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Chumbar é mais raro, mas alunos podem não saber mais

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Especialistas dizem que carga burocrática para reter um aluno é «muito grande»

As taxas de retenção nos ensinos básico e secundário baixaram, mas especialistas duvidam que os alunos saibam mais. Chumbar é tarefa cada vez mais difícil para os professores, numa escola que dizem ser pouco interessante e exigente, noticia a Lusa.
«A carga burocrática quando se pretende reter um aluno, sobretudo no ensino básico, é muito grande e maior do que era há uns anos atrás. Não nos atirem areia para os olhos porque estes resultados não significam uma melhoria real das aprendizagens», assegura o presidente da Associação de Professores de Português (APP), Paulo Feytor Pinto.

Em declarações à Lusa, também o director do Centro de Investigação em Educação (CIED) da Universidade do Minho, José Pacheco, refere que a descida do insucesso escolar tem sido operada, nos últimos anos, por mudanças ao nível da avaliação, tendo-se transformado o chumbo de um aluno «num processo complexo e burocrático» para os docentes.

«As elevadas taxas de retenção que se registavam há uns anos atrás eram incomportáveis para qualquer Governo, por causa da comparação dos resultados a nível internacional. Agora reter um aluno é um processo difícil, o que faz com que, estatisticamente, haja uma diminuição significativa dos chumbos. Só resta saber até que ponto isso corresponde a uma melhoria das aprendizagens», afirma o investigador.

Segundo dados divulgados hoje pelo Ministério da Educação, a taxa de chumbos no ensino básico e secundário atingiu este ano o valor mais baixo da última década, com a maior diminuição a registar-se no terceiro ciclo.

A melhoria global dos resultados confirma, assim, uma tendência registada desde o final da década de 1990, altura em que os chumbos chegavam a ser o dobro do que agora, nomeadamente na antiga primária.

Falta de preparação para «pensar»

Para o especialista em História da Educação Jorge Ramos do Ó, esta evolução é normal e expectável, tendo em conta o objectivo do sistema educativo nos últimos 30 anos: «Escolarizar toda a população, de forma universal».

«Os níveis de exigência estabelecem-se de acordo com os objectivos esperados por parte do Estado e o objectivo actual é que toda a gente termine o seu percurso escolar. As competências e os objectivos esperados para cada ano de escolaridade passam a ser definidos em função de toda a população de uma determinada faixa etária e não em função de uma elite de meninos. É o esforço que o Estado faz para excluir cada vez menos pessoas», explica.

«O que é dramático», alerta Ramos do Ó, «é que o Estado confunde a relação ensino-aprendizagem com a mera reprodução de conteúdos nos exames», que não certificam o que os alunos verdadeiramente sabem ou são capazes de fazer, mas apenas «a sua capacidade de papagueamento da matéria».

«Há alunos que terminam o ensino secundário com média de 19 ou 20 valores, mas que chegam à universidade e não conseguem problematizar. Não estão preparados para pensar», lamenta o especialista e professor da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Lisboa.

O presidente da Associação de Professores de Português corrobora: «Em Portugal não se avalia a competência de leitura dos alunos, mas a sua capacidade de reproduzir o que ouviram o professor dizer sobre um determinado texto, mesmo que eles próprios nunca o tenham lido».

Entre o objectivo de todos escolarizar e a pressão das comparações de resultados a nível internacional, os especialistas lamentam que a qualidade do ensino seja medida apenas pelas estatísticas.

«Com mais ou menos sucesso, não penso que a escola actual seja motivadora e interessante», confessa Jorge Ramos do Ó.


IOL
 
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