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Túmulo do século XIV que pouca gente do Porto conhece

xicca

GF Ouro
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A Sé do Porto é, se assim pode dizer-se, o livro aberto da história da igreja portucalense mas devemos também entender aquele majestoso templo como o espelho em que se reflectem alguns dos mais importantes factos históricos da própria cidade.

Pena é que a Catedral (e não Sé Catedral, como às vezes se escreve), que todos os dias é visitada por milhares de estrangeiros, não seja visitada por igual número de portuenses da maioria dos quais, não há que escondê-lo, ainda é muito pouco conhecida.

Das belas coisas da Sé do Porto, monumento de estrutura românica dos séculos XII e XIII, a capela gótica de S. João Evangelista, que um almoxarife real e juiz do mar, contemporâneo do rei D. Dinis, de nome João Gordo, mandou fazer, merece uma atenta e demorada visita. Nela se guarda a arca tumular em que aquele contemporâneo do rei poeta e lavrador mandou fazer para nela dormir o sono eterno.

Trata-se de uma obra do século XIV, lavrada em pedra de Ançã, que muito poucos portuenses conhecem. A sua localização é fácil: para quem estiver no amplo Terreiro da Sé, de frente para a catedral, a capela de S. João Evangelista fica no interior do ângulo sul da Casa do Cabido, local que, do exterior, pode ser facilmente identificado com a localização de uma estreita fresta por onde se insinua no interior a luz do sol - quando o astro rei calha de brilhar sobre a cidade…

Actualmente, o acesso à capela faz-se através do claustro gótico, cuja construção se iniciou em 1385, por iniciativa do bispo D. João III. A arca tumular, bastante maltratada pelas iras do tempo e pelo desleixo dos homens, assenta sobre o dorso de quatro leões. Na pedra que cobre o sarcófago estende-se a estátua jacente de um guerreiro que veste o hábito e o manto dos cavaleiros de Malta, cuja cruz é visível à altura do peito, do lado esquerdo. Esta figura do guerreiro é, sem sombra de dúvida, das mais belas expressões plásticas de estátuas jacentes do rico património tumular existente na cidade. Nas três faces visíveis da arca sepulcral, esculpidas em alto relevo, estão representadas cenas ligadas à vida de Cristo e de Maria. Assim, na face principal, podemos apreciar a Última Ceia; na testeira inferior, o Calvário; e na cabeceira a Coroação da Virgem Maria.

Durante muitos anos a capela de S. João Evangelista foi erradamente designada por Capela de S. Martinho e do túmulo lá colocado dizia-se que guardava os restos mortais de um tal Martins Mendes, cónego e Mestre Escola da Sé. Ouve, inclusive, quem tivesse chegado a admitir que fora aquela capela que servira de primeira sede à Santa Casa da Misericórdia do Porto, logo após a sua fundação em 1499.

Tudo errado. E quem repôs a verdade dos factos foi o dr. Artur de Magalhães Basto quando, nos meados dos anos trinta do século passado andava no arquivo da Santa Casa à procura de elementos que o iriam ajudar a escrever a "História da Santa Casa da Misericórdia" , obra imprescindível a quem queira saber mais sobre a história do Porto.

E que descobriu Magalhães Basto ? Primeiro, descobriu que a capela que serviu de primeira sede à Santa Casa da Misericórdia foi a capela de Santiago que ficava num espaço conhecido pelo Claustro Velho, que ao longo dos tempos sofreu muita alterações e hoje está transformado num estaleiro por causa das obras de recuperação que decorrem em dependências anexas à Catedral e ao próprio Paço Episcopal. Segundo informa aquele ilustre investigador, a capela de Santiago tinha a porta principal voltada para aquele claustro.

Quanto a João Gordo, o mesmo historiador informa-nos de que viveu, efectivamente, no Porto, um individuo de nome João Gordo que foi almoxarife do rei D. Dinis, "cargo que abandonou quando era já vedro (velho) e fraco", vindo a morrer de avançada idade no dia 10 de Dezembro de 133.

É por demais evidente que se trata do mesmo João Gordo, cavaleiro de Malta, que foi sepultado no artístico sarcófago existente na capela de S. João Evangelista. Acontece ainda que no século XVI eram ainda os descendentes de João Gordo que pagavam a um capelão para dizer a missa no altar de S. João.



JN
 
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