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Cultura é mercadoria que está à venda, diz Slavoj Zizek

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Cultura é mercadoria que está à venda, diz Slavoj Zizek

A cultura é uma mercadoria que está à venda, defendeu o filósofo e psicanalista esloveno Slavoj Zizek, advogando a necessidade de «uma revolução cultural», protagonizada pela esquerda para travar o radicalismo do «capitalismo cultural».

Zizek falava sobre «Esquerda, Cultura e Pensamento Crítico, Hoje», no âmbito do programa «1001 Culturas - Esquerda e Cultura: o futuro já não é o que era», organizado pelo Bloco de Esquerda na Fábrica de Braço de Prata, em Lisboa. «O capitalismo está a desenvolver-se cada vez mais numa direcção a que alguns chamam 'capitalismo cultural' e não é só pelo facto de se assistir ao fenómeno de 'marketização' da cultura», sustentou o filósofo.

«Devemos também concentrar-nos no outro lado do mesmo fenómeno: não só a aplicação da lógica consumista à cultura mas a culturalização dos próprios bens de consumo, não só no sentido de produtos culturais, como o cinema e a cultura popular mas num sentido mais lato, de coisas que associamos à cultura, como o sentido da vida, a filosofia... tudo isto está a tornar-se uma mercadoria para vender», frisou.

Na sua opinião, o mais perigoso do actual capitalismo cultural é que «mesmo os próprios bens de consumo são cada vez mais vendidos não apenas como bens de consumo ou símbolos de 'status' mas como coisas para nos fazerem sentir bem culturalmente». Apontando como «as duas nossas maiores preocupações sociais a ecologia e a compaixão com os pobres», exemplificou com a cadeia norte-americana Starbucks, que anuncia que os seus copos de café são recicláveis, revelando preocupações ambientais, e promove campanhas segundo as quais 5% do valor pago pelo café será canalizado para educar os pobres da Guatemala, etc.

Para Zizek, a política e a cultura estão para sempre ligadas, «simplesmente para se poder imaginar o futuro». E enquanto há 30 anos se debatia como seria o futuro, «capitalismo liberal, socialismo, comunismo, nova ordem autoritária... mas se aceitava que a vida na Terra continuaria, hoje debatemos catástrofes radicais, como: irá um asteróide embater na Terra? Haverá aquecimento global? Toda a vida na Terra acabará?» - prosseguiu.

«Ou seja, conseguimos imaginar o fim de qualquer forma de vida na Terra mas não conseguimos imaginar - ninguém fala sequer nisso - uma mudança radical do capitalismo e da função do Estado. Como se, mesmo que todos morressemos, o capitalismo, de alguma forma, continuasse», observou.

O filósofo considera que actualmente, «pelo menos nos países desenvolvidos do Ocidente, o maior tema da esquerda actual parece ser a Cultura, em sentido lato».

«Como se, de alguma forma - insistiu - o capitalismo esteja cá para ficar e então já ninguém se importe com isso mas sim com a tolerância de outras culturas, o direito ao aborto, os direitos dos homossexuais, etc. - tudo questões que são, num sentido alargado, questões de Cultura».

Com a mudança do capitalismo para capitalismo cultural, «precisamos de uma revolução cultural (não no sentido maoísta, claro!) para sair da perigosa situação de radicalismo ideológico em que nos encontramos» e é essa a missão da esquerda actual, sublinhou.

Diário Digital / Lusa
 
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