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Os Mais Cruéis dos Carrascos: os Caçadores de Bruxas

xatux

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Set 30, 2007
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A mania da caça às bruxas que convulsionou a Europa Ocidental durante os séculos XV, XVI e XVII pode não ter revelado a existência de demónios sobrenaturais, mas deu efectivamente origem a uma extraordinria quantidade de monstros humanos: os caçadores de bruxas, uma irmandade patologicamente obcecada pela justiça, que se devotou a descobrir suspeitas servas do Diabo. A biblia destes macabros assassinos era o infame ''Malleus Maleficarum'' (Martelo de Bruxas), um livro escrito por dois fanáticos sacerdotes dominicanos e publicado em 1486. Para os autores da obra, nenhum estratagema era demasiado ínvio, nenhuma tortura demasiado desumana para ser usada a fim de obter confissões. Qualquer atitude, quer de cepticismo, quer de moderação, era rejeitada. Não acreditar em bruxaria, assim rezava o lema do livro, era a maior das heresias.

Um dos mais famosos dos discípulos do Malleus foi o advogado-filósofo francês Jean Bodin (1529-1596). Possivelmente o primeiro a formular uma definição legal de bruxa – alguém que, conhecendo as leis de Deus, tenta realizar algum acto com o acordo do Diabo –, Bodin era odiosamente eficiente na sua acusação de bruxas suspeitas. Torturava pessoalmente crianças e inválidos com o objectivo de extrair confissões e proclamava que a morte pelo Fogo das bruxas condenadas era demasiado rápida – não excedia meia hora. Em 1580, quase no fim da sua vida, Bodin escreveu o seu próprio livro, ''Demonomania''. Mais severo e mais insidiosamente circunstancial que o próprio ''Malleus'', foi bem recebido e largamente lido.

Nicolas Remy, inquisidor da Lorena, contemporâneo de Bodin, se não se lhe igualava intelectualmente, equiparava-se-lhe por certo nas perseguições que movia as bruxas. Durante 15 anos de julgamentos de casos de bruxaria, Remy foi responsável pela execução de aproximadamente 900 pessoas. Quando o seu filho mais velho morreu, em 1582, Remy inevitavelmente suspeitou de bruxaria, acusando e condenando mais tarde um pedinte a quem recusara esmola pouco antes da morte do filho. Como Remy explicou: As bruxas recorrem a um processo extremamente traiçoeiro para aplicarem o seu veneno, pois com as mãos sujas dele agarram-se ao vestuário de um homem como se fossem para interceder junto dele e instar para que atenda aos seus pedidos. Tal como Bodin, Remy reformou-se como homem honrado e escreveu um livro sobre as suas experiências. O principal desgosto da sua vida, confessou, foi não ter morto mais filhos de bruxas.

O caçador de bruxas que de longe causou maior morticínio foi Peter Binsfeld, instruído pelos Jesutas, bispo sufragéneo de Trier, Alemanha, que viveu nos finais do século XVI. Consta que Binsfeld, incansável perseguidor de bruxas, segundo o qual uma tortura ligeira não significava qualquer tortura, foi responsável pelas mortes de 6500 homens, mulheres e crianças. O seu Tratado sobre Confissões de Bruxos e Praticantes de Malefícios foi considerado por muitos dos seus contemporâneos como sendo uma das maiores obras legais da época. Poucas vozes se ergueram em oposição à prática sangrenta da caça às bruxas. Quando o erudito holandês Cornelius Loos, horrorizado pela enormidade dos assassínios judicialmente sancionados de Binsfeld, tentou protestar em nome da Humanidade, foi condenado e obrigado a retractar-se publicamente.

O facto de a maioria dos caçadores de bruxas acreditar sinceramente na rectidão dos seus procedimentos criminosos não torna actualmente menos horrorosos os seus métodos desumanos, lógica perversa e preconceitos extremistas. Henri Boguet (1550- 1619), advogado francês a quem se atribui o extermínio de cerca de 600 bruxas, foi, por exemplo, capaz de ajudar a condenar uma piedosa suspeita com base em que o crucifixo que ela usava no terço apresentava um minúsculo defeito – indício claro, segundo Boguet, de que ela estava associada com o Diabo.

Pierre de Lancre, caçador oficial de bruxas na região basca durante o reinado de Henrique IV de França, era igualmente hábil em detectar qualquer presença satânica. Por razões obscuras, mas que parecem ter tido mórbidas implicações sexuais, De Lancre convenceu-se de que todos os 30 000 habitantes (incluindo os padres) do distrito de Labourd eram bruxos. Quando as conclusões de De Lancre foram divulgadas, milhares de pessoas abandonaram os seus lares, algumas das quais emigraram mesmo para a Terra Nova, para escaparem a inevitável conflagração. No espaço de quatro meses, De Lancre queimou cerca de 600 das pessoas que restavam, após o que regressou triunfantemente a Paris para ser feito conselheiro de Estado pelo grato rei Henrique.

Contrariamente a alguns dos seus correligionários, o caçador de bruxas inglês Matthew Hopkins, cuja época áurea não se prolongou para além de um período relativamente breve na década de 1640, conseguiu matar apenas algumas centenas de pessoas. Além do mais, e devido a um decreto parlamentar, foi obrigado a renunciar ao método a que inicialmente recorrera para identificar bruxas – lançar as suspeitas, amarradas, para um lago ou rio, a fim de verificar se flutuavam, caso em que eram consideradas culpadas.

 
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