• Olá Visitante, se gosta do forum e pretende contribuir com um donativo para auxiliar nos encargos financeiros inerentes ao alojamento desta plataforma, pode encontrar mais informações sobre os várias formas disponíveis para o fazer no seguinte tópico: leia mais... O seu contributo é importante! Obrigado.

Exposição inédita de repórter de guerra português começa hoje para assinalar 120 anos

Grunge

GF Ouro
Membro Inactivo
Entrou
Ago 29, 2007
Mensagens
5,124
Gostos Recebidos
0
Exposição inédita de repórter de guerra português começa hoje para assinalar 120 anos do JN

O Jornal de Notícias inaugura hoje uma exposição inédita com fotografias do "lado mais duro da vida", da autoria de um fotojornalista do The New York Times, que apesar de ser português é praticamente desconhecido em Portugal.

A propósito dos 120 anos do Jornal de Notícias (JN), que se assinalam segunda-feira, o director da publicação dirigiu um convite a João Silva, fotojornalista residente na África do Sul e correspondente do jornal norte-americano The New York Times, para expor na sede do jornal, no Porto.

Nascido em 1966, João Silva tem 20 anos de profissão, a maior parte dos quais a captar o que de mais irracional há na condição humana.

Desde a imagem de uma jovem negra a ser golpeada com uma foice por outras mulheres num subúrbio sul-africano, no início da carreira, muitas outras se sucederam: do soldado americano a ser arrastado após ter sido baleado por um atirador furtivo iraquiano, ao homem cadavérico que o HIV aniquila num hospital miserável da África do Sul.

O fotojornalista contou à Lusa que, enquanto amigo de Alfredo Leite, director do JN, já tinha manifestado desejo de introduzir ao público português o seu trabalho, bastante "conhecido noutras partes do mundo".

A mostra, subordinada ao tema "pesadelo", consiste nas fotos mais recentes do fotojornalista - desde 2000 até aos dias de hoje - e inclui uma "mistura de imagens, da guerra a situações culturais, passando pela SIDA, mas sempre incidindo na parte dura da vida".

O início da sua carreira de fotojornalista não foi minimamente planeado. Como conta João Silva, o "despertar" aconteceu quando foi assistir a um campeonato de desportos motorizados, dos quais se assume grande apaixonado, a convite de um amigo que estudava artes e que teve de ir fotografar o evento.

"Eu não percebia sequer nada de fotografia, mas naquele momento decidi que queria ser fotógrafo e percebi imediatamente que não queria arte, nem moda… queria explorar a parte mais séria da vida, queria ver história acontecer à minha frente".

Assim começou, e não muito tempo depois acabou por viver aquele que considera o momento mais marcante de toda a sua vida profissional: a morte de dois amigos [fotógrafos].

"Um foi atingido ao meu lado, durante um tiroteio, e morreu aos meus pés. Outro suicidou-se mais tarde. Eu era muito mais novo e isto afectou-me profundamente".

Apesar de se orgulhar do seu trabalho, sobretudo na medida em que contribui para levar a mensagem ao resto do mundo, João Silva não nega viver constantemente um conflito de emoções.

"Para eu ter uma foto boa, alguém teve que sofrer. Há uma dualidade de emoções. Tenho orgulho no que faço, mas ao mesmo tempo é-me difícil gostar", afirma, acrescentando, no entanto, ficar contente por saber que o seu trabalho contribuiu para que algo mudasse para melhor.

Como exemplo conta uma reportagem que fez no Gana, onde os pobres vendem ou alugam crianças aos pescadores, que as exploram e tratam praticamente como escravas.

"Essas imagens em conjunto com a história tiveram um enorme impacto: houve um grande movimento social para tentar mudar a vida das crianças e muitas delas foram resgatadas e entregues aos pais".

Mas nem sempre é assim, porque apesar de João Silva achar que "todas as imagens são importantes e fazem a diferença", a verdade é que "a vida que elas ganham depois depende do que o povo lá fora vê e quer ver". A guerra no Iraque é um claro exemplo de imagens de violência de que o povo "está saturado".

O conflito entre o lado humano e o profissional, na hora de escolher entre fotografar ou intervir também não é esquecido pelo fotógrafo que, a propósito, recorda um episódio de bombardeamento num bairro do Afeganistão em que deixou a máquina de lado para pôr os feridos dentro do carro e transportá-los ao hospital.

O que determina a escolha entre o profissional e o humano? "É algo decidido no momento. É a situação que determina como se vai reagir".

Quanto à vida familiar, afirma que concilia perfeitamente, mas assegura: "quando chegar o momento em que sentir um medo por causa da minha família, em que não consiga fazer o meu trabalho como quero, então aí saberei que chegou a altura de parar".






Fonte:Lusa
 
Topo