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"Bebemos porque não há que fazer"

Mr.T @

GF Ouro
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Fev 4, 2008
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O desafio não era dos mais honestos. "Se encontrares, na tua língua, uma palavra maior que 'campanário' na minha, eu pago as bebidas, caso contrário, pagas tu". Ilanguak Berthelsen fazia 26 anos e, como manda a tradição, convidou os amigos a subir à montanha para acender uma fogueira e beber pela madrugada fora.

Lata de Carlsberg na mão e com o pé a chutar as várias garrafas de Absolut que jaziam vazias no chão, Berthelsen sintetizava com a aposta, e de uma assentada, duas das características mais marcantes dos gronelandeses: a complexidade da sua língua materna e a apetência para a bebida.

O relógio ronda as onze da noite, mas fora do bar do hotel em Narsarsuaq o Sol ainda vai alto. Dentro da única zona de convívio da povoação com 200 habitantes no sul da Gronelândia, a cerveja é o centro das atenções. Bebe-se quase até perder os sentidos e é nessa fase final de euforia que os gronelandeses se soltam. Falam com os poucos forasteiros que pernoitam na localidade que, na verdade, não tem mais do que um aeroporto e todas as suas infra-estruturas associadas. Todos se conhecem. "Aquele ali dirige o tráfego de aviões", aponta para uma mesa a professora de Química, Frederikke Filimonsen. "Na mesa ao lado, a mulher de cabelo curto trabalha no 'check-in' e a islandesa, que está no balcão, no posto de turismo", acrescenta a docente de 26 anos. Filimonsen não estranha as dezenas de garrafas vazias que repousam numa mesa de quatro animados compatriotas. "Nós bebemos para nos divertirmos e porque aqui não há muito para fazer", admite.

Para chegar a Qassiarsuk basta apanhar um barco no pequeno cais de Narsarsuaq e atravessar o fiorde no enfiamento da pista de aviação, que os norte-americanos construíram na II Grande Guerra. Do outro lado, a vida corre ainda mais devagar. A única estrada de terra batida serpenteia por entre as minúsculas casas coloridas onde nada falta, desde o plasma ao aquecimento central. E, claro, o barco à porta. Na casa dos Simoud, uma família média gronelandesa, o peixe fresco é trazido pelo filho mais novo que aproveita as férias escolares para exercitar o que aprendeu com o pai.

Com um salário mínimo a rondar os 1800 euros, os gronelandeses são dos mais desafogados cidadãos do Mundo. Sobretudo porque o estatuto autonómico privilegiado que o território goza obriga o colonizador dinamarquês a garantir uma verba média anual de 8 mil euros por habitante. Uma política paternalista que pode vir a alterar-se já em Novembro quando os gronelandeses forem chamados às urnas, num referendo para reforçar a autonomia de um território onde o degelo está a abrir caminho para novas explorações de minério e de petróleo.

Até à concretização do sonho independentista, os gronelandeses vão continuar a poder pagar os 10 euros que custa uma cerveja. Quanto à aposta, era impossível ser ganha por um português. 'Campanário' escreve-se em gronelandês com 78 letras: "nalunaarasvartateeranngualiugatigiiffissaarsuliulerluallaaraminngooraasinngoog". :naodigas::naodigas:
 
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