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Especialistas das Letras e das Ciências desvendam facetas desconhecidas do autor de "Os Lusíadas"

Especialistas das áreas das Letras e das Ciências reúnem-se, quarta-feira em Coimbra, na iniciativa "Camões e a Ciência", propondo-se desvendar, de forma multidisciplinar e original, facetas desconhecidas do que é considerado "o maior poeta português".

Organizada pelo Museu da Ciência da Universidade de Coimbra (UC) em parceria com o Centro Interuniversitário de Estudos Camonianos (CIEC), a iniciativa compreende uma série de conferências de especialistas deste centro sobre a obra camoniana, que serão complementadas por palestras sobre a botânica, a literatura clássica, a química e a medicina em Camões, assim como acerca da viagem de Vasco Gama.

A iniciativa do Museu da Ciência e do CIEC celebra o Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, que passa terça-feira, 10 de Junho.

Juntar especialistas das Letras e das Ciências, para reencontrar o "saber de experiências feito" de Luís Vaz de Camões, é o objectivo do colóquio, disse hoje à agência Lusa Carlota Simões, da direcção do Museu da Ciência.

"Camões era um homem do Renascimento: para além de dominar a arte e a cultura clássicas, também conhecia com rigor as ciências do seu tempo. Neste nosso século XXI de tecnologia e de especialização, somos tentados a olhar para Camões apenas como um homem das Letras, esquecendo que ele conviveu de perto com Pedro Nunes e Garcia da Horta, que foi à Índia pelos caminhos desbravados por Vasco da Gama, aprendendo muito com esta gente das ciências e dos descobrimentos", sublinhou a docente.

José Carlos Seabra Pereira, Virgílio Arie Pos, Manuel Ferro, Aníbal Pinto de Castro, Jorge Paiva, Armando Tavares da Silva, António Costa Canas e Alfredo Rasteiro são os oradores no colóquio, que decorre no anfiteatro do Museu da Ciência.

No final, Manuel Alegre, poeta e vice-presidente da Assembleia da República, recitará poemas de Camões, após a apresentação da obra de Vítor Manuel de Aguiar e Silva "A Lira Dourada e a Tuba Canora", por Carlos Ascenso André.

Classificando Camões como "o maior poeta português de todos os tempos", Seabra Pereira, coordenador científico do CIEC, considerou hoje que, na sua obra épica, enquanto "narrativa de expansão e de confronto do Homem ocidental com novas realidades do universo físico e da geografia humana", predomina a confiança na capacidade do Homem, em que o progresso é conseguido através de "duas armas cognitivas: a experiência dos sentidos e a racionalidade".

Contudo, "na lírica [camoniana], a confiança na capacidade do Homem conhecer e dominar o mundo entra em crise".

"Esta grande inquietação espiritual e moral não é exclusiva de Camões, mas ninguém captou com tanta grandeza estética este espírito da época", sublinhou o professor de Teoria da Literatura e de Literatura Portuguesa da Faculdade de Letras da UC.

Segundo Seabra Pereira, "o génio singular de Camões apercebe-se dos motivos de crise dos modelos de conhecimento" característicos do Renascimento, sendo esta visão transmitida sobretudo na sua poesia.

De acordo com Armando Tavares da Silva, professor catedrático aposentado do Departamento de Engenharia Química da Faculdade de Ciências e Tecnologia da UC, "a Química que Camões poderia conhecer, em meados do séc. XVI, não passava da Química aristotélica, baseada na teoria dos quatro elementos, Terra, Água, Ar e Fogo, dos quais provinham toda a matéria e todos os corpos".

"Sendo Camões um homem do Renascimento, ávido de novas experiências e conhecimento, e preocupado com a procura da verdade, discute-se em que medida esta teoria dos quatro elementos seria aceite como boa por Camões", disse o catedrático, a propósito da sua palestra, intitulada "Camões e a Química - a Química em Camões".

"O peso e a importância que Camões tem, quer ao nível da avaliação global do valor estético da sua obra, quer na história, língua, cultura e identidade portuguesas, não se reflecte devidamente no ensino básico e secundário", criticou Seabra Pereira, considerando que "os portugueses conhecem mais o nome [do autor de "Os Lusíadas"] do que a obra".





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