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Festival Músicas do Mundo

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Festival Músicas do Mundo

Vento de Nortec

Por César Avó

Os instrumentos de teclas estiveram em destaque na heterogénea noite de sexta-feira do Músicas do Mundo, que começou numa espiral mística e terminou em pista de dança com os ritmos alucinados dos mexicanos Nortec Collective

Quem olha para o cartaz de um festival tende a valorizar o último espectáculo. A programação do Festival Músicas do Mundo (FMM) encarregou-se de subverter esse conceito há muito. Mais um exemplo foi dado na noite de sexta-feira. O rocker chinês Cui Jian fechava o palco do castelo mas foi um longo bocejo. O homem pode ter atitude e o grupo pode tocar bem – mas nada trouxe de novo. Saciada a curiosidade (seria como os UHF actuarem na China) nada mais resta.

Mais difícil de engolir o pequinês pelo facto de antes se ter assistido a duas prestações notáveis: Faiz Ali Faiz e KTU. Em todo o lado se afirma que Faiz é o herdeiro de Nusrat Fateh Ali Khan, o grande nome da música sufi. Esse tipo de afirmações deixa qualquer um de sobrolho carregado, mas o paquistanês é-o de facto: foi o tio de Nusrat, Rehmat Ali Khan, quem chamou Faiz para continuar o legado. A canção qâwwali não é menos do que uma experiência (religiosa para os muçulmanos, dos sentidos para os restantes). Assente no canto de Faiz, é acompanhado por sete músicos, que cantam, batem palmas, tocam harmónio e tabla (percussão indiana). O formato canção, como o entendemos, não existe propriamente: Faiz acelera, pausa, acelera, pára, retoma, e de repente a estrutura musical é outra, numa espiral sonora de intensidade única.

Seguiu-se um regresso. Ou três quartos de regresso. Desta feita os KTU apresentaram-se como trio. Liderados pelo acordeão e pelo canto iconoclasta de Kimmo Pohjonen, o baterista Pat Mastelotto e o guitarrista Trey Gunn não ficaram atrás e levaram o público numa viagem em que o rock industrial e a música progressiva (os dois americanos tocam nos King Crimson) são pontos de partida que atravessam fronteiras sonoras. Felizes pela actuação, não pouparam elogios (e ao mesmo tempo insultos) ao programador do festival, Carlos Seixas.

Já na Avenida da Praia, com uma mole humana a assistir, os norte-americanos Firewater deram o concerto onde-é-que-já-ouvi-isto-? Com uma voz a fazer lembrar M. Doughty dos extintos Soul Coughing, Tod A juntou a atitude punk (muito esbatida, diga-se) ao som dos Balcãs e do Médio Oriente. Considerados precursores de uns Gogol Bordello ou dos Beirut, os Firewater levaram o seu tempo a agarrar a multidão, mas no fim de contas passaram no teste.

Na Praia Vasco da Gama o nevoeiro caía, mas os espíritos não estavam para melancolias. Afinal, o melhor da madrugada estava para vir: os Nortec Collective. Como na noite anterior se tinha visto com Silvério Pessoa, que pegou no forró e o trouxe para a actualidade, estes mexicanos recuperaram o estilo norteño e misturaram-no com a electrónica: acordeão e trompetes com samplers. É como se os Kraftwerk fossem de Tijuana, um vento de nortada a que ninguém fica impassível. O colectivo, acompanhado de um VJ, levou a multidão ao descontrolo corporal com temas como Tijuana Sound Machine ou Shake It Up.

O FMM termina hoje com cartaz muito ecléctico, onde pontifica a maliana Rokia Traoré.

SOL
 
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