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«Projecto 3008» estreia quinta-feira no Teatro Viriato

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«Projecto 3008» estreia quinta-feira no Teatro Viriato

Educação e cultura andam de mãos dadas no Teatro Viriato (Viseu), onde profissionais da dança e do teatro se fundem em palco com estudantes, para mostrar que perceber o futuro implica regressar ao passado e viver o presente.

O «Projecto 3008», com estreia marcada para quinta-feira, apresenta em cena uma peculiar mistura de 24 alunos de uma turma do 6º ano da Escola Básica 2/3 Infante D. Henrique, mais 15 de outra do 12º ano da Escola Secundária Emídio Navarro, os bailarinos António Cabrita e Sophie Leso e os actores Francisco Campos e Joana Bárcia.

«Como será o amor em 3008? Como se viverão as relações humanas no quotidiano ou como é que a tecnologia será usada na comunicação entre as pessoas?». Estas foram perguntas que serviram de ponto de partida para a reflexão que os alunos tiveram de fazer, muitos meses antes de pisarem o palco para os primeiros ensaios.

Mas desengane-se quem espera assistir a um espectáculo futurista.

«Não estamos a propor uma viagem no futuro. O discurso de palco é no presente», garante o bailarino e coreógrafo Romulus Neagu, que dirige em conjunto com a encenadora Rafaela Santos este projecto artístico co-produzido pelo Teatro Viriato e pela Companhia Paulo Ribeiro.

Rafaela Santos lembra que, na fase inicial do projecto, todos os alunos «viajaram e projectaram várias hipóteses de vida, de relações humanas e do amor em 3008», tendo sido escolhida a história escrita por João Dias, da turma 12º D.

«Mas, em palco, eles não representam o amor em 3008. Representam o amor no geral, no futuro, no presente, no passado, a esperança, as massas humanas e o controlo que temos uns sobre os outros, o quotidiano, a indiferença, a incapacidade de comunicação», explica.

Mesmo após uma espécie de «curso intensivo» de artes performativas, a energia e entusiasmo das crianças e jovens levam a que esses conceitos sejam difíceis de transpor para o palco durante os ensaios.

«Lucas, onde vais? Apanhar o comboio? Calma, pensa na lua, câmara lenta...», pede Rafaela ao pequeno de cabelos louros, que já dá ares de levar jeito para seguir as pisadas do pai, actor.

«Silêncio meninos», repete, insistentemente, para aqueles que aguardam nas laterais a sua hora de entrar em palco.

Ao Bruno Coelho, de 17 anos, coube a responsabilidade de ser o primeiro a enfrentar o público sozinho ou, melhor, na companhia de três silenciosas e vazias cadeiras.

«Fico um bocado nervoso, porque é muita responsabilidade. Se eu começasse logo mal, as pessoas iam perder o interesse para a peça inteira», afirma o jovem, cuja primeira e única experiência nas artes tinha sido «uma peça de teatro no quinto ano».

Mas ao Bruno seguirão muitos outros: o Guilherme, o Sebastião, a Sílvia, o Augusto, a Cassandra, o Diogo e o Filipe, o João, o Ricardo, o Pedro, o Daniel, o David, o Fábio...

«O meu texto teve de ser complementado, porque só tinha quatro personagens e somos mais de 40. Ficava um grande buraco», recorda João Dias, autor da história usada na criação da performance, centrada nas consequências da falta de amor à natureza.

João Dias pretende vir a ser engenheiro mecânico. Os seus colegas têm também já o futuro planeado, estando a grande maioria a pensar seguir Engenharia Informática, mas Romulus Neagu diz ver em muitos deles potencial artístico.

«É só olhar para eles cinco minutos», garante, acrescentando que neste projecto não pretende «impor uma estética», mas trabalhar «a sua sensibilidade», apenas dando orientação.

Patrícia Amaral, de 18 anos, é a única mulher numa turma de 15 alunos. Igualmente sem qualquer experiência no mundo das artes, beneficia, no entanto, da sua flexibilidade enquanto judoca, num espectáculo onde o controle dos movimentos se revela fundamental.

«Aprendemos a conhecer melhor o nosso corpo, a pôr de lado certos preconceitos que antes tínhamos e a ver de outra maneira as pessoas que estão no palco», conta, admitindo que «achava que era muito mais fácil fazer um espectáculo».

No grupo dos mais novos, a turma do 6º C, este projecto ajudou sobretudo a perder a vergonha.

«Já estou mais desinibida em público. E também me ajudou a conviver mais com meus colegas», disse, satisfeita, Carolina Esteves, de 12 anos.

Bruna Martins receia que, nos dias do espectáculo, ainda vá ter a tendência de «olhar para a plateia para ver se há muita gente», mas pensa que já conseguirá «controlar a vergonha».

«Está a ser bastante bom participar no projecto, porque estamos a aprender e a conviver com os profissionais. Isto vai marcar-nos para toda a vida», garante.

Radiante e a sentir-se uma «privilegiada» está Graça Martins, professora de Matemática e da Área de Projecto da turma do 12º ano, por considerar que o «Projecto 3008» permitirá colmatar «uma falha enorme que há na educação básica ao nível das artes».

«Nos 12 anos de escolaridade os alunos não têm ligação nem ao teatro, nem à música, nem à dança, nem a nada do género. As artes passam completamente ao lado da escola», lamenta, defendendo que a Área de Projecto deve ser aproveitada para minimizar essa falha.

Ainda que pertença à área das Ciências e Tecnologia e que a grande maioria dos seus alunos acabe por ter futuro nas engenharias, Graça Martins, professora há 32 anos, considera que a participação em projectos artísticos desenvolve capacidades como «a responsabilidade, a atenção e o rigor», necessárias em qualquer profissão.

Também Romulus Neagu disse ter sentido «falta de entendimento do que é um palco», mas mostrou-se optimista de que o «Projecto 3008», que começou a dar os primeiros passos há quase um ano, não acabará com as cinco apresentações públicas consecutivas.

«A apresentação do espectáculo é apenas o ponto alto do projecto, mas esperamos nós que não seja o fim», salienta.


Diário Digital / Lusa
 
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