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Alga e peixes exóticos na Madeira

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Ambiente
Alga e peixes exóticos na Madeira

Consequências do aquecimento global: primeiro foram peixes de águas quentes. Depois, o mosquito do dengue. Agora uma alga tóxica.

Sara Moura

Depois do aparecimento do mosquito transmissor do vírus do dengue e da febre amarela, oriundo do Norte de África, Portugal dá agora as boas-vindas a mais um imigrante indesejável: uma microalga tóxica, típica de águas quentes, que envenena os mares.

Esta é talvez a face mais visível do efeito do aquecimento global, com a chegada ao arquipélago da Madeira de novas espécies transmissoras de doenças tropicais, e que poderá levar a uma alteração do plano de vacinas. A Madeira funciona como um monitor das alterações climáticas, por ser um ecossistema pequeno e isolado, permitindo aos investigadores antever os efeitos que terão na Europa.

Naquele laboratório, a população madeirense já sente na pele os impactos do aquecimento global. Há três anos, o "aedus aegiptus", que passou a ser conhecido por 'mosquito de Santa Luzia', nome da freguesia onde foi detectado pela primeira vez, mandou centenas de pessoas para o hospital e obrigou à intervenção das autoridades sanitárias. Foi criada uma linha verde para a população, pedida ajuda a países africanos com "know-how", gastos milhares de euros em desinfestação e medidas preventivas, mas sem resultado.

O mosquito encontrou condições de sobrevivência e de proliferação, transformando-se numa praga que causa nas vítimas uma erupção cutânea que sai dos padrões normais da picada de insectos. Os estudos são conclusivos: uma vez introduzido, o mosquito jamais poderá ser erradicado, apenas controlado. Por isso, a par da acção de empresas especializadas no combate a pragas, verifica-se uma corrida às farmácias para compra de repelente de insectos e medicação para o tratamento de picadas.

A prazo, o cenário poderá não se ficar pela erupção cutânea. Numa região turística como a Madeira e com forte imigração de países sul-americanos e africanos, doenças como a febre amarela ou o dengue podem ser facilmente introduzidas com a agravante de neste momento haver o transmissor, 'o mosquito de Santa Luzia'.

Isto pode obrigar a uma alteração do plano de vacinação nacional, segundo o bastonário da Ordem dos Biólogos e ex-director regional do Ambiente, Domingos Abreu. "O plano de vacinação tem que ser adaptado se, no futuro, a Madeira for abrigo para elementos indutores de doenças tropicais", disse o biólogo.

E se em terra se assiste à 'tropicalização', no mar o cenário não é muito diferente. No início do mês passado, a tripulação do 'Pepe Cumbera', que pescava nas ilhas Selvagens, teve que regressar de urgência a terra, porque os homens a bordo ficaram doentes e tiveram que ser assistidos no hospital. Os sintomas apresentados levaram as autoridades locais a concluir que se tratou de um caso de contaminação por uma microalga tóxica, típica de mares quentes. A pesca foi proibida e estão a ser analisadas amostras de água e pescado.

Este não é o único sintoma do aumento da temperatura das águas no Atlântico. Nos últimos 10 anos, a Estação de Biologia Marinha do Funchal assinalou uma dezena de peixes e crustáceos. "Os novos assinalamentos no arquipélago estão relacionados com o fenómeno do aquecimento das águas do mar", disse a directora da Estação de Biologia, Mafalda Freitas.

Tudo isto não surpreende o presidente da Quercus, Hélder Spínola, para quem as alterações climáticas não são ficção científica. "A subida das temperaturas influencia a distribuição das espécies".




AS ESPÉCIES QUE JÁ CHEGARAM À REGIÃO




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GNATHOPELIS THOMPSONI Registado pela primeira vez na Madeira em 2002, constitui o assinalamento mais a Norte no Oceano Atlântico Oriental desta espécie de peixe. O pequeno caboz, que atinge os 7,5 cm, pode ser encontrado em áreas de distribuição como as Bermudas, as Bahamas, a costa Norte da América do Sul, as ilhas de Ascensão e Santa Helena, São Tomé, Cabo Verde e Canárias.


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ALUTERUS SCRIPTUS Originário de zonas tropicais e subtropicais do Pacífico e do Índico, foi assinalado em 2002, nas ilhas Selvagens, pertencentes ao arquipélago da Madeira. A espécie, que pode atingir um comprimento máximo de 1,10 metros e 2,5 kg de peso, foi assinalada do Golfo do México ao Brasil. Pode ser encontrada também em Marrocos, nas Canárias, Cabo Verde, São Tomé, Ilha da Ascensão e na África do Sul.


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ABUDEFDUT SAXATILIS Típico de mares tropicais e subtropicais, esta espécie foi registada pela primeira vez na costa sul da Madeira em 2004. Foi o assinalamento mais a Norte no Oceano Atlântico Ocidental, reforçando os indícios do aumento da temperatura média das águas. A espécie, rara nas Canárias e na Madeira, é abundante nas Bermudas, na ilha de Rhodes, no Uruguai, no Golfo do México, nas Antilhas, nas Bahamas e nos Recifes do Caribe, podendo ser ainda avistada nas ilhas de Cabo Verde.


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AEDUS AEGIPTUS O mosquito afrotropical, transmissor do vírus da febre amarela e do dengue, apareceu em 2005 na ilha da Madeira onde conseguiu encontrar condições de sobrevivência e de aumento da população, apesar das acções de extermínio encetadas pelas autoridades locais. A espécie distribui-se pela África e pela América do Sul e agora na ilha da Madeira, sendo popularmente designada por 'mosquito de Santa Luzia', nome da freguesia onde foi inicialmente detectada.


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GAMBIERDISCUS TOXICUS Microalga tóxica típica de mares tropicais, foi descoberta na Gâmbia e distribui-se pelos mares das Caraíbas, Hawai e Bahamas. Produz uma toxina que entra na cadeia alimentar, primeiro pelos peixes herbívoros, passando pelos carnívoros até chegar à mesa do consumidor. Uma vez que os peixes são apenas portadores, é nos humanos que se fazem sentir os efeitos indesejados: vómitos, diarreia, problemas circulatórios que, em casos extremos, podem levar à morte. O aparecimento da alga nas ilhas Selvagens no mês passado é quase uma certeza, por isso foi proibida a pesca na área.

Expresso
 
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