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Livreiro catalão sonha fotografar António Lobo Antunes
Carles Mercader Fulquet, um livreiro catalão de 33 anos, uniu as duas artes que o apaixonam - a literatura e a fotografia - e, nos tempos livres, a sua «missão» é fotografar os seus ídolos literários.
É um grande conhecedor da literatura portuguesa, mas há um autor que ainda não logrou fotografar, apesar das várias tentativas que já fez para encontrá-lo pessoalmente - António Lobo Antunes.
Fulquet, que nutre uma «admiração inexplicável» pela literatura portuguesa, trabalha numa livraria de um pequeno bairro barcelonês de Rubi, na Catalunha (Espanha).
É licenciado em Filologia Hispânica, mas a sua grande paixão são o desenho e a fotografia. Não se limita a encomendar e a vender livros, dando mais importância à vertente cultural do que à comercial.
Numa entrevista à Lusa, esclareceu que o seu gosto pela fotografia não é um «hobby» isolado ou confinado às horas livres e que não obtém benefícios económicos com as fotografias que tira.
Por ter conjugado a fotografia com a literatura, impôs-se a si mesmo uma «missão» que assume grande importância na sua vida: não pode deixar escapar o «alvo» da sua objectiva e move céus e terra para encontrar os seus ídolos literários e fotografá-los. Ele mesmo revela as fotos num pequeno estúdio que montou em casa.
Quando fala dos seus ídolos literários, Fulquet dá sempre destaque aos portugueses, o que, como refere, não é prática corrente na Catalunha.
«Incompreensivelmente, a literatura portuguesa continua a ser uma grande desconhecida na Catalunha e no resto de Espanha», disse à Lusa.
O fascínio que a literatura portuguesa exerce sobre Carles Marcader Fulquet deve-se essencialmente - é ele mesmo a dizê-lo - à «qualidade da sua tradição».
Entre os autores portugueses que prefere citou os poetas Cesário Verde, José Bento, Jorge de Sena, Eugénio de Andrade, Al Berto e José Agostinho Baptista. Na prosa, o destaque vai para Vergílio Ferreira, José Cardoso Pires «e agora o jovem [José Luís] Peixoto», mas o seu ídolo «é, sem dúvida, Lobo Antunes».
Os livros de Lobo Antunes «são sempre um presente valioso para o seu leitor» mas, reconhece, «a sua leitura não é fácil, requer do leitor a total envolvência dos sentidos.
Para o livreiro catalão, os livros do autor de »O manual dos inquisidores« são sempre uma viagem necessária e, sobretudo, um tributo à inteligência do leitor. Depois, como um mestre supremo da arte da novela, Lobo Antunes consegue que o género »atinja o limite dos seus limites«.
Fulquet crê que já leu todas as obras de Lobo Antunes e tem dificuldade em identificar a sua preferida. No entanto, »Os cus de Judas«, »A morte de Carlos Gardel« e »Não entres tão depressa nessa noite escura« ocupam o pódio.
Falta-lhe agora fotografar Lobo Antunes. Já tentou fazê-lo, mas acontece que, nas conferências de imprensa e sessões fotográficas, tem encontrado obstáculos.
Em desespero de causa, até já foi bater à porta de casa do romancista, mas »o filho disse que ele não estava«.
Para justificar a sua insistência, o jovem livreiro explicou: »Dizem que não se deve bater à porta dos nossos heróis, nem importuná-los, mas já há tempo que decidi não fazer caso dessas recomendações. Estar diante de Lobo Antunes e poder retratá-lo é um dos meus sonhos e eu gosto de seguir os meus sonhos«.
O porquê de ter de ser Lobo Antunes é explicado por Fulquet, não só pela admiração que nutre pelas obras do escritor, mas também por »um sentido totalmente fotográfico«, na medida em que o rosto do escritor »tem a força ideal para um bom retrato«.
Confrontado pela Lusa com o facto de Lobo Antunes gerir a sua popularidade com discrição, Fulquet disse respeitar muito essa atitude, mas que »isso nada tem que ver com a condição de escritor e sim com a personalidade de cada um«.
»Vou continuar até conseguir o meu sonho«, declara.
Questionado sobre o que faz com as fotos dos escritores, contou: »Primeiro, devo dizer que só escolho aqueles escritores cuja obra admiro. Fotografá-los e recolher a luz do momento do nosso encontro, é a minha maneira de agradecer e também a minha forma de pagar uma dívida. Cada vez que fotografei um dos meus heróis literários - Vila-Matas, Tabucchi, Álvaro Pombo, Amis,... - foi como se também fizesse um auto-retrato do leitor que sou. E tudo isso forma parte duma série de fotos de escritores a que dei o título de 'Escritores sem os seus brinquedos«.
Para que não haja dúvidas quanto ao seu fascínio pela literatura portuguesa, Fulquet tatuou num braço um verso de Eugénio de Andrade: »Todo o homem é um lugar triste«.
O livreiro catalão continua à espera da alegria de encontrar Lobo Antunes e não desiste de o conseguir, apesar de o seu trabalho na livraria lhe ocupar a maior parte do tempo.
»Esta minha mania - desabafa - exige um esforço constante, não só económico, que é muito importante, já que se trata de um projecto pessoal, como também mental e físico. A primeira vez que tentei foi na apresentação em Madrid, mas foi impossível. Numa viagem a Lisboa de dois dias, tentei localizar o hospital psiquiátrico onde trabalhou como médico e onde, segundo dizem, ainda tem um gabinete onde escreve, mas foi em vão. E no ano passado dei uma escapadela a Lisboa porque pensava ter conseguido um número de telefone através de um amigo do meio editorial. Mas nunca ninguém me atendeu».
Carles Mercader Fulquet, um livreiro catalão de 33 anos, uniu as duas artes que o apaixonam - a literatura e a fotografia - e, nos tempos livres, a sua «missão» é fotografar os seus ídolos literários.
É um grande conhecedor da literatura portuguesa, mas há um autor que ainda não logrou fotografar, apesar das várias tentativas que já fez para encontrá-lo pessoalmente - António Lobo Antunes.
Fulquet, que nutre uma «admiração inexplicável» pela literatura portuguesa, trabalha numa livraria de um pequeno bairro barcelonês de Rubi, na Catalunha (Espanha).
É licenciado em Filologia Hispânica, mas a sua grande paixão são o desenho e a fotografia. Não se limita a encomendar e a vender livros, dando mais importância à vertente cultural do que à comercial.
Numa entrevista à Lusa, esclareceu que o seu gosto pela fotografia não é um «hobby» isolado ou confinado às horas livres e que não obtém benefícios económicos com as fotografias que tira.
Por ter conjugado a fotografia com a literatura, impôs-se a si mesmo uma «missão» que assume grande importância na sua vida: não pode deixar escapar o «alvo» da sua objectiva e move céus e terra para encontrar os seus ídolos literários e fotografá-los. Ele mesmo revela as fotos num pequeno estúdio que montou em casa.
Quando fala dos seus ídolos literários, Fulquet dá sempre destaque aos portugueses, o que, como refere, não é prática corrente na Catalunha.
«Incompreensivelmente, a literatura portuguesa continua a ser uma grande desconhecida na Catalunha e no resto de Espanha», disse à Lusa.
O fascínio que a literatura portuguesa exerce sobre Carles Marcader Fulquet deve-se essencialmente - é ele mesmo a dizê-lo - à «qualidade da sua tradição».
Entre os autores portugueses que prefere citou os poetas Cesário Verde, José Bento, Jorge de Sena, Eugénio de Andrade, Al Berto e José Agostinho Baptista. Na prosa, o destaque vai para Vergílio Ferreira, José Cardoso Pires «e agora o jovem [José Luís] Peixoto», mas o seu ídolo «é, sem dúvida, Lobo Antunes».
Os livros de Lobo Antunes «são sempre um presente valioso para o seu leitor» mas, reconhece, «a sua leitura não é fácil, requer do leitor a total envolvência dos sentidos.
Para o livreiro catalão, os livros do autor de »O manual dos inquisidores« são sempre uma viagem necessária e, sobretudo, um tributo à inteligência do leitor. Depois, como um mestre supremo da arte da novela, Lobo Antunes consegue que o género »atinja o limite dos seus limites«.
Fulquet crê que já leu todas as obras de Lobo Antunes e tem dificuldade em identificar a sua preferida. No entanto, »Os cus de Judas«, »A morte de Carlos Gardel« e »Não entres tão depressa nessa noite escura« ocupam o pódio.
Falta-lhe agora fotografar Lobo Antunes. Já tentou fazê-lo, mas acontece que, nas conferências de imprensa e sessões fotográficas, tem encontrado obstáculos.
Em desespero de causa, até já foi bater à porta de casa do romancista, mas »o filho disse que ele não estava«.
Para justificar a sua insistência, o jovem livreiro explicou: »Dizem que não se deve bater à porta dos nossos heróis, nem importuná-los, mas já há tempo que decidi não fazer caso dessas recomendações. Estar diante de Lobo Antunes e poder retratá-lo é um dos meus sonhos e eu gosto de seguir os meus sonhos«.
O porquê de ter de ser Lobo Antunes é explicado por Fulquet, não só pela admiração que nutre pelas obras do escritor, mas também por »um sentido totalmente fotográfico«, na medida em que o rosto do escritor »tem a força ideal para um bom retrato«.
Confrontado pela Lusa com o facto de Lobo Antunes gerir a sua popularidade com discrição, Fulquet disse respeitar muito essa atitude, mas que »isso nada tem que ver com a condição de escritor e sim com a personalidade de cada um«.
»Vou continuar até conseguir o meu sonho«, declara.
Questionado sobre o que faz com as fotos dos escritores, contou: »Primeiro, devo dizer que só escolho aqueles escritores cuja obra admiro. Fotografá-los e recolher a luz do momento do nosso encontro, é a minha maneira de agradecer e também a minha forma de pagar uma dívida. Cada vez que fotografei um dos meus heróis literários - Vila-Matas, Tabucchi, Álvaro Pombo, Amis,... - foi como se também fizesse um auto-retrato do leitor que sou. E tudo isso forma parte duma série de fotos de escritores a que dei o título de 'Escritores sem os seus brinquedos«.
Para que não haja dúvidas quanto ao seu fascínio pela literatura portuguesa, Fulquet tatuou num braço um verso de Eugénio de Andrade: »Todo o homem é um lugar triste«.
O livreiro catalão continua à espera da alegria de encontrar Lobo Antunes e não desiste de o conseguir, apesar de o seu trabalho na livraria lhe ocupar a maior parte do tempo.
»Esta minha mania - desabafa - exige um esforço constante, não só económico, que é muito importante, já que se trata de um projecto pessoal, como também mental e físico. A primeira vez que tentei foi na apresentação em Madrid, mas foi impossível. Numa viagem a Lisboa de dois dias, tentei localizar o hospital psiquiátrico onde trabalhou como médico e onde, segundo dizem, ainda tem um gabinete onde escreve, mas foi em vão. E no ano passado dei uma escapadela a Lisboa porque pensava ter conseguido um número de telefone através de um amigo do meio editorial. Mas nunca ninguém me atendeu».