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O céu ganhou uma estrela solidariamente brilhante

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O funeral de Nuno Viegas Nascimento juntou figuras públicas e anónimas. A Igreja de S. Jo
Há momentos na vida que são difíceis de expressar em palavras. Tal como disse, ontem, Almeida Santos, «as lágrimas seriam mais eloquentes». Certo de que tudo o que se diga não passam de mil palavras, a verdade é que há muito para dizer. A vida e a obra de Nuno Viegas Nascimento assim o exigem. Marcou uma época. De prosperidade para a Fundação Bissaya Barreto (FBB), cujos interesses defendeu com determinação ao longo de 27 anos. Homem de ideias, que muitos dizem avançadas para o seu tempo, deixou um cunho solidário na já de si solidária Fundação. O seu patrono já assim o era.
Dinâmico e empreendedor colocou um espírito filantropo em todas as suas acções. Visto como um «grande e exemplar homem», Nuno Viegas Nascimento nunca fugiu à frontalidade. Nem todos gostavam, mas um líder, como ele era, tem de a ter. Para o bem e para o mal. Uma virtude de carácter para a qual nem todos recebem genes. Também por isso, nem todos assumem lideranças. Ontem, na hora da despedida, que para Almeida Santos não passou de «um até já», não houve diferenças de opinião. Na Igreja de S. José, não cabia mais ninguém. Nem sentado, nem de pé.
A saída da Casa Museu Miguel Torga, onde o corpo do malogrado presidente do Conselho de Administração da FBB foi velado, foi acompanhada por os que lhe estavam mais próximos e por um carro funerário onde não cabia nem mais um ramo de flores. Volvidos escassos minutos, na chegada à igreja, o panorama alterou-se profundamente. Foram muitos os que associaram ao momento de dor. Todos se esforçaram por conter as lágrimas, mas houve quem se deixasse vencer pela certeza da perda de uma «figura ímpar».
Na primeira fila, a mulher, ladeada pelos dois filhos menores e pela filha mais velha de Nuno Viegas Nascimento, ouviram João Castelhano, pároco de S. José, lembrar que «a morte deixa-nos inquietos e frágeis», antes de frisar que «quem tem medo de morrer teve, provavelmente, medo de viver». «Marcou e bem a história da sua Fundação e elevou-a ao patamar mais elevado», destacou o padre, em referência ao falecido, perante uma “plateia” onde, por exemplo, não faltaram estudantes, devidamente trajados, do Instituto Superior Bissaya Barreto e muitas figuras conhecidas da nossa cidade e região.
«Amigo» de Maria, filha de Nuno Viegas Nascimento, o padre Carlos Carneiro dirigiu a cerimónia. «Aqui, não se trata de fazer o elogio fúnebre, porque seria pouco, seria até uma traição», referiu o pároco, que, quase de seguida, afirmou: «A morte não é uma fatalidade, faz parte da vida, porque viver é morrer em cada dia». «Não prestamos homenagem ao benemérito, ao mecenas, ao sonhador, mas vamos mais longe, ao drama interior de um homem que na sua doença, inclusive, foi capaz de brincar com a morte. Porquê? Porque aprendeu a ser sério com a vida. Olhemos para os amigos que fez no hospital», concluiu.
Maria Viegas Nascimento, a filha, também subiu ao altar. Para ler um pequeno, mas marcante, excerto do romance “Para Sempre”, publicado, em 1983, por Vergílio Ferreira. «O que me existes neste instante, não é decerto o que foste. O que me existes é o que em mim te faz existir. Vou fazer-te existir na intensidade absoluta da beleza, na eternidade do teu sorriso. Vou fazer-te existir na realidade da minha palavra. Da minha imaginação». Há, de facto, palavras que valem mil imagens…
Depois de cremado no novo complexo funerário da Figueira da Foz, Nuno Viegas Nascimento, 56 anos, descansa em paz em jazigo de família no Cemitério Oriental, na cidade onde nasceu. Ontem, deve ter eternizado mais um sorriso. Afinal, foram muitos os amigos presentes. Partiu com o sentimento de missão (quase) cumprida. Muitos lhe agradecem e outros tantos já sentem a sua falta. Mas os homens bons não partem, apenas viajam para outro destino. O mundo em que vivemos perdeu um homem bondoso e generoso. O céu ganhou uma estrela solidariamente brilhante.
 
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