• Olá Visitante, se gosta do forum e pretende contribuir com um donativo para auxiliar nos encargos financeiros inerentes ao alojamento desta plataforma, pode encontrar mais informações sobre os várias formas disponíveis para o fazer no seguinte tópico: leia mais... O seu contributo é importante! Obrigado.

Gulbenkian não celebra 25 anos do seu Centro de Arte Moderna

Satpa

GF Ouro
Membro Inactivo
Entrou
Set 24, 2006
Mensagens
9,473
Gostos Recebidos
1
Gulbenkian não celebra 25 anos do seu Centro de Arte Moderna

A 20 de Julho de 1983 o CAM abria com Amadeu de Souza-Cardoso.
Mas no fim da primeira década do século XXI, vive dias de indefinição


Quem hoje passar à porta do Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian (CAM) dificilmente notará seja o que for de extraordinário. Nenhuma inauguração, nenhum evento. Nada. Apenas as três exposições inauguradas há três dias. E, contudo, hoje é o dia do 25º aniversário daquele que já foi o mais importante - e, durante muito tempo, praticamente o único - espaço para a arte contemporânea em Portugal. Um espaço que marcou uma geração.

Um silêncio que contrasta com as celebrações dos 50 anos da fundação, em 2007, e que então esvaziaram o centro pela primeira vez em anos, motivando especulações sobre o futuro de um CAM que, nos últimos anos, tem tido dificuldade em encontrar o seu espaço num país muito bastante diferente daquele que o viu nascer.
Não têm faltado, no mundo da arte contemporânea, comentários sobre impasses e até conflitos internos. A existirem, são mantidos em surdina pela Fundação Gulbenkian, que nega qualquer crise. Teresa Gouveia, administradora responsável por este serviço, recusa a ideia de que a ausência de qualquer celebração seja um sinal de desinvestimento. "Pelo contrário, pois todos sabemos qual foi o papel do Centro de Arte Moderna e, neste momento, importa-nos melhorá-lo", explicou há apenas três dias ao PÚBLICO.
Mas que melhorias? Teresa Gouveia refere o anúncio, em Dezembro, da aquisição de terrenos do Parque de Santa Gertrudes para o projecto de requalificação e ampliação do edifício (ver texto ao lado). Na altura previa-se, contudo, o lançamento de um concurso internacional de arquitectura ainda no primeiro semestre de 2008, o que não aconteceu. A administradora desvaloriza o atraso, garantindo que "tudo está a seguir o seu curso": "Estamos ainda a fazer os levantamentos necessários em várias frentes. É um processo complexo, que não tem um calendário fixo e implica muito trabalho prévio no estabelecimento de um programa de arquitectura."
Daí defender: "Mais do que celebrarmo-nos a nós próprios, queremos é realizar a missão para que o CAM foi criado: divulgar a arte contemporânea." Nega, por outro lado, negociações em curso para a saída do fotógrafo Jorge Molder, à frente do CAM desde Junho de 1994.
Os próximos 25 anos
Sucessor do primeiro director do centro, o arquitecto José Sommer Ribeiro, que foi colaborador e amigo pessoal de José de Azeredo Perdigão, Jorge Molder não comenta também uma eventual saída. Diz apenas: "Não estou indissoluvelmente ligado à casa e já cá estou há muito tempo." Só que o CAM "tem problemas de financiamento que o impedem de desenvolver mais actividades", reconhece. "Faz parte de uma instituição muito grande, que faz coisas muito grandes em muitas áreas", pelo que "tem de se ver sempre o CAM em termos relativos".
Molder recua perante a ideia de um desinvestimento: "Não diria isso, diria que a Gulbenkian está a pensar transformar o CAM num museu que possa enfrentar os próximos 25 anos." De momento, explica, as orientações da fundação são para a ocupação da maior zona expositiva como exposições temporárias como Ficção vs Realidade, montada no fim do ano passado e dedicada à exploração dos cruzamentos entre as artes plásticas e o cinema. Ou como a mostra dedicada ao brasileiro Waltercio Caldas, inaugurada na quarta-feira ao lado de outra dedicada a uma jovem artista portuguesa - Susana Anágua - e de uma remontagem da colecção do CAM, um acervo com cerca de seis mil obras e que é a mais importante e representativa síntese da arte portuguesa da segunda metade do século XX.
Molder não responde, porém, se está satisfeito com esta estratégia ou com a lógica de funcionamento do CAM. "É uma resposta que não dou. Não me compete discutir indicações superiores."
O director do CAM aponta antes um aspecto positivo e um negativo do que tem sido a actividade recente do centro. O positivo: o Serviço Educativo, "menos visível para o grande público, mas fundamental num país onde não há formação [artística]". O negativo: a aposta em parcerias e circulações internacionais, que "infelizmente não têm sido tão desenvolvidas como eu gostaria".

Legado de Azeredo Perdigão

No fim da primeira década do século XXI parece pois distante a euforia que marcou a década de 1980 e grande parte da de 1990, anos marcados pelo discurso de Azeredo Perdigão na inauguração do CAM: "A arte - e Gulbenkian sabia-o muito bem - não é produto estável da criação do Homem; antes a história nos ensina que é uma actividade em constante evolução ou transformação e nisso está um dos motivos do seu grande interesse."
Nesse dia o centro abria com uma exposição dedicada a Amadeu de Souza-Cardoso e com a apresentação de duas tapeçarias e duas telas de Almada Negreiros, incluindo o Auto-retrato num grupo (1925) que estivera no café A Brasileira do Chiado, e a primeira montagem da colecção. Esta é composta por obras que começaram a ser adquiridas logo em 1957, com a criação da fundação e o assumir de que da sua missão fazia parte a divulgação da criação contemporânea.


20.07.2008, Vanessa Rato
Publico
 
Topo