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Crianças do Bairro do Aleixo 'tratam" da Ribeira da Granja

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Ambiente/Porto: Crianças do Bairro do Aleixo 'tratam" da Ribeira da Granja


Porto, 13 Jun (Lusa) - Samuel, 10 anos, foi o único aluno da Escola EB1 do Aleixo, no Porto, autorizado a entrar nas águas da Ribeira da Granja para recolher amostras, um prémio significativo para quem esteve a um passo de abandonar a escola.

"No início do segundo período, o Samuel não vinha às aulas, mas agora a situação mudou. É um miúdo inteligente e, muito possivelmente, vai passar de ano", revelou à Lusa Liliana Moreira, professora do 3º ano na Escola do Aleixo.

Apesar de situada num bairro dos mais problemáticos da cidade do Porto, isso não impediu os professores da escola primária local de apresentar uma candidatura ao programa 'Mil Escolas', promovido pela empresa Águas do Douro e Paiva.

A candidatura foi seleccionada e os pequenos ambientalistas do Aleixo ficaram com a missão de estudar e preservar um pequeno troço da Ribeira da Granja, a maior linha de água que atravessa a cidade do Porto, com uma extensão de 6,5 quilómetros.

"É uma ribeira de que todos os alunos já tinham ouvido falar, mas que quase nenhum sabia onde ficava", salientou Cláudia Almendra, professora do 1º ano, recordando que a escola realizou um inquérito aos pais em Janeiro.

"Nenhum sabia dar respostas sobre a ribeira", revelou.

A Lusa acompanhou uma das visitas de campo à Ribeira da Granja, envolvendo 38 alunos do primeiro, segundo e terceiro anos de escolaridade, destinada a recolher amostras de água para análise em laboratório.

No meio da água, com galochas nos pés, um oleado de pescador a cobrir o corpo e uma enorme rede azul nas mãos, Samuel esforçou-se para apanhar um peixe naquela ribeira poluída, mas não teve sucesso.

"Aquilo é fundo e tem muitas pedras. Estive a tentar apanhar peixes, mas também ajudei a medir a profundidade e a largura da ribeira", salientou o miúdo, já com os pés bem assentes na margem.

A aventura de Samuel nas agitadas águas da Ribeira da Granja foi um dos últimos actos desta saída de campo, que começou pouco depois das 09:00, quando alunos e professores iniciaram uma caminhada de quase 15 minutos que os levou da escola até ao troço da ribeira que está sob a sua responsabilidade.

"São crianças que carregam o estigma do bairro problemático, mas que, ao contrário do que muitos pensam, não causam problemas nos locais onde vão", frisou Francisco Fonseca, coordenador da Escola EB1 do Aleixo.

O ambiente de grande animação entre os alunos não surpreendeu Liliana Moreira, para quem "qualquer coisa que os faça sair da escola é motivador para estas crianças, que quase não saem do bairro onde vivem".

Nas imediações da ribeira, a comitiva da Escola do Aleixo era aguardada por Pedro Teiga, coordenador do projecto Rios, que visa a adopção de um troço de rio ou ribeira por um grupo, tendo como objectivo a sua reabilitação e recuperação.

Pedro Teiga começou por explicar aos alunos as actividades previstas para esta visita de trabalho e depois mandou-os fechar os olhos durante 10 segundos para poderem "ouvir o vento, o ruído da água e o barulho dos pássaros".

Depois de um período menos interessante, em que as crianças estiveram ocupadas a preencher uma longa ficha sobre a ribeira, acabaram todos por seguir para a margem do curso de água, para o chamado 'trabalho de campo'.

Marcos, aluno do 2º ano, foi o primeiro a recolher amostras, sob o olhar atento dos colegas, sempre à espera de um desequilíbrio que o fizesse cair na água.

Divididos em equipas, recolheram várias amostras de água para análise no laboratório, mas ficaram logo ali a saber que a água tinha um PH de 6,5 e uma temperatura de 18 graus.

Na margem, Maria, do 3º ano, não escondia o desapontamento por não poder participar, mas tinha que respeitar a decisão da mãe.

"A minha mãe não autorizou que fosse para a água porque tem medo que esteja envenenada", explicou a jovem, dando conta dos receios provocados pela poluição da ribeira.

Bem diferente eram as razões que impediam Ricardo, do 2º ano, de ir para a água recolher amostras como os colegas.

"Estou de castigo", afirmou, sem adiantar mais explicações sobre o que terá motivado a decisão dos professores.

Visivelmente incomodado com o castigo, o miúdo limitou-se a assistir ao trabalho dos colegas que recolhiam amostras para poderem depois estudar em que estado se encontra este importante curso de água da cidade do Porto.

A empresa municipal Águas do Porto está a realizar um programa de reabilitação da Ribeira da Granja, que inclui a limpeza das margens e a criação de percursos pedonais e áreas de lazer.

O projecto, que prevê a despoluição através da ligação de cerca de 800 habitações à rede de saneamento, passa ainda pela destruição de parte do entubamento, para permitir que a água passe a correr a céu aberto.


Lusa/fim
 
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