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Maestro Herbert von Karajan nasceu há 100 anos

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Maestro Herbert von Karajan nasceu há 100 anos

Herbert von Karajan, que faria 100 anos no próximo sábado, foi o maestro mais famoso do mundo e continua a sê-lo, 19 anos após a sua morte, devido ao seu talento, mas também à forma como comercializou a sua imagem.

Farta cabeleira ao vento, ele pilotava o seu próprio Cessna, velejava em grandes iates e guiava um Porsche, o que o tornou mundialmente conhecido, muito para além dos círculos melómanos, mas a sua verdadeira paixão era de facto a música erudita.

Ainda hoje se discute acaloradamente se Karajan foi ou não o maior maestro do Século XX, mas está fora de questão que a forma electrizante como dirigia uma orquestra, e o som que criava, tinham alguma coisa de especial.

«Karajan foi célebre no seu tempo, e seguramente o maestro de maior sucesso da sua época, o que não quer dizer que tenha sido o melhor», disse em entrevista ao Sueddeutsche Zeitung o crítico musical que mais acompanhou a sua carreira, Joachim Kaiser.

O mesmo especialista, que nem sempre, mas muitas vezes, se rendeu ao enorme talento do «Maestro Mundi», sublinha também que os que tentaram pôr a ridículo Karajan pela sua predilecção por carros de desporto ou aviões se esqueceram injustamente de sublinhar as suas facetas positivas como a sensibilidade com que fomentava novos talentos.

O repertório de Karajan era enorme, e compunha-se de mais de 140 óperas e concertos. Só com a orquestra que ajudou a moldar, a Berliner Philharmoniker (Filarmónica de Berlim), considerada a melhor do mundo, rivalizando com a Filarmónica de Viena, deu mais de 1400 concertos, dois dos quais em Lisboa, a 16 e 17 de Maio de 1968.

O seu domínio dos clássicos, de Bach a Vivaldi, era impressionante, e gravou três vezes em disco ou em CD todas as sinfonias de Beethoven.

No total, estão hoje disponíveis 690 gravações de Karajan à frente de numerosas grandes orquestras, um verdadeiro recorde mundial.

O seu contacto com a música foi prematuro. O pai, cirurgião e melómano entusiasta, enviou-o para aulas de piano logo aos quatro anos.

Aos nove anos, o pequeno Herbert já era aluno de um famoso pianista, Franz Ledwinka, que o considerava muito dotado.

Mais tarde, Karajan, que nasceu em Salzburgo, tal como Mozart, mas curiosamente não se interessava muito pela obra do seu conterrâneo, estudou Música na Universidade de Viena e aprendeu direcção de orquestra com Bernhard Paumgartner.

A sua estreia como maestro deu-se em Salzburgo, em 1929, e mais tarde tornar-se-ia assistente do famoso compositor e dirigente Richard Strauss, em Viena.

O seu caminho para o estrelato começaria em 1938, em pleno nazismo, com a ópera «Fidélio», de Beethoven, na Ópera Nacional de Berlim, numa memorável encenação e espectáculo musical que levou o crítico mais influente da capital alemã, Edwin von der Nüll, a falar pela primeira vez no «Milagre Karajan».

O envolvimento de Karajan com o nazismo, e a sua filiação no partido de Hitler, o NSDAP, que sempre tentou desvalorizar, valeu-lhe, no entanto, a censura pública depois da derrocada do III Reich, chegando a estar proibido de dirigir pela administração aliada, após o fim da II Guerra Mundial (1939-1945).

Já em 1981, disse numa entrevista que o debate sobre a sua filiação no NSDAP lhe era «completamente indiferente», e que o que sempre lhe interessou foi poder fazer música.

Os factos, no entanto, falam por si: já em 1927 e 1928, quando andava na Universidade de Viena, Karajan inscrevia-se nas pautas como «ariano», o que não era obrigatório e só faziam os estudantes nacionalistas.

«Infectado» pelo anti-semitismo, como muitos alemães e austríacos, em Abril de 1933, quatro meses depois da chegada de Hitler ao poder na Alemanha, requereu, em Viena, a sua inscrição no partido nazi.

No entanto, o NSDAP seria proibido poucos meses depois pelo governo austríaco de Dollfuss, e Karajan deixou de pagar cotas ao partido, para não ser considerado «nazi ilegal» e poder continuar a dirigir concertos em Salzburgo e Viena.

Em Maio de 1933, já na Alemanha, fez um segundo requerimento para entrar no NSDAP, mas só receberia a caderneta de militante em 1939, com a indicação expressa de que tinha de pagar regularmente as cotas.

Durante o nacional-socialismo, continuou a sua carreira em Berlim, e só o facto de Hitler não apreciar as suas qualidades de dirigente, nem simpatizar pessoalmnte com ele, impediram que fosse mais longe sob a cruz suástica, segundo cronistas da altura.

Poucos anos depois do fim da guerra, Karajan prosseguiu a sua meteórica ascensão, culminada com a sua escolha para suceder, em 1954, ao falecido Wilhelm Fuertwangler como maestro vitalício da Filarmónica de Berlim.

Paralelamente, foi também director artístico de outra grande orquestra mundial, a Filarmónica de Viena.

Com uma capacidade de trabalho incrível, Karajan foi ainda director artístico do Festival de Salzburgo de 1955 a 1960, e em 1957 sucedeu ao lendário Karl Bohm na direcção da orquestra da Ópera Nacional de Viena.

A sua actividade não se limitava à direcção de orquestras, mas também à descoberto de talentos - Ricardo Muti, Anne-Shophie Mutter, Seiji Ozawa e Simon Rattle foram alguns dos seus discípulos - e à organização e comercialização de gravações com a prestigiada etiqueta Deutsche Grammophon, com a qual assinou o primeiro contrato em 1939.

Sempre atento ao modernos meios de comunicação, Karajan foi figura de relevo na apresentação mundial do Compact Disc Digital - o vulgar CD, que foi uma revolução na época - a 15 de Abril de 1981, no Festival de Salzburgo, ao lado do então presidente da Sony, Akio Morita.

Apesar do seu ar desportivo, enérgico, Karajan, que foi casado três vezes, a última das quais em 1958 com a francesa Eliette Mouret, de quem teve duas filhas, teve graves problemas de saúde a partir de 1976, submetendo-se a várias operações a hérnias discais.

Morreu a 16 de Julho de 1989, em Anif, perto de Salzburgo, depois de ter tido um ataque cardíaco durante os ensaios de «Um Baile de Máscaras», de Giuseppe Verdi, um dos seus compositores favoritos.

A perenidade de Karajan, cujo 100.º Aniversário vai ser assinalado com 17 concertos em sete países (Alemanha, Áustria, Estados Unidos, França, Japão Reino Unido e Suíça) ilustra-se com um simples episódio: o musicload, o maior portal alemão de venda de música na internet, acaba de disponibilizar toda a sua obra em formato mp3.
 
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