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Viagem ao fundo do Baikal
Como num livro de Júlio Verne, cientistas russos realizaram hoje o mergulho submarino mais profundo de que se tem notícia em água doce. E descobriram que o lago Baikal, na Sibéria, é ainda mais fundo do que se imaginava. Teria 1.680 metros em vez dos 1.637 metros registrados anteriormente. Esta é uma das primeiras descobertas da missão científica que pretende revelar pelo menos uma parte dos muitos mistérios que envolvem o maior lago da Ásia e o mais profundo do Planeta. Acredita-se que o Baikal tenha 25 milhões de anos. Dos 2.600 animais e plantas encontrados no lago, cerca de dois terços não existem em nenhum outro lugar. Estima-se que pouco mais de um quinto de toda a água doce do Planeta esteja no Baikal.
A missão científica durará dois anos, e esta primeira fase deve ser concluída em meados de setembro, quando os dois mini-submarinos devem completar uma série de 60 mergulhos. A equipe deve coletar amostras de diferentes profundidades e dar continuidade às pesquisas iniciadas há 30 anos, ainda durante a existência da União Soviética. Os cientistas acreditam que os resultados desta expedição vão ajudá-los criar condições melhores de proteger o ecossistema do Baikal. Existe também a possibilidade de se encontrarem reservas de petróleo e gás sob o leito do lago - razão suficiente para deixar os grupos ambientalistas já de orelha em pé.
A expedição ao Baikal acontece quase um ano depois da missão ao Ártico que fincou a bandeira da Rússia no fundo do mar do Pólo Norte e provocou alvoroço no país e no exterior. A aventura deixou muita gente com sensação de déjà vu diante das imagens de cientistas que, da mesma forma como disputavam a conquista do cosmos nos tempos da Guerra Fria, desencadeariam agora uma corrida submarina.
Os integrantes da equipe que foi explorar o Ártico viraram verdadeiros heróis da Rússia. Logo depois que voltaram para casa, em agosto de 2007, espalharam faixas celebrando o feito por toda a cidade. Até calendário havia, tipo santinho de campanha eleitoral, para farta distribuição. As novas celebridades passaram meses dando entrevistas a jornais, rádios e televisões. Por sinal, o líder do grupo, o explorador especialista em Pólo Norte e parlamentar Artur Chilingarov também é o responsável pela expedição ao Baikal. E os submarinos são os mesmos usados no Ártico.
O lago tem estado em evidência nos últimos anos em função das mudanças de última hora na rota de um oleoduto que deve passar ali perto. A segunda fase da missão, no ano que vem, prevê 100 novos mergulhos. O Baikal foi declarado Patrimônio da Humanidade pela Unesco em 1996.
Globo Online
31.07.08