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Cinema como espelho dos livros

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Cinema como espelho dos livros

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"Expiação" baseou-se no livro de Ian McEwan"Jogos de poder" retrata os meandros da política norte-americana"Este país não é para velhos" ganhou vários Oscars"P.S. I love you" foi visto por mais de 66 mil pessoas, em Portugal

A estreia de filmes inspirados em livros é uma marca vincada no ano corrente. Ao todo, durante o primeiro trimestre, foram exibidas, nas salas portuguesas, 20 longas-metragens adaptadas de livros. "Horton e o mundo dos Quem!", desenho animado adaptado do conto infantil de dr. Seuss; "Crónicas de Spidewick", a inevitável aventura para o público adolescente; os westerns "Este país não é para velhos", dos irmãos Coen, a partir do romance de Cormac McCarthy, e "Haverá sangue", de Paul Thomas Anderson, baseado em "Oil", de Upton Sinclair, confirmam a diversidade do fenónemo. As edições literárias acompanharam mais de metade dos filmes estreados neste período e em alguns casos - "Diários de uma nanny", "O lado selvagem", "Duas irmãs, um rei" - a colagem dos editores à distribuição do filme foi evidente.

O "Jornal de Notícias" procurou interpretar esta situação junto de dois autores que conhecem o mercado literário e a relação entre escrita e audiovisual. Francisco José Viegas, director da revista "Ler", não considera que esta situação seja oportunista, pois "revela, antes de mais, que o romance não morreu e que a arte de contar histórias está ligada à vida da literatura. Há uma intensidade de certos romances, tão absorventes e inquietantes, que pode passar para o cinema".

Nuno Artur Silva, fundador da empresa de conteúdos Produções Fictícias, salvaguarda que uma adaptação "deve ser também um exercício de criatividade, porventura mais difícil do que um original, porque mais condicionada".

Na lista de filmes adaptados e estreados no primeiro trimestre deste ano, encontram-se dois best-sellers e clássicos contemporâneos da literatura - "Expiação", a novela de Ian McEwan, filmada por Joe Wright (que lidera o ranking dos filmes literários exibidos este ano, com mais de 200 000 espectadores - ver quadro) e "Amor nos tempos de cólera", escrito em 1985, pelo Nobel da literatura Gabriel García Marquéz e filmado por Mike Newell.

A eventual dificuldade de adaptar estas obras é abordada com cautela. Francisco José Viegas lembra que "um bom livro não resulta num bom filme e uma boa história não significa um bom argumento".

Perante tantos exemplos interessantes, impõe-se saber quantos livros dariam um bom filme. Nuno Artur Silva admite que não conhece a maioria dos filmes e respectivos livros. Salienta que "Seda", de Alessandro Baricco, "podia dar um belo filme" e aponta a animação "Persépolis", de Marjanne Satrapi, como o exemplo de um "comic book" que "foi muito bem adaptado".

Francisco José Viegas elege a adaptação de "Este país não é para velhos", premiado com o Oscar de melhor filme. E imagina que, se fosse realizador, além do livro citado anteriormente, também gostaria de adaptar "Amor nos tempos de cólera", "Vista pela última vez" e "O lado selvagem".

Mas entre os livros que inspiraram filmes estreados recentemente em Portugal, Francisco José Viegas também aponta um mau exemplo, a obra de Manuel da Silva que inspirou "O enigma", de Manoel de Oliveira, o único título nacional. "A adaptação da história de Colombo parte de uma fraude como livro que é assinado por um autor de folclore".

Quem ganha com a situação

Os resultados de bilheteira da maioria dos filmes adaptados de livros e estreados este ano não evidenciam uma adesão empolgante do público. Até pode ser que muitos espectadores procurem a obra original, o que leva Francisco José Viegas a afirmar que os livros ganham sempre com esta situação, mesmo quando o cinema é "perverso porque passa sobre os livros como sobre um campo deserto".

E os filmes não ganham? "O cinema também ganha, em inspiração, densidade, ambientes, tradição, iconografia".

Nuno Artur Silva admite um empate vantajoso para as duas artes. "Pode ser 'win-win'. Raramente é perde-perde". E o leitor ou espectador? "São sempre duas experiências, o que faz lembrar a anedota das duas cabras a comerem um bocado de película de cinema numa lixeira. Uma pergunta Que tal? E a outra responde: Gosto. Mas gostei mais do livro".


Tiago Alves
Jornal de Noticias
 
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