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Sem lugar para viver

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Branqueamento de corais, migrações intempestivas e florestas mortas são alguns dos muitos efeitos do aquecimento à escala planetária. Texto de Fen Montaigne; Fotografias de Peter Essick

A ilha Biscoe é uma pequeno afloramento de rocha e gelo perdido no meio da épica paisagem da região ocidental da península Antárctica. Sobre a ilha ergue-se o enorme glaciar Marr Ice Piedmont, ligado ao monte Français de 2.760m de altura. As águas azuis do mar de Bellingshausen encontram-se salpicadas de icebergues e raiadas de gelo marinho. Num dia límpido de Verão, toda a paisagem – água, gelo e rocha – refulge, cintilante. Em 23 dos últimos 30 anos, o ecologista Bill Fraser visitou a península Antárctica – um dedo de terra com 1.300 km que se prolonga na direcção da América do Sul. Fraser garante que a única coisa inalterada é a paisagem esplendorosa. Terra, mar, seres vivos, tudo o que existe neste canto da Antárctida está a mudar devido a um dos mais rápidos aquecimentos da Terra: ao longo dos últimos 30 anos, as temperaturas médias de Inverno subiram quase 5,5° C nesta região. A mais perceptível alteração tem sido o recuo do glaciar Marr. No entanto, aquilo que mais preocupa Fraser – que veio para a Antárctida em busca de aventura e solidão e para preparar um doutoramento em aves polares – é o efeito do aquecimento sobre os pinguins-de-adélia, objecto de trabalho da sua vida. Num dia de Janeiro, no pico do Verão antárctico, eu e Fraser trepámos a um promontório da ilha Biscoe para recensear uma colónia vizinha de pinguins, uma extensão de ninhos de seixos manchados de cor de tijolo avermelhada devido ao guano. Os pinguins entravam e saíam do oceano numa única fila, transportando krill (semelhante a camarões) para alimentar as centenas de curiosas crias pubescentes que tinham permanecido em terra. Há 20 anos, a ilha de Biscoe albergava 2.800 casais reprodutores de pinguins-de-adélia, uma das duas únicas espécies de pinguins polares residentes na Antárctida que depende do gelo (a outra é o pinguim-imperador). Actualmente, o número de casais de pinguins-de-adélia em Biscoe baixou para cerca de mil, reflectindo o declínio de 66% dos pinguins nas ilhas vizinhas,onde os números diminuíram de 32 mil casais para 11 mil ao longo de 30 anos. Como documentou o trabalho de Fraser, os pinguins em desaparecimento têm vindo a ser substituídos por pinguins-papua, uma espécie subantárctica que começou a migrar de climas mais temperados como as Malvinas, em direcção ao Pólo. No início da década de 1990, chegou a Biscoe uma dúzia de casais de pinguins-papua que, desde então, aumentou para 660 pares. “Isto é absolutamente inacreditável”, diz Fraser, que trabalha na Estação Palmer, uma estação de investigação dos EUA. “Antigamente esta região era totalmente ocupada por colónias de pinguins--de-adélia. Agora os pinguins-papua estão a usar os mesmos locais de nidificação. Acho que, em breve, deixarão de existir pinguins-de-adélia em Biscoe. Estas aves estão condenadas. Há um século, o meio ambiente era essencialmente polar”, acrescenta. “Esta região simbolizava a Antárctida. Agora, porém, este sistema subantárctico invadiu-a. Há 30 anos que observo este confronto e, em Palmer, o sistema polar tem vindo realmente a desintegrar-se. Admira-me ter demorado tão pouco tempo a acontecer. O aquecimento drástico desta região ocidental da península Antárctica deve-se à combinação do aumento das temperaturas globais e às mudanças regionais verificadas nas correntes oceânicas e atmosféricas. As temperaturas têm subido muito mais devagar no resto do planeta – uma média de 0,6° C ao longo do último século: mesmo assim, esta alteração relativamente pequena está a produzir efeitos em todo o mundo natural. Os estudos de Fraser sobre a península Antárctica fornecem pistas sobre a maneira como o aumento das temperaturas pode afectar profundamente os ecossistemas da Terra, onde animais, plantas e insectos já estão a adaptar--se à modificação moderada do clima, mudando os seus habitats, antecipando as datas de migração e alterando a época de acasalamento e de floração. Nas últimas décadas, em 35 espécies de borboletas não-migratórias da Europa, cerca de dois terços alargaram os seus territórios de 30 a 240km para norte. Na Europa, muitas plantas florescem cerca de uma semana mais cedo do que há 50 anos e, no Outono, as folhas caem cinco dias mais tarde. As aves britânicas reproduzem-se em média nove dias mais cedo do que em meados do século XX e as rãs acasalam aproximadamente sete semanas antes. Na América do Norte, as andorinhas migram para norte na Primavera 12 dias mais cedo do que há um quarto de século. No Canadá, as raposas estão a deslocar o seu habitat centenas de quilómetros em direcção ao Pólo, território das raposas do Árctico. As plantas alpinas estão a deslocar-se para altitudes mais elevadas e começam a expulsar as espécies raras que se encontram perto dos cumes das montanhas. Embora o clima da Terra sempre estivesse sujeito a variações naturais, com alterações entre frio e calor, a actual tendência de aquecimento preocupa os ecologistas por várias razões. É a primeira vez que os seres humanos parecem ser responsáveis pela aceleração das alterações e o aquecimento pode verificar-se tão rapidamente, que as espécies nem terão tempo para evitar a extinção. E uma vez que as diversas espécies reagem de maneira diferente às mudanças climáticas, os ciclos naturais dos animais interdependentes – como as aves e os insectos de que se alimentam – podem ficar perigosamente dessincronizados.

Fonte:N.G
 
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