isto tocou-me sempre muito e fez-me pensar muitas vezes, porque o que eu tento fazer e o que nós, portugueses, tentamos fazer é continuar nas caravelas, continuar a navegar«, disse.

Lobo Antunes referiu que os mapas portugueses antigos, dos navegadores, »desenhavam a linha da costa e como não conheciam nada para o interior, escreviam 'aqui há leões' e, à medida que iam avançando terra adentro, o 'aqui há leões' ia-se afastando da linha da costa«.

«Eu penso - frisou - que o trabalho do escritor e o trabalho que eu quero para as pessoas do meu país, para o meu povo - porque tenho cada vez mais um imenso orgulho em ser português - é que os leões, o medo do desconhecido e o desconhecimento sejam cada vez mais ténues, cada vez mais imprecisos».

É isso que o autor acha que «tentamos com a escrita: mostrar os outros tal como são e mostrar-nos a nós mesmos como somos».

«As páginas de um bom livro são espelhos: cada um se olha a si mesmo e à sua pobre convicção«, observou.

Para terminar, António Lobo Antunes declarou que escreve para cumprir o que dizia Filipe II: »Façamos qualquer coisa que faça o mundo dizer de nós que fomos loucos«.
 
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