Ermesinde: Trio assaltou e matou a tiro taxista do Porto
Corrida fatal começou de madrugada, na estação da CP de Ermesinde (Valongo), e terminou com o abandono do veículo e do corpo na Rua das Carvalheiras, Rio
Um taxista foi morto a tiro, este domingo, tendo o corpo sido encontrado, no interior do veículo, em Rio Tinto (Gondomar). A última corrida de Jorge Cruz, de 39 anos, começou em Ermesinde, cerca das 2 horas. Já há dois anos havia sido assaltado e o seu carro incendiado.
Na postura da estação de Ermesinde encontravam-se quatro ou cinco táxis e Jorge Cruz, natural do Porto, da zona da Corujeira, era o penúltimo. Três homens, de aparência jovem e, pelo menos um deles, com cabelo pintado, abordaram alguns dos motoristas, para os transportar.
"Eu estava a chegar à postura e vi-os a entrar para o carro do Jorge. Eu não os teria levado. Tinham um ar suspeito. Aliás, apercebi-me imediatamente de que os colegas à frente tinham arrancado, o que era sinal de que também tinham desconfiado dos indivíduos, que aparentavam ter 25 anos. O Jorge devia estar distraído ou eles não lhe inspiraram desconfiança", relatou ao JN um dos motoristas que se encontrava na postura.
Cerca de uma hora depois, os colegas de Jorge Cruz começaram a tentar contactá-lo pelo telemóvel. "Tocava mas ninguém atendia. Ligámos para o telemóvel do táxi mas estava desligado. Foi então que tomei a iniciativa de ligar para os familiares e, às 6 horas, soubemos que ele tinha aparecido morto, na zona das Areias, em Gondomar", recordou o taxista.
A viatura estava dotada do dispositivo Táxi Seguro, que permite a localização do veículo através do GPS, estando ligado à PSP, mas o sistema não foi accionado. O Mercedes foi encontrado na Rua das Carvalheiras, em Rio Tinto, e o taxímetro marcava oito euros. Jorge Cruz encontrava-se ao volante, com um tiro que lhe terá entrado pelas costas, sobre o lado direito. O irmão, Manuel Jorge Castro, que dividia a condução do táxi (pertencente ao pai) contou que Jorge Cruz "nem 70 euros teria na altura do assalto. E, no meio das pernas, ainda estava uma nota de 50 euros".
"O meu irmão ficou desempregado e começou a conduzir o táxi há três anos. Já tinha sido assaltado em 2006 [ver caixilho] e não era homem para reagir. Não sei o que se terá passado", afirmou Manuel Jorge Castro.
Na Rua das Carvalheiras, na zona das Areias, ninguém se apercebeu do que se passou e não há testemunhas do crime. "Acordei cerca das 6 horas e vi as luzes a entrarem-me pela casa dentro. Até perguntei ao meu marido se tinha deixado a televisão ligada. Era o INEM parado à porta" contou, ao JN, uma moradora. Quando o casal saiu à rua deparou-se com muita polícia e a rua cortada, com fitas da Polícia Judiciária.
"Olhe, eram só polícias e taxistas. Esteve aí o irmão do motorista que morreu e até lhe dei um copo de água, mas a Polícia não o deixou aproximar-se do carro", referiu a moradora. Durante a manhã muitos foram os curiosos que acorreram ao local. Além dos familiares da vítima, muitos taxistas foram ver onde terminou a última corrida de Jorge Cruz.
A Polícia Judiciária do Porto, que irá investigar o homicídio, já interrogou os taxistas que se encontravam na postura de Ermesinde e está a proceder a um exame exaustivo do veículo. Não há suspeitos detidos.
Assaltado há dois anos
Jorge Cruz já havia sido assaltado, há dois anos, e escapou da morte por um triz. Tudo aconteceu na noite de 23 de Julho de 2006 e também num serviço a partir da estação de Ermesinde. Um homem entrou no carro e, pouco depois, empunhou uma arma e disparou. "Ele teve muita sorte, pois a bala passou-lhe mesmo à frente da cara. O assaltante ainda tentou efectuar um segundo disparo, mas a arma encravou e foi isso que, na altura, salvou o Jorge", recordou um colega.
O assaltante acabou por consumar o roubo, levando todo o dinheiro e documentação pessoal de Jorge Cruz e fugindo no táxi, que era também um Mercedes.
A viatura foi encontrada queimada, cerca de duas horas depois do assalto, no recinto da antiga feira de Ermesinde. O assaltante foi capturado e condenado a sete anos de prisão. "O advogado dele ainda recorreu da decisão, mas o tribunal foi inflexível e manteve a sentença", relatou o nosso interlocutor. No entanto, este taxista descartou a hipótese de ter havido qualquer premeditação no assassínio de Jorge Cruz. "Eles queriam era assaltar alguém e ele foi o único que os aceitou no táxi", concluiu.
JN
28.07.08